A Folhinha Mariana

Anual, e jamais de ir pros anais, pois folhinha por folhinha que a cada dia retirais, ao cabo do ano é que se desfaz. Acho que já foi também chamada de folhinha mariana, publicada pelas edições paulinas, editora vozes e, quem sabe, não estaria agora, por hora a mil, nas mãos da

todo-poderosa Abril?

O que nela se ressaltava, de cara, era a tom predominantemente rubro da gravura, e muita vez só no matiz mudava, era a figura de um Jesus meigo, quase feminil, arianizado, a exibir, aí varonil, o coração dilacerado, de amor extremado.

As folhinhas, diminutas, enfeixadas por um capitel metálico eram apostas à gravura e, saber arrancar com destreza as primeiras era um desafio, de tão apertadinhas. E no campo maior de sua cara, não Campo Maior do Piauí, ô cara, a data, em preto para os dias de semana e em vermelho para os domingos, dias de festa e guarda.

À sua volta, notações sobre o/a santo padroeiro/a, alguma efeméride ou um pensamento desses de exaltar o espírito. Mas o por que mais se ansiava, era o verso da página que se destacava, cada dia que

passava - e não duvido até que muita boa alma as colecionava:

feito num almanaque, vinham variedades e curiosidades, em forma pilular e que era bom até pra não se enfarar.

Receitas de bolo, instruções sobre o plantio de determinada hortaliça, historieta enlevante sobre algum santo, piadinhas comportadinhas, fases da lua, provérbios...

Meu passatempo favorito eram as charadas, as novíssimas, cuja técnica de decifração ensinou-nos papai. Agora, o pais é alimento. Uma e uma: Ja pão! Cheguei a resolver algumas, a ponto de já não achar mais graça nas tais novíssimas e começar a pensar em noviças. Ou novilhas? Y así se pasaron los años - pero se quedaron los daños, y unos crueles desengaños.

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 07/01/2015
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