A Grande Doutrina dos Fortes

Achei uma pérola um dia desses. É da médium Yvonne Pereira e está no livro À luz do Consolador, editado pela FEB. É impossível transcrever o capítulo todo, cujo título repito nesta matéria, mas permito-me transcrever pequeno trecho aos amigos:

"De quando em vez chegam aos nossos ouvidos queixas de irmãos em crença, cuja sensibilidade não se conformam com certos deslizes praticados por espíritas, que parecem não estar à altura da importante tarefa confiada pelo invisível aos adeptos da Terceira Revelação. Temos procurado reconfortar quanto possível esses delicados irmãos, chamando-lhes a atenção para determinados pontos de Doutrina, capazes de explicar também essa particularidade em torno em torno dos mesmos adeptos. E isso para que os queixosos não se dobrem ao desânimo, fazendo periclitar a própria fé, o que é sempre possível aos adeptos que se atenham a uma fé sorvida no que ouviram outros adeptos dizerem, em vez de se dedicarem aos livros da legítima Doutrina Espírita e às observações daí conseqüentes, indispensáveis sempre à boa instrução de cada um. O estudo eficiente do Espiritismo esclarece de tal forma os aspectos gerais da vida, como a situação dos espíritas, que, a ele nos dedicando devidamente, não mais surpresas nem vacilações nos chocarão em qualquer setor. Seremos então espíritas preparados para os entrechoques das múltiplas facetas da existência... e saberemos que o Espiritismo e o próprio Evangelho exigem que, para serví-los, sejamos realmente fortes, capazes de enfrentar quaisquer situações difíceis, seja no ardor das próprias provações, nas lutas do trabalho em geral ou diante das fraquezas e imperfeições dos irmãos em crença.

Meditando sobre o Evangelho, vamos observar que, para podermos praticá-lo, deveremos, acima de tudo, ser vigorosos de ânimo, corajosos a toda prova. Os primeiros discípulos do Nazareno e os primeiros cristãos foram espíritos fortes por excelência, idealistas audazes, práticos e não místicos, caracteres de ação, porque a tarefa a realizar seria volumosa demais para os ombros de um contemplativo.

Um caráter tíbio, por exemplo, como romperia ele com as tradições milenares do Judaísmo ou do Paganismo, para renovar totalmente as próprias convicções? Como enfrentaria, o tímido, a necessidade de se curvar à palavra revolucionária de Jesus, palavra que arrojaria por terra antigos preceitos de domínio e até de crueldade, para aceitar a união das criaturas através do amor, quando a força era que ditava leis? E, como suportaria o indeciso a ordem divina de compreender num mendigo, num leproso, numa pecadora, num publicano ou num samaritano o irmão a quem deveria amar e proteger, quando o ódio de casta ou de raça e o desprezo pelos pequeninos eram recomendações seculares? Como se haveria o impressionável, sob o imperativo de morrer pelo amor do Cristo a frente da espada dos herodianos ou nas arenas dos Circos de Roma, dando-se como repasto às feras? E, sem a coragem da própria fé - porque a fé é uma expressão de coragem -, como poderiam apor as mãos sobre um endemoninhado, um paralítico ou um leproso e curá-los em nome do Senhor? E ainda sem a fortaleza de ânimo, como acreditariam eles na vitória daquela estranha Doutrina saída de uma obscura província dominada pela águia romana. Doutrina que eles próprios deveriam espalhar pelo mundo, onde só a força, o egoísmo e o orgulho lavraram leis?..." (...)

E mais adiante, essa preciosidade:

"(...) Nas mesmas condições encararemos os espíritas. Os caracteres fracos, tímidos, indecisos, demorarão a se integrarem nos embates fornecidos pelo Espiritismo. Também este é Doutrina para os fortes, ou seja, para aqueles que, em migrações terrenas do pretérito, tanto erraram, e no Além-túmulo tanto sofreram por isso, que agora se dispuseram a uma reforma geral do próprio caráter através do Espiritismo. E, com efeito! Combater as próprias imperfeições, diariamente, não ignorando que, se eu não o fizer, desonrará a própria Doutrina a que se julgou filiar; socorrer necessitados sem possuir recursos suficientes para o mandato, confiante no auxílio do Mestre Nazareno; medicar enfermos sem haver cursado Medicina; subir a uma tribuna diante de assembléia numerosa, que espreita pronta para a crítica, a fim de defender a Verdade, sabendo que esse é um dever a que não poderá fugir, porque, ainda ontem, em existências transatas, deprimiu a mesma Verdade; enfrentar obsessores e fazê-los recuar dos Abismos do Mal para a suaves trilhas do Amor e do Perdão, certo de que é apenas intérprete das Forças do Céu, porque não possui virtudes para tão alto feito; investigar o Invisível com a própria fé e as forças do coração, porque sabe não ser anjo nem sábio; arvorar-se em secretário de entidades aladas para a produção de compêndios de Moral, de Filosofia ou de Ciências Transcendentes, e apresentá-los ao mundo impiedoso com suas críticas, não sendo escritor e tampouco possuindo diplomas universitários; submeter-se à vontade dos Mentores Espirituais e executá-los, sobrecarregando-se dia-a-dia das mais pesadas responsabilidades perante os homens e os espíritos; ser levado, por amor a Jesus, a perdoar e esquecer os ultrajes que lhe ferem o coração e conturbam o espírito; renunciar a cada dia, às vezes até mesmo às mais doces aspirações do coração, morrendo para si mesmo a fim de ressurgir para Deus e, acima de tudo, filiar-se às falanges dos discípulos de Jesus e dos baluartes da Terceira Revelação - não será dispor de forças supremas na Terra, não será ser corajoso por excelência? E convenhamos que é desses tais que Jesus precisa agora, como ontem precisou dos pecadores, dos mendigos, dos malvistos pela sociedade para a propaganda da sua Doutrina, únicos indivíduos que, apesar das imperfeições que portavam, estiveram à altura de compreender e executar os sacrifícios necessários à difusão da Grande Nova que surgia. (...)" .

Algo para pensar seriamente nestes dias difíceis do presente. Não é mesmo? Com todo empenho remeto o querido leitor à fonte original.

Orson
Enviado por Orson em 28/05/2007
Código do texto: T504263