AS COMPARAÇÕES IDIOTAS

Com a divulgação do estudo sobre a violência no Brasil, a mídia embarcou na onda das comparações. E correu para olhar o rabo de outro país. Longe em distância e realidade. Tão distante que se encontra em outro hemisfério. Faltou dizer que lá existe respeito às leis, severas e aplicadas. Aqui enganar a lei é uma regra. Quem não aprende é bobinho.

Fazer comparações da violência e criminalidade brasileira com a americana foi uma das maiores idiotices que já vi na mídia. Ou, foi um jeito de colocar nossos órgãos de segurança contra a parede? Essa é uma das marcas registradas da mídia. Nisso ela é especialista.

O estranho disso tudo, é que quando a mídia precisa defender um dos seus de algum ato criminoso, os microfones correm para as portas das delegacias clamando por justiça. As comparações serão justas, depois de se passar um pente fino na nossa violência. De saber a bagunça que temos em casa. De evitar que criminosos invadam condomínios.

As manchetes dizem que em cinco anos, a polícia brasileira matou mais que a polícia americana nos últimos trinta anos. E ninguém se interessou pelo número de policiais americanos mortos no mesmo período. No Brasil as estatísticas apontaram 450 mortos. Isso não foi manchete nos jornais. Ficou pelo meio da notícia comparativa

Já que o assunto é comparações, podemos permanecer nos Estados Unidos. Quantas vezes o exército americano foi convocado para “assustar” criminosos nas favelas de lá? Ou, quantos postos de polícia pacificadora eles foram obrigados a instalar?

Quantos juízes americanos mandaram soltar um criminoso, no dia seguinte a sua prisão, depois que a policia demorou oito meses para capturá-lo? Em quantas postagens de usuários americanos do Facebook, existem relatos de madrugadas de pavor e tiroteios pela disputa do poder e do tráfico de drogas?

Antes de fazer comparações idiotas seria bom saber a diferença dos índices da criminalidade americana dos últimos trinta anos, com a brasileira dos últimos cinco anos. Será quantos confrontos diretos houve entre polícia e criminosos lá, e aqui no mesmo período.

Eu gostaria de saber da polícia americana, quantos ônibus incendiados eles tiveram nos últimos tempos. Quantos protestos terminaram em destruição do patrimônio público e privado. Ou, se eles passam a mão na cabeça de criminosos, ou delinquentes juvenis.

Antes de sair fazendo comparações, precisamos acordar para a nossa realidade. Hoje o que temos no Brasil está além de simples criminalidade. Estamos vivendo uma guerra silenciosa no nosso dia a dia. Enquanto o crime se “organiza”, e com armas nas mãos vai vencendo, a mídia idiotamente prefere comparar rabos alheios.