PERDENDO O BONDE
A geração política que emergiu com o fim da ditadura, definitivamente perdeu o bonde da moralidade. Já com os ditadores fora, em 1986 a banda Capital Inicial, cantava que as ruas tinham cheiro de gasolina e óleo diesel. Talvez, fosse uma premonição.
Trinta anos depois, não são apenas as ruas de Brasília que têm cheiro de gasolina e óleo diesel. Com a corrupção na Petrobras, a capital do Brasil inteira tem esse cheiro. Dos esgotos aos palácios governamentais, passando pelo Congresso Nacional.
A sorte dos políticos que estão por lá, e daqueles que saíram fazendo figa jurando não saber de nada, é que o cheiro não se incendeia quando um palito de fósforo aceso é jogado.
Azar de um país de não politizados, que ficarão marcados na História, como corresponsáveis pela corrupção se espalhar de norte a sul. Uma nação perde a sua essência moral, quando seus cidadãos deixam de se indignar. Pior que isso. Quando acreditam que também podem fazer parte dos corruptos e dos corruptores.
Desde o advento do “Mensalão”, eu me pergunto: De que galáxia os Caras Pintadas vieram em 1992? E como fazemos para chamá-los de volta agora? Em nenhum país sério, o governo se sustentaria, com um escândalo de corrupção desta magnitude. E não é que Dilma Rousseff está preocupada apenas com o novo Ministro da Fazenda.
Perto dos valores desviados pelo “Mensalão” e agora pela Petrobras, Paulo César Farias, o tesoureiro de Collor de Mello, não passa de um menor delinquente. Basta consultar os motivos do impeachment, e fazer a matemática dos valores.
Então entra no enredo o perigo dos maus exemplos. Paulo César Farias, deixou uma legião de seguidores que não param de crescer. Com o codinome de “PC”, ele foi o precursor dos esquemas. Parece que depois, uma sigla se apoderou deles. Ganhando com “louvor” um dez e uma estrelinha vermelha pelo aperfeiçoamento.
O que a mídia tem estampado nas últimas semanas, apenas reforça a tese que nosso sistema de governo presidencialista é falido. Para governar com maioria mínima, restam duas soluções. Uma é distribuir favores obscuros. A outra é se vender à custa de corrupção. Estamos deixando a nossa democracia adoecer perigosamente.
Tudo o que governos ou partidos políticos não devem fazer, no Brasil é feito com uma naturalidade espantosa. Os maus exemplos passam a fazer parte do nosso cotidiano de maneira pecaminosa. Estamos nos habituando e gostando desse vírus imoral.
E nossas crianças vão se corrompendo. As famílias. Os condomínios. As favelas. A sociedade. Também vamos perdendo nosso bonde. E, talvez, um dia ele deixe de passar.