(IN) DECORO PARLAMENTAR

Como brasileiro, tento entender o que se passa na cabeça de tão nobres representantes da sociedade brasileira. Por que será que os parlamentares se julgam tão superiores, acima de tudo e todos quando se reúnem para decidirem por atitudes que os beneficiem em detrimento do resto do País. Cada vez que olho para meu título de eleitor e me recordo que o utilizei para votar em pessoas que eu julgava que fossem dar o melhor de sí para o bem do povo e da Nação, reluto na vontade de rasgá-lo, e sinto náuseas quando vejo estampado nele a imagem de Deputados, Senadores e seus comparsas a se engalfinharem em disputas políticas por poder, preocupados que estão em quem vai presidir a Câmara dos Deputados, como se isso fosse de interesse do povo brasileiro.
Enquanto isso os dias se arrastam e nada de interessante é votado. Passam-se os meses e estes ilustres senhores ocupam-se e preocupam-se apenas com mediocridades infames capazes de nos causar nojo. As CPIs se sucedem e se arrastam, ocupando o tempo que deveria ser aproveitado para que se fosse produzido algo substancial e produtivo em prol da Nação.
Cada um com um salário astronômico e suas vantagens escondidas nada fazem nos semestres, enquanto o trabalhador assalariado e que paga imposto, fica a mercê de necessidades como por exemplo melhorias na segurança, na saúde e no ensino. Ah! E quando chega o meio do ano, estes cansados senhores improdutivos entram em recesso, afinal ninguém é de ferro, e eles necessitam de descanso. Mas e as leis, os projetos que deixaram de ser votados? Eles não podem gozar férias e deixar tudo de lado, então, num “gesto patriótico” e “voluntário”, digno de “elogio” eles se reúnem enfim para tomar as decisões que deixaram de tomar em um semestre inteirinho. Reúnem-se e o fazem, mas eles precisam de um incentivo, afinal estão sacrificando as suas férias. Daí, decidem que merecem uma remuneração extra por tal gesto. E lá se vai o dinheiro do nosso bolso custear o “trabalho extra” destes ilustres senhores.
Ao ver nos noticiários o caos em que se encontra a segurança, a saúde e a educação da população, fico indignado porque sei que os recursos que são utilizados para pagar salários milionários para estes senhores amenizariam consideravelmente esta situação. Mas eles estão pouco se importando com isso. Eles têm segurança própria, excelente educação para seus filhos, além de planos de saúdes exclusivos e diferenciados. Vê lá se vão se importar com o povo!
Estes megalômanos e mesquinhos srs. oriundos das castas populares e com sede de poder deveriam num lapso de lucidez, descerem do seu pedestal e recordarem-se que eles lá estão porque para lá foram conduzidos pelo voto popular. Voto do mesmo povo que agora traem com suas ações corruptas, inescrupulosas e criminosas. Deveriam olhar em volta e ver que existem milhares de cidadãos a mercê da violência, com filhos fora das escolas, empilhados nos chãos dos hospitais públicos ou a espera de um pão que poderia ser comprado com a verba que eles subtraem de maneira covarde. Se os nobres políticos tivessem o mínimo de decência, numa atitude honesta e louvável abririam mão até de seus vencimentos em prol do bem estar dos menos favorecidos, afinal política não deveria ser emprego e sim um sacerdócio, um idealismo.
Depois de anos sendo enganado por estes ilustres senhores com seus sorrisos fabricados e suas promessas vãs, finalmente me conscientizei de que não vale a pena utilizar meu título para eleger mais nenhum deles porque ao ver os srs. Deputados e Senadores com suas atitudes nada patrióticas eu me envergonho de ser um brasileiro.

* Esta crônica está no livro "Ponto de Vista" a ser lançado brevemente com artigos, contos e crônicas. É proibida a cópia ou a reprodução sem a minha autorização. Visite meu site: www.ramos.prosaeverso.net  
Valdir Barreto Ramos
Enviado por Valdir Barreto Ramos em 03/06/2007
Reeditado em 17/10/2009
Código do texto: T512409
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2007. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.