A PALAVRA

Sem academicismos, filosofias baratas, ou pedagogias professorais, deu-me vontade de falar da “palavra”.

A palavra que deriva do latim parábola, na forma mais simples de o dizer, é a faculdade natural de falar.

E há as palavras ditas, e as não ditas; destas não nos fala a gramática. Palavras bem ditas e as mal ditas, as belas e as feias, eruditas e as plebéias, mas todas simples-mente, palavras. Portanto há palavras para todas as sentenças, para todos os gostos e crenças; muitas palavras, e muitas as bocas que as pronunciam. Sem a palavra o mundo seria um mundo oblíquo, um mundo cinzento, vazio.

Pela palavra o homem se comunica, se entende ou desentende. Se com a palavra é difícil aos homens se entenderem, imaginem então se não houvesse a palavra...

Só ao homem foi dado o dom da palavra e, paradoxal-mente há tanto homem sem palavra. Há vezes que chego a pensar que o mundo dos bichos é bem melhor que o mundo dos homens. Na sua mudez de palavras os bichos se entendem e, nunca a história relatou qualquer Grande Guerra entre eles. Portanto, a palavra é ao mesmo tempo paradoxal, instigante, maravilhosa e, maldita. Ela obriga-nos a pensar, ainda que tantas vezes a digamos sem pensar...

É pela palavra, pela maneira de falar, que se conhece um povo, a sua inteligência.

Quão maravilhosa é a palavra, quão perigosa é a palavra! Talvez por ser feminina seja a palavra, assim, bela, e tão cheia de mistérios. Umas vezes, doce como o mel, outras vezes amarga como o fel. Outras vezes ainda, conclamando à paz, outras incitando à guerra.

Sem a verticalidade de Malarmé, quando diz que um poema não se faz com idéias, mas com palavras, sou dos que pensam que o melhor poema é aquele que se faz com o coração, como já disse o poeta Teixeira de Pascoais. Mas ainda que o coração sinta a poesia intensamente, sem a palavra, sem a letra, o poema existiria solitariamente, egoisticamente, só para mim, ou simplesmente inexistiria.

Palavras, palavras, benditas as palavras quando quais faróis em meio a intensa neblina alumiam nossas almas e nos indicam o rumo certo para continuar nossa viagem pelos caminhos da vida.

“A palavra concretiza o pensamento, corporiza a idéia, translada a natureza, compendia o universo

Instrui e construi, vence e convence, alumia e extasia, afama e infama.

A palavra florente e florida, imaginosa e varonil, literária e rutilante, vale uma glória, frisa uma cultura, reflete uma civilização... Alves Mendes.

Ou ainda: O pensamento poético elabora-se numa interação dos significantes e dos significados: a palavra é conduzida e, ao mesmo tempo conduz, num estado de espontaneidade mais ou menos vigilante, de inspiração, se quiserem, mais ou menos provocada e lúcida Jacinto Prado Coelho.

( 22.9.2000)

Do livro O FAROL AO LONGE ( no prelo)

Eduardo de Almeida Farias

Eduardo de Almeida Farias
Enviado por Eduardo de Almeida Farias em 01/06/2007
Código do texto: T509942