Quando os detetives entram em ação
Por Rodrigo Capella*
A história policial, com a presença de um detetive e um método de investigação preciso, surgiu nas mãos do escritor americano Edgar Allan Poe, que, em 1841, publicou na revista Graham's Magazine o corajoso conto “Os Assassinatos da Rua Morgue”. Na narrativa, duas mulheres morrem e o detetive Auguste Dupin, até então um nobre falido que se divertia ao solucionar crimes, é colocado em cena e, graças a raciocínios extraordinários, consegue desvendar pistas.
Engana-se, portanto, quem acredita que Sherlock Holmes foi o primeiro detetive da literatura. Na verdade, Auguste Dupin inspirou o escritor britânico Conan Doyle a dar vida ao amigo de Watson. “Um Estudo em Vermelho” é o primeiro caso de Holmes e traz a história do americano Enoque Drebber, que foi assassinado.
Percebe-se uma grande semelhança com o primeiro livro de Poe. Mas, a obra de Doyle vai além e, por isso, trouxe certas evoluções para a literatura: o cadáver não apresentava ferimento e a palavra “Rache”, que em alemão quer dizer “vingança”, estava escrita em uma das paredes. Holmes imediatamente colocou seu método dedutivo em ação: “o assassino escreveu isto com o próprio sangue dele ou dela. Notem a mancha que escorreu pela parede”.
Depois de “Um Estudo em Vermelho”, o detetive viveu “O Signo dos Quatro” e “O Cão dos Baskervilles”, considerada até hoje como a melhor aventura de Holmes ao narrar a morte de Hugo Baskerville por um suposto cão diabólico.
Ao longo da carreira, Conan Doyle publicou sessenta histórias sobre o detetive Holmes, que se tornaram referências na literatura fantástica e criminal. O escritor dedicou-se também a poesias, romances, obras de não-ficção, peças de teatro e ensaios sobre o espiritismo, tais como “A Nova Revelação”, publicado em 1918, quando o escritor estava no auge da fama. A obra mostra a aceitação do escritor por manifestações paranormais e traça um cenário espiritualista, bem desenvolvido em sua outra obra "A História do Espiritismo”, composta por dois volumes.
Mais tarde, quando foi escolhido para receber o título de Par do Reino Inglês, exigiram que Conan Doyle recusasse essas crenças. Mas, o escritor contrariou a todos, sendo fiel a elas. Para quebrar paradigmas e aperfeiçoar o que tinha sido escrito, era preciso coragem. E Conan Doyle tinha de sobra.
(*) Rodrigo Capella é escritor e poeta. Autor de vários livros, entre eles "Transroca, o navio proibido", que vai ser adaptado para o cinema pelo diretor Ricardo Zimmer, e "Poesia não vende", que traz depoimentos de Ivan Lins, Moacyr Scliar e Barbara Paz, entre outros. Informações: www.rodrigocapella.com.br