Mídia, Brasil e Venezuela... RCTV, Globo e companhia...
Depois das histerias dos grandes meios de comunicação veicularem sobre a cassação dos direitos da RCTV por Hugo Chavez na Venezuela, usando de suas prerrogativas presidenciais para fazer valer a necessidade de um canal de TV mais democrático, informativo e que preste o seu papel social, volta e meia vem à tona sobre a função e o papel da mídia, em influenciar a sociedade civil ou, por vezes, manipular a opinião pública com notícias tendenciosas ou com "meias-verdades" contra determinadas lideranças populares e/ou com conteúdo nacionalista.
No caso, a RCTV apoiara a tentativa fracassada de golpe sobre Chavez e, no Brasil, a Globo investiu contra as lideranças populares, em campanhas e manipulações sórdidas ou insidiosas sobre aqueles que, não pactuando com a sua linha de ação, divergiam claramente da linha política colocada por ela. Quem não se lembra da sórdida campanha da Tribuna da Imprensa, Globo et caterva contra Vargas em agosto de 1954, culminando com o seu suicídio? E as campanhas insidiosas da Globo contra o Brizola, mexendo, por vezes, até na sua honradez e confundindo propositalmente a esfera entre o público e o privado!?
Entre as declarações de parcela considerável da mídia sobre o caráter "ditatorial" de Chavez, o fato é que uma outra parcela, pertencente à mídia independente, tem furado este bloqueio de forma eficaz, demonstrando, através de reportagens, notícias ou por tomadas aéreas, sobre as diferenças entre o grau de adesão (por meio de passeatas, movimentos e comícios) dos partidários de Chavez e os seus oposicionistas, diferente do que vem sendo veiculado no Brasil nos grandes órgãos de comunicação.
A má vontade da imprensa na cessão de espaços nas vozes divergentes contradiz contudentemente o conceito de democracia (até no significado mais formal que ela pode expressar, sendo uma delas a própria liberdade de expressão). Em uma postura ditatorial velada, ela permite poucos espaços aos formadores de opinião e lideranças destacadas da sociedade civil e veicula notícias para denegrir a atuação de indivíduos ou ícones que, por vezes, batem de frente contra o interesse dos seus patrocinadores (entre bancos, grandes indústrias e setores atrelados ao capital apátrida).
Não há um entendimento claro em torno do papel das emissoras de televisão, rádio e dos jornais impressos ou virtuais. Diz-se tanto do seu papel imparcial, objetivo e conciso em informar, por meio do noticiário ou em debates - com as mais antagônicas opiniões (sem qualquer tratamento diferenciado) -, mas o que se vê é uma mídia atrelada a grupos econômicos ou setores conservadores, com lobbies fortíssimos, em campanhas travestidas de noticiários que favorecem (com reportagens ou análises políticas "objetivas") os políticos dos segmentos mais à direita do espectro político.
E, talvez por isso, tendo em mente uma imprensa voltada ao seu interesse social, é que Chavez, motivado por estes princípios, cassou a renovação dos direitos da RCTV, associada ao grupo ligado às Organizações Globo. Cassou o mesmo canal que defendera o golpe de Estado sobre Chavez e que, em conluio com os outros meios de comunicação à nível mundial (com o aval norte-americano), dissera que "Chavez havia renunciado".
Nada mais justo e mais democrática a postura de Chavez, ainda que enérgica, na defesa dos seus concidadãos.
O que mais me enoja com a hipocrisia de grande parte dos meios de comunicação e a alusão (quase que como um culto de monolatria) à liberdade de expressão, mas cerceam os que, contrários, divergem da sua linha de ação política ou de concepção de sociedade ou valores filosóficos.
Seja como for, é necessário uma discussão profunda da sociedade civil organizada, se ela quer a existência de um Estado Democrático, em sua essência, sem a ditadura informal de grupos organizados pertencentes ao corporativismo empresarial ou de segmentos midiáticos antinacionais e sem comprometimento com a Democracia, em toda a sua acepção rousseauniana. Uma mídia independente, séria, com credibilidade e sem parcialidades, seja de que lado for...
No Brasil, na Venezuela e no mundo afora.
Em suma, a mídia à serviço da sociedade.