Adrenalina pura. Esta expressão, tão usada nos dias atuais, para exemplificar algo extremamente emocionante, serve, em parte, para explicar os efeitos que o orgasmo e a excitação sexual causam no nosso corpo.
Muitos hormônios estão envolvidos neste processo, como também neurotransmissores cerebrais e uma série de fenômenos que mudam o comportamento, o sentido e o físico.
O estado basal do ser humano adulto é ter a pressão arterial máxima em torno de 120 mmHg (milímetros de mercúrio). No período da excitação sexual ocorrem várias mudanças no corpo:
- A pressão arterial aumenta, como também a frequência dos batimentos cardíacos
- Os brônquios se dilatam e a respiração se torna rápida, para oxigenar melhor o corpo
- Suamos, que é conseqüência da queima de calorias
- As pupilas se dilatam
- A pele se torna mais ruborizada devido ao aumento da circulação e oxigenação arterial periféricas
- Nos arrepiamos, pela contração dos minúsculos músculos abaixo da pele
- As mucosas, principalmente a genitália em ambos os sexos, se ingurgitam - causado também pelo aumento da vascularização arterial e venosa; acontecendo inclusive com os seios e os lábios.
Quero te comer
As substâncias responsáveis por este processo todo são as catecolaminas: noradrenalina, adrenalina, dopamina e seus derivados - que são produzidos pelos neurônios, atuando como neuro-transmissores.
Detalhe: adrenalina e noradrenalina também são secretadas pelas glândulas supra-renais.
As catecolamianas são secretadas como resposta ao exercício físico, frio, stress físico ou mental, hipoglicemia e excitação sexual. Estes hormônios são transportados pelo sangue até atuarem nos receptores de cada parte do organismo.
A adrenalina atua aumentando a glicose no sangue (através dos triglicerídeos). Precisamos de glicose e oxigênio para produzirmos energia para o trabalho muscular. Uma coisa interessante é que sentimos fome depois de exercícios exaustivos ou depois de um stress intenso (e fazer sexo não deixa de ser um stress físico). Isto acontece pelo uso repentino de glicose (açúcar). A insulina aumenta para levar este açúcar para dentro dos músculos. Se a insulina está maior que a glicose na corrente sanguínea, dá vontade de comer – como acontece em qualquer situação de hipoglicemia. Por isso, tanto sexo quanto a falta de alimentação são motivo para comer. Talvez daí se fale instintivamente em “comer” alguém, quando se quer transar. Se bem que, analisando pelo lado anatômico, quem “come” é a mulher, não o homem...
Virando bicho
Assim como um animal ao levar um susto ou que esteja sob perigo de agressão (quando este deve lutar fugir), todo um mecanismo de auto-preservação é ativado e, por causa das catecolaminas eliminadas, o corpo se prepara para este trabalho.
Resumindo:
- Respiração rápida - para oxigenar melhor o sangue
- Contração dos vasos sanguíneos - para “empurrar” o sangue
- Taquicardia - para bombear mais sangue
- Consumo de glicose (açúcar) - que promove a produção de energia. O suor, eliminado como resposta ao trabalho, mantém a temperatura do corpo e protege da hipertermia. Não precisa dizer: "Me faz suar!". Você suará...
- Dilatação das pupilas - para ser melhor visualizado o agressor
- Os cabelos se eriçam e a pele arrepia - por contração dos músculos superficiais do tecido subcutâneo. Talvez, um recurso para por medo no agressor.
- Os tecidos nobres de defesa recebem mais sangue: cérebro (para pensar), coração (para bombear) e os e músculos (para o esforço). Sendo assim, em situação de stress (qualquer stress, principalmente o susto), o oxigênio é mais exigido nestes órgãos e menos na periferia. Por isso, é comum a palidez nestas horas.
Esta é uma diferença entre o susto e a excitação: Enquanto no susto é acionado o sistema nervoso para liberação de adrenalina, na excitação sexual a noradrenalina tem maior atuação – esta, causando o que rubor cutâneo.
- A genitália masculina (corpos cavernosos e esponjosos, que é um sistema de vasos que irrigam o pênis), vai se dilatar e intumescer, causando a ereção. Os neurotransmissores passam a mensagem desta mudança de volta ao cérebro, que a traduz por prazer, desencadeando sucessivas contrações musculares que levam à eliminação do esperma acumulado na próstata – ejaculação.
Mulher ejacula?
Neurologicamente o cérebro e a genitália estão em consonância e os estímulos vão crescendo até um platô e depois à sua remissão, que acontece após a ejaculação.
Na mulher o processo é semelhante: Há o ingurgitamento vascular e intumescimento da mucosa de toda a vulva, períneo e vagina.
Existem duas glândulas na entrada da vagina, que não são visíveis nem palpáveis em condições normais - glândulas de Bartholin (uma de cada lado da cavidade vaginal). Elas eliminam um muco viscoso e transparente semelhante ao que o homem elimina pela uretra (durante a excitação), porém em maior quantidade. Esse muco é eliminado já no período da excitação e alcança seu máximo no orgasmo. Como a vagina é úmida, porém pouco lubrificada, é necessário este muco para permitir mais facilidade na penetração peniana.
Desta forma, todo o assoalho pélvico (masculino e feminino), principalmente os órgãos genitais, é submetido a contrações musculares e aumento da vascularização sanguínea. Durante todo o processo do orgasmo é possível se perceber pulsações sucessivas nestas áreas.
Sendo assim, mulher não ejacula, mas sente igualzinho o mesmo prazer que o homem sente.
Cortando o barato
Os neurônios envolvem a dopamina, adrenalina e noradrenalina para estimular o cérebro e causar disposição e impulso sexual, enquanto elimina serotonina e endorfinas para proporcionar sensação de prazer e relaxamento pós-orgásmico.
O ser humano se destaca dos outros animais por ter aprimorado a sexualidade. Nossa sexualidade é mais do que uma necessidade de procriação e perpetuação da espécie, mas, também, serve para a união conjugal ou, simplesmente, para aquisição de prazer.
Além dos sensores nervosos em pele e mucosas (que ao serem estimulados enviam mensagens que detonam o processo da excitação), usamos o recurso do pensamento, da fantasia, da visão, do olfato e da audição - o que, por muitas vezes, pode complicar o que é simples e natural.
Os conflitos na relação humana, a autodepreciação e a depressão passam a ser os maiores inimigos da sexualidade humana. Além disso, múltiplos fatores orgânicos levam à falta de interesse sexual (anedonia) ou influenciam negativamente uma performance sexual satisfatória - doenças endócrinas, neurológicas, cardíacas, urológicas, hepáticas e psiquiátricas, etc.
Somado a isso, certas drogas de uso continuado podem prejudicar o comportamento sexual, diminuindo a libido - anfetaminas, betabloqueadores, digoxina, interferon, metadona, cimetidina, indometacina, antidepressivos, alguns contraceptivos hormonais e outros. Dentre as drogas ditas ilícitas, a maconha age negativamente no desejo e desempenho sexual.
Conclui-se que, apesar de sermos seres complexos, na questão sexo, mantemos nossos instintos primitivos, com todo o processo fisiológico para tal desempenho. E devemos considerá-lo algo que faz parte da nossa natureza, tal qual o ato de comer, beber e dormir.
Leila Marinho Lage
Rio, março de 2007
CRM 52-38501-5
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