Vou-me embora pra "Redinha"...
É pra lá que estou indo agora; para o Bar e Restaurante “Casa Azul”, da dona Cilândria! -- Cilândria com circunflexo no “a” para não ficar Cilandria, me diz sorrindo a dona do “Azul da Cor do Mar”. Como é doce e lindo e bom ir à Redinha nas segundas, quando não há quase ninguém por lá; quando só alguns velhos pescadores recordam distantes tempos “pilotando” suas jangadas nas ondas verdes dos mares.
“Me acompanha” um plangente violão, apto para qualquer emergência! Chego e fico debaixo da ponte recém-construída que atravessa o “Potengi”, de mãos dadas com os grandes ventos lavados de areia e de espuma, ventos que não se cansam de soprar desgarradas nuvens que passam ligeiras, soltas dos braços da minha santa preferida, Yemanjá, parindo peixes.
Paro e fico olhando aquilo tudo -- pálido de espanto, como ficava o “Olavo”, olhando suas estrelas. Depois vou chegando devagarinho, subo uma escadinha branca e encontro dona Cilândria, quase dormindo, quase sonhando, ouvindo a “Tânia Alves” cantando lindas melodias, daquelas muito bem antigas.
Peço licença, e dona Cilândria – feito São Pedro à Irene do Manuel Bandeira: – “você não precisa pedir licença”. Sento quase deitado numa velha cadeira de balanço e vou puxando conversa, mais ouvindo que falando. Gosto de ouvir pessoas humildes conversando, falando, contando suas lendas, suas histórias, suas vidas.
Escrito na parede, o cardápio:- - Porco, carneiro, galinha caipira, peixe assado na macaxeira, carne de sol, “ginga” na tapioca. Peço uma “Guaiuba” no capricho. -- Tem de cinco e tem de dez “real”. -- Veja uma de dez, dona Cilândria. – Traga também uma dose bem cheia da sua festejada batida de Pitanga!
Eis que, como num sonho, chega Mariazinha, afilhada da Cilândria, que entra toda faceira imitando a Tânia Alves. -- Que linda “voz” a Mariazinha tem! -- Não resisto a tantos sonhos reunidos, peço outra dose, mais outra, crio coragem, pego meu violão e ficamos todos juntos cantando aquela antiga canção de ninar...
“Praieira dos meus amores,
Encanto do meu olhar!
Quero contar-te os rigores
Sofridos a pensar
Em ti sobre o alto mar.
Ai! Não sabes quantas saudades
Padece o nauta ao partir.”
(Vou ficando por aqui...)