GESTÃO PÚBLICA E O ESTRESSE OCUPACIONAL

GESTÃO PÚBLICA E O ESTRESSE OCUPACIONAL

Joenildo Fonseca Leite

Com o objetivo de identificar os principais fatores causadores e diagnosticar o nível de estresse ocupacional na função gerencial na gestão pública, como apontar a insegurança nas relações de trabalho, as metas super dimensionadas, o nível de cobrança excessiva, o quadro de funcionários aquém das necessidades da instituição e dificuldades nas relações pessoais, bem como algumas das principais causas de tensão excessiva no ambiente de trabalho, capazes de explicar níveis importantes de estresse para esta categoria funcional.

Os resultados da pesquisa realizada na Prefeitura Municipal de Uberlândia, a titulo de amostragem, revelam que cerca de 89,10% dos funcionários que ocupam cargo de chefia, gerencia apresentam um quadro de estresse. Dentro desse quadro 35,21% apresentaram estresse de leve a moderado; 40,97% estresse intenso; e 12,92% estresse muito intenso.

Stress é uma palavra derivada do latim. Durante o Século XVII ganhou conotação de adversidade ou aflição. No final do século seguinte, seu uso evoluiu para expressar forca, pressão ou esforço. O conceito de stress não e novo, mas foi apenas no inicio do Século XX que estudiosos das ciências biológicas e sociais iniciaram a investigação de seus efeitos na saúde física e mental das pessoas, como sendo um estado do organismo apos o esforço de adaptação que pode produzir deformação na capacidade de resposta do comportamento mental e afetivo, do estado físico e do relacionamento com as pessoas. Para fins deste trabalho o termo stress, em inglês, será grafado em português, estresse (NASCIMENTO et al., 1998).

As novas formas de organização do trabalho enfatizam o desenvolvimento de múltiplas habilidades por parte do trabalhador, que deve ser capaz não apenas de prever problemas e desenvolver soluções alternativas, mas também de sugerir novas linhas de ação.

Para os trabalhadores que continuam em seus postos, as inovações exigem maior qualificação, viabilizando ao máximo o aproveitamento da tecnologia. Além disso, de acordo com Goldberg (1986), nos últimos anos, a aceleração das mudanças vem contribuindo para provocar nos gerentes uma degradação da saúde mental, levando-os a importantes quadros de estresse.

Em decorrência disso, tornam-se vulneráveis a diversos tipos de doenças, como as cardíacas, os distúrbios do sistema imunológico, as manifestações psicológicas diversas, entre outras.

O profissional de nível gerencial que se insere nessa nova realidade pertence a uma cultura empresarial em que, segundo Cooper (2005), as pessoas trabalham mais horas e mais arduamente, a fim de atingir o sucesso pessoal e as recompensas

materiais. Neste momento o tema “Estresse Ocupacional” ganha importância e proporções ainda maiores do que em décadas anteriores. A partir da década de 1990, com a aceleração das mudanças organizacionais nas empresas brasileiras, e com a implementação de novos modelos de gestão, o gerente se vê com uma rotina diária cada vez mais desgastante e da cada vez mais atenção as tensões decorrentes do ambiente de trabalho e ao estresse ocupacional (ROSSI, 2005; CHANLAT, 2005; PERREWE, 2005; SAUTER; MURPHY, 2005).

Assim, o estresse ocupacional, entendido como o estresse relacionado ao trabalho, tornou-se uma fonte de preocupação, uma vez que e reconhecido como um dos principais riscos ao bem-estar psicossocial do individuo (BATEMAN; STRASSER, 1983).

Nesse sentido, o presente trabalho tem como objetivo central identificar os principais fatores causadores de estresse, bem como diagnosticar o nível de estresse ocupacional na função gerencial.

Para contextualizar as transformações que vem ocorrendo no ambiente organizacional é importante compreender as mudanças tecnológicas e seus impactos sobre a função gerencial, apresentados neste trabalho. O estresse ocupacional, suas abordagens conceituais, causas e sintomas também são discutidos para que se possa compreender e identificar as principais fontes de tensão, que podem ter como consequência o estresse associado ao trabalho do gerente.

No decorrer da ultima década, e de forma intensa nos dias atuais, a introdução de novas tecnologias nas organizações impulsionou um amplo redesenho nas estruturas, nos processos e nos modelos de gestão de pessoas.

As novas tecnologias tem se tornado cada vez mais presentes na realidade administrativa, impulsionando os processos de mudança organizacional, uma vez que envolvem não apenas a necessidade de alterar politicas, procedimentos e estruturas, mas também introduzem novas formas de comportamento dos indivíduos e equipes e transformam, em maior ou menor escala, a cultura da organização. De acordo com Lemos (2000), o contexto atual se caracteriza por mudanças aceleradas nos mercados, nas tecnologias e nas formas organizacionais, e a capacidade de gerar e absorver inovações vem sendo considerada, mais do que nunca, crucial para que um agente econômico se torne competitivo.

Nesse sentido, as organizações precisam, cada vez mais, desenvolver a arte de gerenciar a mudança para se manterem no mercado cada vez mais competitivo e globalizado.

Na visão de Nadler et al. (1989), o gerenciamento da mudança e bem sucedido quando a organização consegue se transpor do estado em que se encontra para o estado pretendido e o seu funcionamento futuro passa a atender as expectativas, isto e, funciona como planejado.

Outro aspecto importante e a adequação dos custos em relação ao processo de mudança, que e um estado ideal buscado pelas organizações. Além disso, para que um processo de mudança promovido pela inserção de novas tecnologias seja bem sucedido e preciso que ele seja visto, antes de tudo, como um processo de construção coletiva de novos significados acerca da realidade e do desenvolvimento de uma nova cultura organizacional.

De acordo com Weick e Quinn (1999), a nova tecnologia não e necessariamente a que se baseia em computadores, nem e aquela completamente inédita, mas sempre e a tecnologia nova para a empresa em questão, mesmo que ela não seja nova para o mercado.

Neste contexto, a introdução de tecnologias nas organizações possibilita mudanças que não são apenas mudanças tecnológicas, mas também mudanças de crenças e valores organizacionais que refletem, em grande parte, no desempenho do trabalho de profissionais que se ocupam de funções gerenciais.

As mudanças tecnológicas refletem em mudanças nos diversos níveis da organização, em especial, nos níveis gerenciais. Entendendo a reestruturação da empresa como o conjunto de mudanças significativas que visam a transformação das estruturas corporativas e organizacionais, provocam mudanças múltiplas, cujos riscos para a gerencia podem assumir diferentes formas (ROULEAU, 2005).

Tendo em vista o contexto em transformação, a mudança tecnológica nas organizações pode ser considerada, enquanto aspecto inerente ao cotidiano organizacional e necessário para a sobrevivência da empresa no mercado global, competitiva e mutante; “afinal de contas tudo muda – os ambientes desestabilizam-se, os nichos desaparecem, as oportunidades banalizam-se” (MINTEZBERG; LAMPEL; AHLSTRAND, 2000, p. 106).

Além disso, Weick e Quinn (1999, p. 381) salientam que “a mudança nunca começa porque ela nunca para”, portanto, e um processo constante, e o ideal seria denomina-lo de mudando ao invés de mudança, para dar a ideia de processo continuo.

No contexto da mundialização e face ao estabelecimento de novas regras de funcionamento e da introdução de novas tecnologias organizacionais, os gerentes passam a ter que assumir novas responsabilidades e enfrentar desafios diversos, bem como reformular toda uma logica estabelecida e, assim, reconstruir um novo modo de pensar relativo aos problemas e aos princípios, as hipóteses, aos arcabouços teóricos e tecnológicos disponibilizados.

O grupo gerencial constitui, assim, de acordo com Melo e Sperling (2002), peca fundamental nos processos de reestruturação e modernização organizacional, ao mesmo tempo em que sofre os impactos múltiplos de tais processos.

Para compreender os verdadeiros impactos que as transformações tecnológicas tem refletido na função gerencial e essencial que se entenda o gerente e a função gerencial, não só na perspectiva das novas formas de gestão, que são as que se apresentam no cenário atual estabelecido pelo mercado globalizado, mas também e importante que se conheça a perspectiva clássica da função gerencial, fazendo um percurso histórico ate os dias atuais.

Estudos que buscam entender as funções, os papeis e as habilidades dos gerentes não são recentes. O gerente aparece em meio a diversidades de abordagens e enfoques que constituem a administração, dotado de varias significações que vão desde o supervisor do processo de trabalho, intermediando o controle e o comando da organização, ate as implicações que associam a esse profissional o sentido de líder.

Fayol (1949) enfatizava que o administrador de pessoas e aquele que tem por

função planejar, organizar, coordenar, comandar e controlar o trabalho de uma unidade de comando. Outras representações sobre o que e o gerente são apontadas por outros autores, como Sloan (1963) que diz que o gerente e alguém que infunde seus valores pessoais e profissionais em toda a organização; Schumpeter (1938) retrata este profissional como um empreendedor e promotor de inovações; Simon (1947) o define como um tomador de decisões não-programadas, em um ambiente complexo e incerto e Katz e Kahn (1976) referem-se ao gerente como um líder eficaz, detentor de certos traços de personalidade específicos. Mas são Mintzberg (1973) e Stewart (1967) os precursores de uma serie de observações mais aprofundadas sobre as atividades diárias dos gerentes.

Mintzberg (1973), com suas pesquisas, deixa, dentre varias, a contribuição de

que o trabalho dos gerentes e caracterizado pela fragmentação das atividades, pelo ritmo de trabalho e pela preferencia por contatos verbais. A partir dos registros de suas observações de campo, o autor formulou um conjunto dos principais papeis gerenciais (interpessoais, informacionais e decisórios), subdivididos em dez papeis secundários referentes ao tempo gasto do gerente no seu dia-a-dia.

A síntese desses papeis nega que o trabalho do gerente, no contexto da crise, seja ordenado, continuo, sequencial, homogêneo, além de não ser derivado de suas próprias iniciativas nem de sua vontade transformada em decisões.

Stewart (1967) deixa como uma de suas importantes contribuições a constatação de que existem variações no trabalho dos gerentes em função de relações interpessoais.

As pesquisas pioneiras sobre as atividades dos gerentes incluem também os trabalhos de Carlson (1951), que, com suas pesquisas, deixou a contribuição de que os gerentes tem jornadas fragmentadas, essencialmente em comunicações verbais; Sayles (1964), que com suas observações pode concluir que os gerentes são vistos como lideres, monitores e participantes no processo de trabalho e Kotter (1982) enfatiza a rede interpessoal de relacionamentos dos gerentes.

Mais recentemente, pesquisas como as de Motta (1991), Davel e Melo (2005), Aktouf (2005), Zille (2005), Marques, Morais e Portes (2003), Melo e Sperling (2002) e Kliksberg (1993) buscam retratar a função gerencial do ponto de vista da realidade atual das empresas, que se inserem em um contexto diferente dos das décadas anteriores e no qual predominam e predominarão, cada vez mais, a complexidade, a instabilidade e a incerteza, dando lugar a uma gerencia que age em grande parte em meio a turbulência, em contraponto aos ambientes controlados e marcados pela maior racionalidade das décadas anteriores.

O profissional de nível gerencial que se insere nessa nova realidade pertence a uma cultura empresarial em que, segundo Cooper (2005), as pessoas trabalham mais horas e mais arduamente, a fim de atingir o sucesso pessoal e as recompensas materiais.

Neste momento o tema do Estresse Ocupacional ganha importância e proporções ainda maiores do que em décadas anteriores. E a partir da década de 1990, principalmente em relação a realidade brasileira, com as mudanças organizacionais mais evidentes e com os novos modelos de gestão que começa a se

estabelecer, que o gerente se vê em uma rotina diária cada vez mais desgastante e da cada vez mais atenção as tensões decorrentes das pressões excessivas vivenciadas no ambiente de trabalho, e como consequência disso, surge o estresse ocupacional (ROSSI, 2005; CHANLAT, 2005; PERREWE, 2005; SAUTER; MURPHY, 2005).

Assim, o estresse ocupacional, entendido aqui como o estresse relacionado ao trabalho, tornou-se uma fonte importante de preocupação, uma vez que e reconhecido como um dos riscos sérios ao bem-estar psicossocial do individuo (BATEMAN; STRASSER, 1983).

O estresse ocupacional aparece, então, como tema de preocupação crescente tanto no meio organizacional quanto no meio acadêmico quando o assunto em questão e o trabalho do profissional que ocupa função gerencial (ZILLE, 2005; ROSSI et al., 2005).

As tendências recentes de reestruturação do trabalho e do emprego tem causado preocupações em muitos pesquisadores, como Cahill e Schnall (1999) e Quinlan, Mayhew e Bohle (2001), de que estes eventos tragam risco de estresse e como consequência doenças físicas e psicossomáticas ao individuo. Por exemplo, o aumento da jornada de trabalho, que e um fator comum na função gerencial, pode gerar preocupações de intensificação e sobrecarga de trabalho. O enxugamento e as praticas de emprego temporário podem prejudicar a capacidade dos trabalhadores e das organizações de acumular e reter o conhecimento sobre segurança, desencorajar o relato de riscos e acidentes ou a utilização dos serviços de saúde devido ao medo de perder do emprego.

De acordo com Zille (2005, p. 61),

[...] as sociedades estão passando por um processo de intensificação do ritmo em que as mudanças acontecem. Aliado a essa conjuntura verificasse uma deterioração da qualidade de vida dos indivíduos. Dessa forma, o estresse apresenta-se como uma variável importante, que vem atingindo os indivíduos de forma geral. Cada período da historia contribui de maneira positiva para o desenvolvimento global, mas cobra um preço por esse beneficio, sendo o estresse um dos preços mais habituais da atual época de turbulência sociocultural por que passa a humanidade.

Rifkin (1995) destaca que a situação do emprego esta se modificando e milhares de trabalhadores estão perdendo seus postos de trabalho, uma vez que estão sendo substituídos, com maior intensidade, pelas chamadas tecnologias inteligentes, que veem sendo desenvolvidas em larga escala em todo o planeta.

Para o autor, esse novo mundo do trabalho esta deixando os indivíduos alienados, vitimas de um acentuado estresse proveniente de pressões decorrentes de um ambiente de alta tecnologia e crescente insegurança.

Nesse sentido, para entender de forma mais consistente o estresse ocupacional, torna-se importante entender as abordagens conceituais que permitem uma visão global de manifestações desta natureza, que provocam como decorrência tensões nos indivíduos e em muitos casos, quadros de estresse.

As abordagens bioquímica, psicológica e sociológica, que podem ser consideradas complementares e interligadas, são entendidas como as três principais abordagens conceituais referentes ao estresse ocupacional.

A abordagem bioquímica, ou seja, a fisiologia do estresse surgiu nas décadas de 1930 a 1950, influenciada pelos estudos de Selye (1936), primeiro pesquisador a estudar o estresse do ponto de vista bioquímico.

O trabalho de Selye foi influenciado por pesquisadores que não estudaram diretamente o estresse, mas que proporcionaram importantes subsídios para a sua compreensão, como foi o caso do fisiologista francês Bernard, ao apontar a capacidade de manter a constância do equilíbrio interno como um dos traços mais característicos de todos os seres vivos e do fisiologista Cannon, que retomou o conceito de Bernard sobre a constância do equilíbrio interno, desenvolvendo-o e denominando-o de homeostase. Avançando em relação as constatações desses dois fisiologistas, Selye (1936), além da reação de alarme, descreveu outras duas fases, resistência e exaustão, relacionadas ao estresse. Para este autor, decorrentes do estado de tensão, diversas reações fisiológicas ocorrem no organismo com o objetivo de prepara-lo para enfrentar ou adaptar-se as fontes de pressão as quais o organismo esta sendo submetido.

A abordagem psicológica, que apresenta sua ênfase principal na compreensão da influencia que a percepção e o comportamento do individuo são manifestados no processo de estresse, apresenta as seguintes vertentes: psicossomática; interacionista; behaviorista; psicopatologia do trabalho e a da psicologia social.

Essas vertentes mostram que a abordagem psicológica, em relação aos estudos sobre estresse, não apresenta uma direção única, embora nas suas diversas vertentes apresente coerência em relação a determinados pressupostos.

Importantes contribuições nessa abordagem foram atribuídas as pesquisas de Cooper, Cooper e Eaker (1988), uma vez que estes estudos ampliaram o entendimento sobre o complexo processo que envolve os seres humanos.

No entanto, na visão de Cooper, Cooper e Eaker (1988), Lhuilhier, Mignee e Raix (1990), Arnald, Robertson e Cooper (1991) e Morais, Marques e Zille (1998), o trabalho de Lazarus (1974) e considerado um marco importante para os estudos da abordagem psicológica, uma vez que o mecanismo psicológico e percebido como determinante no processo, associando-se ao desencadeamento de quadros de estresse.

Já a abordagem sociológica esta relacionada a compreensão das diversas variáveis que se estabelecem no contexto da sociedade. Nesta abordagem, de acordo com Cassirer (1994), percebe-se uma dependência entre a visão de mundo do individuo e a sua realidade social. O individuo depende da estrutura social em que vive para estabelecer o seu universo simbólico, bem como para construir a sua cultura individual que servira de base para interpretar os fatos ao seu redor, o que proporciona elementos para a sua identificação e diferenciação.

De acordo com esta abordagem, conforme afirma Leontiev (1978), o desenvolvimento psíquico dos indivíduos esta relacionado a estrutura cultural estabelecida e, nessa dimensão, as alterações culturais afetam diretamente os mecanismos psicológicos individuais. Nos dias atuais, a presença mais forte do estresse social revela uma alteração sociocultural que influencia o mecanismo psíquico e altera as condições ambientais nas quais o individuo esta inserido, provocando influencia no mecanismo biológico.

Para a compreensão do estresse é de fundamental importância entender não só o individuo, no que se refere a seu mecanismo psicológico e o seu ambiente, como também os valores sociais e as suas transformações.

Essas abordagens permitem uma visão global das manifestações do estresses, sendo que a abordagem bioquímica permite uma observação principalmente no que se refere ao aspecto fisiológico e a abordagem psicológica, permitindo entender a importância dos mecanismos psicológicos no desencadeamento de quadros de estresse, além disso, a abordagem sociológica mostra a importância de se compreender as novas variáveis que se estabelecem dentro da sociedade para que se possa, então, interpretar as fontes de pressão a luz de cada nova realidade que se estabelece.

Essas abordagens conceituais mostram sob diversas óticas como podem ser entendidas e estudadas as manifestações relacionadas ao estresse, constituindo-se em importante base teórica para realização de estudos nessa área, como e o caso do presente trabalho.

A tensão esta intimamente ligada as pressões decorrentes das atividades do executivo.

De acordo com Couto (1987, p. 75), “tensão e um estado em que o organismo

encontra-se preparado para agir, fisiológica e psicologicamente”. O autor também destaca que a propensão ao estresse tem como causa primordial a dependência dos outros ao alcance de seus próprios resultados. Assim, o ponto fraco do gerente extremamente estressado e a tensão, uma vez que, nesse estado, alguns órgãos do corpo humano, tais como o coração, o pulmão, o fígado e os músculos tem o seu funcionamento alterado.

Aqui é possível observar que a tensão, apesar de ser um estado em que o organismo encontra-se preparado para agir, torna-se nociva quando ocorre de forma excessiva.

Quanto as causas das tensões, podendo ter como consequência o estresse ocupacional, o modelo teórico Tensões no Trabalho, desenvolvido por Karasek et al. (1998), enfatiza dois importantes estressores. Segundo o autor, os riscos a saúde física-mental do trabalhador pelo estresse, ocorrem quando as altas demandas psicológicas, ou pressões relacionadas as habilidades no trabalho, e a autoridade de

tomada de decisões combinam com uma baixa abrangência de controle ou decisão ao deparar com essas demandas.

Os sintomas de tensão ou a propensão a tensão, segundo Couto (1987, 2007), variam de acordo com os traços de personalidade. E importante salientar que a tensão não e um traço inerente a personalidade do individuo, mas sim uma característica adquirida ao longo de sua vida. No caso dos gerentes, os fatores relacionados a sua profissão são determinantes para desencadear desde uma fleuma ate altos níveis de tensão, podendo chegar a estafa, isto e, esgotamento físico-mental, em que “a capacidade laborativa e emocional do individuo vai a zero” (COUTO, 1987, p. 76).

Para Couto (1987, 2007), os fatores potencialmente desencadeadores de tensão próprios do trabalho daqueles que exercem função gerencial são principalmente o relacionamento constante com pessoas difíceis (personalidade difícil); mudança de cidade em função do trabalho; muitos prazos, e a maioria urgentes; excesso de viagens; tensão inerente a responsabilidades por decisões finais, incluindo decisões que podem afetar a vida de muitas pessoas; administrar fusões de setores, unidades ou empresas; reestruturar unidade com baixo desempenho; conviver com diretores ou acionistas hostis; falta de apoio da matriz; competitividade no mercado; ter de corrigir erros de antecessores.

A função gerencial esta relacionada a chamada atividade de alta densidade, que se caracteriza pelo uso constante da memoria imediata, micro decisões constantes e atividades que envolvem importante carga emocional (COUTO, 1996, p. 334).

Outra colaboração importante quanto aos indicadores que explicam os níveis de tensão excessiva nos processos de trabalho encontra-se nos estudos de Zille (2005). Para o autor são diversos os fatores que podem ser classificados como fontes importantes de tensão no trabalho. Merecem destaque: realização de varias atividades ao mesmo tempo com alto grau de cobrança; filosofia de trabalho pautada pela obsessão e compulsão por resultados; relacionar-se com indivíduos de personalidade difícil, muitas vezes com algum tipo de patologia comportamental; conviver com muitos prazos e cronogramas apertados; excesso de metas; sobrecarga em decorrência da tecnologia (e.mail’s, softwares, sistemas integrados de gestão, entre outros) e trabalho complexo e desgastante.

De acordo com a taxionomia apresentada por Vergara (2006), Meirelles e Goncalves (2004), sobre os tipos e métodos de pesquisa, o presente estudo caracteriza-se por ser uma pesquisa explicativa, cujo objetivo e esclarecer quais fatores contribuem, de alguma forma, para ocorrência de determinado fenômeno, no caso, o estresse; Assim, o enfoque explicativo mostrou-se adequado que buscou analisar e explicar os impactos que uma determinada função ocupacional, no caso a de gerente, proporciona em uma classe especifica de trabalhadores.

Os conceitos utilizados em relação a categorização do estresse foram os seguintes: Ausência de Estresse – significa um estado de bom equilíbrio entre as demandas psíquicas advindas do ambiente, tais como trabalho, família e social, entre outras, e a estrutura psíquica do individuo. Estresse Leve a Moderado – indica a ocorrência de manifestações de estresse, no entanto em grau compensado, podendo não gerar impactos importantes nos diversos ambientes de interação do individuo. Estresse Intenso – indica a ocorrência de manifestações de estresse num grau elevado, podendo gerar impactos importantes no individuo.

As condições orgânicas e psíquicas já podem estar apresentando alterações e, em alguns casos, os indivíduos necessitam de tratamento e acompanhamento psicológico, podendo necessitar também de tratamento clinico. Estresse Muito Intenso – indica a ocorrência de manifestações de estresse num grau muito elevado, gerando impactos significativos nos diversos ambientes onde o individuo opera. As condições orgânicas e psíquicas apresentam alterações importantes e, os casos dessa intensidade necessitam de tratamento e acompanhamento clinico e psicológico (ZILLE, 2005, p. 223, 225, 226 e 288).

Outros aspectos específicos relacionados ao trabalho dos gerentes também causadores de tensão excessiva foram identificados como: conhecer o que e qualidade de vida e sua importância e não ter tempo de praticar esses conceitos, devido a absorção pelo trabalho; ter dificuldade de compatibilizar os compromissos de trabalho com os compromissos de família e sociais, entre outros; vivenciar conflitos por ter que, ao mesmo tempo, ser inovador e dotado de autonomia e estar sujeito as normas da organização; vivenciar conflitos por perceber-se em sobrecarga e não ter como questionar, por exercer função de confiança (gerencial); ter de compatibilizar entre a necessidade de descentralização e a concentração de poder no topo da empresa; ter dificuldade de conciliar a necessidade de trabalhar em modelo participativo e a necessidade de isolamento, em função da competitividade; não poder agir de forma autoritária e ter que ser autoritário em determinadas ocasiões; conviver com situações de tensão excessiva inerentes as relações humanas do trabalho; e sentir que os resultados estão de bom tamanho, mas não poder manifestar essa percepção para a organização, tendo que solicitar a equipe resultados ainda mais desafiadores.

Considerações Finais

Considerando o objetivo central deste trabalho, através da utilização do MTEG –

Modelo Teórico para Explicar o Estresse Ocupacional presente na Gestão Pública, pode-se constatar que o nível de estresse ocupacional dos gestores esta diretamente relacionado ao tempo de exercício na função. Verifica-se uma tendência de aumento no nível de estresse na medida em que os gerentes acumulam maior tempo de exercício na função gerencial.

Em termos gerais os dados desta pesquisa são coerentes com os dados da pesquisa realizada por Zille (2005) com gerentes de organizações brasileiras de setores diversos.

Com relação a esse setor em especifico, gestores da sistema público, verificou-se que a gerencia intermediaria é a que sofre maior intensidade de pressão advinda do contexto de trabalho, o que, consequentemente, tende a apresentar maior incidência de estresse.

Os principais problemas identificados na pesquisa estão relacionados ao estabelecimento de metas sem a participação dos envolvidos, muitas vezes com objetivos definidos muito além da capacidade de realização, associado ao excesso e ao rigor nas cobranças, o que vai ao encontro dos resultados da pesquisa apresentada no presente estudo.

A atuação de alguns gerentes fora dos padrões éticos, impulsionados principalmente pela competição acirrada; a fixação de metas intangíveis e consecutivas sem a participação dos envolvidos; e os avanços tecnológicos que reduzem a necessidade dos recursos humanos, mas que aumentam as responsabilidades e os trabalhos a serem executados por aqueles que permanecem na instituição.

Considera-se que a pesquisa sobre estresse no setor da gestão pública esta em constante construção, precisando ser realizada e refeita o quanto possível para que se possa, cada vez mais, conhecer em profundidade esse setor, visando alternativas para diminuir os níveis de estresse e melhorar as condições de trabalho desses trabalhadores.

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JFLEITE
Enviado por JFLEITE em 07/01/2015
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