PENSAMENTOS
As palavras deveriam constituir para o ser humano um patrimônio de inestimável valor. Em realidade, as palavras que se pronuncia representam e se confundem com os pensamentos que as animam; serão inteligentes e construtivas se assim forem aqueles pensamentos.
Se o ser humano tivesse consciência do grande mal que inflige a si mesmo ao emitir impulsiva, apressada e irrefletidamente palavras que levam o selo da discórdia, da indiscrição, da intromissão, da maledicência; e que este agravo contra os seus semelhantes acaba por voltar-se contra ele próprio - tal qual a arma de arremesso dos indígenas australianos - cuidaria das próprias como algo sagrado e de grande valor, que não deve ser desperdiçado e sim utilizado para construir um mundo melhor para si e para os seus semelhantes.
As palavras representam os pensamentos que estão na mente do indivíduo que as utiliza. A origem, o valor e a natureza desses pensamentos caracterizam a representação oral mencionada.
Cuidar da própria mente, dos pensamentos que nela habitam e das palavras que os representam, significa cuidar da própria vida e zelar pelo conceito pessoal.
Pensar é criar idéias, soluções, resolver problemas de toda a ordem, selecionar o que haverá de ser útil e servir para tornar a nossa vida feliz.
Pensar também é criar pensamentos que sirvam para o próprio aperfeiçoamento e superação, como também ajudar a outras pessoas nesse sentido. Em todo o processo de criação deste pensamento na mente, que começou como idéia, uma imagem mental, até sua manifestação neste mundo material, entrou em jogo essa função, a de pensar.
Pensar não é recordar, uma outra função mental, e nem ser dirigido por pensamentos alheios. Pensar é maior, é ser criador dos próprios pensamentos e construtor do destino individual. Pensar é saber identificar os pensamentos que se tem na mente, em geral vindo de outras mentes, e selecionar o que haverá de ser útil para a nossa vida. Não é fácil e nem difícil. Exige constância, dedicação. É um aprendizado que pode e deve ser iniciado na infância. É uma arte pouco conhecida pelo homem moderno que já começa a fazer parte do rol das preocupações dos educadores e que haverá de conformar a pedagogia do futuro.
O temor da morte provem do fato de se pensar que tudo termina com a vida.
A morte verdadeira é o não pensar, uma tirania que aprisiona a inteligência, uma escravidão mental.
Não estamos morrendo todas as noites para despertar no dia seguinte?
Na Comédia de Dante, diz o poeta: “O pior dos suplícios é sentir-se morto sem acabar de morrer, é sentir-se quase vivo estando morto, e ansiando morrer, seguir vivendo”.
A morte tem a ver com a falta de estímulos, com a falta de interesse e de esperança pelo futuro.
A liberdade do homem é construída sobre o pensar. Quanto mais pensar, mais livre será. Mas o que é pensar? Esta movimentação discricionária de pensamentos na mente seria o pensar? Não, isso não é pensar, quer dizer, criar soluções luminosas, optar por caminhos, selecionar o que convém para o bem e felicidade próprios e alheios.
Ao pensar opomo-nos à fatalidade e liberamo-nos do destino comum, da vida comum, da mediocridade.
Um dos preceitos gravados no Templo de Delfos era o “Conhece a ti Mesmo”. Platão diz através de Sócrates - personagem de um de seus escritos -: “Parece-me ridículo, pois, não possuindo eu ainda esse conhecimento, que me ponha a examinar coisas que não me dizem respeito... Não são as fábulas que investigo: é a mim mesmo”.
Esse conhecimento implica, também, conhecer os próprios defeitos. É muito comum censurarmos os defeitos dos outros. Ao evitar, em nós, os defeitos que censuramos, estaríamos realizando uma pequena parte daquele Conhecimento inscrito no Templo grego.
Assim como a fome e a sede são sinais de nosso organismo indicando que precisamos nos alimentar, nossos defeitos são sinais que nosso organismo psicológico nos dá indicando que devemos mudar. E o nome dessas mudanças é “educação espiritual”; construção de uma nova conduta que deverá nos ocupar diariamente, da mesma forma como dormimos e nos alimentamos, para não cair na inanição mental, na indigência espiritual.
O ser humano vive em um mundo governado pelos pensamentos; onde os homens têm a equivocada sensação de serem senhores de suas próprias vidas, dos acontecimentos e do próprio espaço físico que habitam.
Veiculados pelos meios de comunicação, caminham de mente em mente, impressos em livros, provenientes, muitas vezes, de mentes exóticas cujos donos de há muito se decompuseram sob lajes ancestrais que não conseguiram sepultar as idéias e os costumes que compõem o grande cemitério das chamadas tradições.
A existência do pensamento é a prova mais cabal da existência de um outro mundo, o mental, absolutamente desconhecido pela maioria das pessoas.
O governo dos pensamentos poderá ser, gradativamente, substituído pelo democrático governo da inteligência e do espírito através da reversão desta condição humilhante em que a maioria das pessoas se encontra, escravizadas que estão pelos pensamentos que perambulam pelo mundo.
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