O POLIGLOTA DA LÍNGUA MÃE...

Certa vez, ouvi uma entrevista com o Prof. Pasquale Cipro Neto, na qual ele afirmava que deveríamos ser “poliglotas do Português”; então, comecei a desenvolver um raciocínio, em que acabei por concluir que, antes de sermos poliglotas em outras línguas, deveríamos ser “poliglotas” de nossa própria língua. Inicialmente me parecia ser uma loucura, mas a grande verdade é que muitos não se preocupam com a nossa língua nativa e até a desrespeitam em detrimento de outras línguas.

Em meus tempos de escola nos anos 1960 e 1970, ensinava-se o Francês e o Inglês, sendo que o primeiro foi extinto dos currículos escolares e o segundo permanece até hoje. Vejo com imensa tristeza a importância dada a uma segunda língua, sem que se dê a mesma ou maior importância à nossa língua mãe. A grande verdade é que muitos aprendem um segundo ou até terceiro idioma, sem sequer saber corretamente o nosso Português. Isto é realmente incrível, mas é a mais pura verdade. É comum nos dias atuais vermos crianças, jovens e adultos aprenderem novas línguas, enquanto praticam o Português de forma errada e equivocada. Para a infelicidade de muitos, saber outras línguas para o ambiente jurídico é muito bom; porém, não dominar o Português é péssimo. A má notícia será dada ao universitário que tem esta dificuldade no exame da OAB. O conhecimento de outras línguas, sem dúvida, é importantíssimo para a carreira e o currículo; no entanto, o Português deverá ser o ponto de partida para qualquer um que queira realmente ser um bom profissional do Direito. Ser poliglota da própria língua pode parecer uma incoerência ou uma piada muito engraçada, mas é uma grande verdade ou uma forma incomum de dizer o quão devemos ter de conhecimento profundo de nossa língua mãe. Talvez até não seja uma loucura tal afirmação, pois nossa língua é bastante complexa; e não seria exagero algum dizer que, ao obtermos o conhecimento abrangente, poderemos nos considerar poliglotas de nossa própria língua; basta se lembrar do Prof. Pasquale, que é autoridade no que diz. A grande verdade é que em nosso país existe uma grande influência de outras línguas e uma má influência em relação ao Português, ou seja, nossa língua muitas vezes é desprezada. Muitos exemplos são corriqueiros, muitos exemplos acontecem no dia a dia de qualquer brasileiro; porém, o pior de tudo é a forma como são discriminados os que falam corretamente e escrevem corretamente nossa língua. Incrível isto! Mas é uma triste realidade que, além de se tratar de um desrespeito ao nosso velho Português, se trata também de uma forma de tentar nivelar por baixo os que falam e escrevem corretamente. Para muitos, usar corretamente o Português é motivo de vergonha, ou melhor dizendo, é motivo até de chacota perante os amigos, as “tribos” ou comunidades em que vivem. As gírias são bastante antigas; entretanto, elas não cabem no mundo jurídico. O mundo jurídico exige conhecimento do Português e uma prática constante, pois, diferentemente de outros profissionais, o (a) advogado (a) talvez seja o único profissional que eterniza os erros que comete. Principalmente com a tecnologia que possibilita uma acessibilidade muito maior, ou seja, até então os textos ficavam apenas em pastas e mais pastas e hoje ficam visíveis na tela do computador. Com a chegada da tecnologia, o profissional da área jurídica, além de ter por obrigação o conhecimento de nossa língua mãe, passa a ter a obrigação do conhecimento de tais tecnologias. Já temos em muitas comarcas a implantação dos processos eletrônicos. E, com isso, certamente haverá uma tendência de melhoria quanto ao tempo dos processos, aliás, isto já está ocorrendo; todavia, tenho a percepção de que mudanças rápidas e consistentes deverão ocorrer na rotina do (a) advogado (a). Caso contrário, haverá um comprometimento no resultado do seu trabalho. Diria até que é iminente a necessidade de investimento em Informática e a tecnologia apropriada. Obviamente que a Informática não irá substituir os livros, nem tampouco o conhecimento do nosso bom e velho Português. Entretanto, o (a) advogado (a) contemporâneo (a) deve ser aquele (a) que aprende em sala de aula, somado àquilo que pratica e lê todos os dias, somado às novas tecnologias que estão chegando e sendo implantadas. Não adianta tentar se enganar, pois certamente aqueles que dominarem nossa língua mãe saberão usar a tecnologia em seu proveito, pois somente a tecnologia não fará deste o melhor profissional. Temos de somar tudo e jamais esperar que a tecnologia substitua o conhecimento obtido. Portanto, caros colegas, vamos à luta! O caminho é longo e árduo, mas gratificante. Boa sorte!

Geraldo Cossalter
Enviado por Geraldo Cossalter em 08/12/2014
Código do texto: T5063184
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