Comentário sobre Texto de 
Walther Benjamin 
EXPERIÊNCIA E POBREZA

Benjamin viveu na Europa entre 1892 e 1940. Portanto, presenciou momentos significativos e de grandes mudanças na humanidade. As angústias dos tempos precedentes à primeira Grande Guerra, os horrores da guerra que matou mais de 10 milhões de europeus e as trágicas consequências do pós-guerra. Obviamente, isso mexeu profundamente com as raízes do pensamento filosófico de então.

Seu texto sobre “experiência e pobreza” nos dirige a uma interpretação das mudanças provocadas pelo conflito bélico do início do século XX. Suas reflexões nos ensinam a não ter medo de mudanças e deixam claro que a guerra jogou por terra todo o respeito pela tradição, pois a falência da experiência humana conduziu as nações a uma terrível autodestruição.

“Os combatentes tinham voltado silenciosos do campo de batalha”, não tinham porque ouvir e dar atenção aos mais velhos, aos conselheiros da experiência, as tradições que passavam de pai para filho e que mantinham as sociedades na mesmice de sempre. Agora, no pós-guerra a visão era outra, tudo deveria ser focado na nova barbárie : ir em frente, buscar desafios e descobrir novidades sem ficar preocupado com “testamentos”. A tecnologia desenvolvida nos campos de batalha, trouxe a libertação do homem que rompeu com o passado e com a tradição, era a ciência devorando a cultura.

A barbárie anunciada por Benjamin, tratava da “estirpe de construtores”, homens celebres que tiveram a audácia de provocar o mundo e citava os exemplos de Descartes, Einstein, Newton e Klee, todos que, ao romperem com as tradições, abriram caminho para o futuro, pois a herança cultural tinha se tornado uma carga pesada de suportar. A rejeição da tradição era o combustível necessário para conduzir a sociedade ao futuro. Por incrível que pareça, a miséria resultante da guerra tornava-se o embrião do homem moderno, livre da escravidão do passado, preso as tradições e a eterna repetição das experiências.

As reflexões de Benjamin nos levam a entender o que ele identificou como barbárie negativa e barbárie positiva. A primeira, definida na falsa sensação de segurança da cultura burguesa, ainda latente na época, fundada em uma tradição (experiência) agonizante e insustentável. A segunda, a barbárie positiva, provocada pela guerra, é um conceito novo e traz no seu bojo a ruptura incondicional com a cultura de então, que demonstrou toda a sua fragilidade ao desembocar o destino da sociedade em uma guerra de grandes proporções. O “caráter destrutivo” da barbárie positiva, na interpretação de Benjamin, é uma aposta na libertação da monotonia, do marasmo.

No último parágrafo do texto de Benjamin, ele diz “ficamos pobres”. Sim, as guerras nos deixam como herança não só a pobreza cultural como a pobreza material. Mas, a barbárie das guerras nos conduz à barbárie positiva, ao novo, à coragem de buscar o progresso em todos os sentidos, pois não temos mais como nos apoiar no corrimão da tradição, tudo desmoronou, tudo ruiu, “é preciso instalar-se, de novo, e com poucos recursos”.

Leandro Cunha