A PATROA E O EMPREGADO

A PATROA E O EMPREGADO

Certa senhora, esposa de um advogado rábula, proprietária de uma pequena empresa, por solicitação do marido, deu emprego a um seu afilhado e conterrâneo. Fê-lo com a intenção de ajudá-lo. Tratava-se de um elemento esperto e eficiente, cuja inteligência estava perdida num pequeno povoado onde não se vislumbrava nenhum futuro para o rapaz de tantas qualidades positivas.

Revelou-se um excelente funcionário, muito diligente. Trabalhador, não obedecia a horário, era o primeiro a chegar e o último a sair. Não fazia nenhuma reivindicação nem se envolvia com, greves e sindicatos, era um funcionário exemplar e sem exigir os registros legais, ao gosto do empregador.

A patroa estava plenamente satisfeita com o novo empregado, um servidor dedicado que era chamado de puxa-saco pelos colegas. Diante das atenções dispensadas pela proprietária, o gerente do estabelecimento passou a ter ciúmes do protagonista e a encará-lo como arrivista.

Em dado momento, instalou-se uma crise econômica no país, e a economia entrou em recessão. As vendas declinaram-se, e a dona do comércio passou a queixar-se das despesas e do pouco lucro, afirmando que, se tal situação continuasse, fecharia o empreendimento.

Com isso, pediu aos funcionários a colaboração para a redução das despesas: fazer uso racional da energia, da água, enfim, tudo que fosse possível economizar a fim de não haver demissão. Era um alerta, todos deveriam colaborar. Religiosa, via na demissão falta de solidariedade e de humanitarismo social.

À noite, compareceu, em sua residência, o afilhado do esposo a propor-lhe a redução dos salários de todos a título de colaboração até que se normalizasse a crise. A empresária, comovida, agradeceu a sugestão, demonstrando-lhe admiração e prometendo retribuir-lhe o gesto magnânimo no futuro.

Ao tomarem conhecimento da proposta, os demais empregados ficaram furibundos. O gerente, que trabalhava há muitos anos na firma, declarou: “Eu nunca vi tamanha submissão e cretinice”. Indignou-se com o puxa-saco pelo ato vergonhoso e infame. O salário é “imexível”, dizia com raiva do indigitado. A partir de então, dedicou desprezo à figura do bajulador pelo comportamento vil.

Surpreendentemente, o rapaz propôs ao gerente compensar a diminuição do salário de ambos, surripiando do caixa importância equivalente, escondendo dos outros a operação perpetrada.

Diz o adágio popular: “O puxa-saco consegue agradar por pouco tempo, depois torna-se inconveniente, caindo no descrédito”. Daí ser sensato não se confiar em bajuladores. O rapaz estava de caso pensado, queria conquistar a confiança da patroa, traindo a do padrinho, que procurou ajudá-lo, dando-lhe oportunidade. Denunciada pelo gerente a intenção do sujeito, a proprietária repudiou-o e deu-lhe as contas. Em revide o indivíduo entrou na justiça exigindo os seus direitos trabalhistas.

Como não se sabe o que se passa na cabeça das pessoas, o ideal é desconfiar de muita benevolência para não se terem surpresas desagradáveis. Há indivíduos que têm a mente poluída e agem com desonestidade. Enfim certo ou errado, houve um gesto de gratidão ao se oferecer emprego para o rapaz que retribuiu com ingratidão.

O salário é a garantia da subsistência e da paz social. É indispensável o esforço de entendimentos para soluções razoáveis e viáveis, pois o estipêndio é “imexível”.

Antonio Novais Torres

antorres@terra.com.br

Brumado, em 13/12/2012.

Antonio Novais Torres
Enviado por Antonio Novais Torres em 30/11/2014
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