O DIA EM QUE ESBARREI EM EVELYN ANKERS
O DIA EM QUE ESBARREI EM EVELYN ANKERS
Rubens Francisco Lucchetti
Entre o início de 1944 e meados de 1945, trabalhei como office boy numa loja de autopeças pertencente a uns primos da minha mãe.
Essa loja ficava na Avenida São João, quase na esquina da Rua General Osório; e meu trabalho era fazer cobranças e entregas, percorrendo a pé as ruas do centro de São Paulo.
Ao lado da loja de autopeças, funcionava o Grill-Room Maravilhoso, que devia ser uma boate, pois tinha uma vitrina onde sempre estavam expostos cartazes e fotos de atrizes, cantoras e vedetes.
Numa tarde de 1944, saí para fazer uma entrega, carregando um pacote com meia dúzia de bombas para encher pneus de bicicleta. Eu caminhava tão distraído, que nem reparei que alguém descera de um carro (presumo que era um táxi) e cortara minha frente para entrar no Grill-Room. Esbarrei, então, nesse alguém, que era uma jovem loura muito bonita. A moça me segurou, para eu não cair; e, num outro idioma, falou algo que não entendi. Ela estava acompanhada de outras pessoas, que sorriam e me deixaram passar. Fiquei muito envergonhado e, sem saber se era o caminho que eu devia seguir, virei a primeira esquina. No dia seguinte, como de costume, parei na vitrina do Grill-Room... e vi várias fotos da loura e um cartaz no qual estava escrito o nome dela, Evelyn Ankers. Poucos anos depois, ao assistir a O Lobisomem, filme estrelado por Lon Chaney e produzido pela Universal, descobri que havia esbarrado numa atriz norte-americana (na verdade, ela nasceu no Chile e era britânica; mas trabalhou em muitos filmes estadunidenses e faleceu no Havaí).