PIETAS

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR

O mundo é um lugar perigoso de se viver, não por causa daqueles que fazem o mal, mas sim por causa daqueles que observam e deixam o mal acontecer.

Albert Einstein

Entendemos como sendo piedade, a palavra de origem latina “pietas”, de “pius”. É importante ressaltar de que a referida palavra tem dois sentidos: 1º) compaixão, dó, pena de alguém; 2º) devoção e ou respeito por alguém e ou por coisa digna de ser assim venerada. Assim sendo, no sentido de compaixão, de pena, de dó de alguém, reflete inevitavelmente um sentimento ou piedade passageira, tendo em vista que leva direta e indiretamente a proferir palavras e ou gestos, in loco, sem valor real e ou concreto, algo abstrato, pena, amor, consideração, respeito, choro, soluço, etc., como por exemplo, o ato de ficar emocionado diante de familiares de alguém que faleceu e ou de alguém que passa privação e ou necessidade básica primária de toda ordem diante de catástrofe pública e ou de abandono individual e ou coletivo, inclusive por seus familiares e ou pelo próprio poder público constituído. A simples falta de água para beber é um dentre inúmeros outros exemplos. Podemos também citar como exemplo, o caso de uma pessoa que nasceu rica, de família tradicional, bem estudada, que passou a usar drogas e a ser morador de ruas, onde sua única fonte de renda é roubar e ou pedir esmola. O mesmo pode dizer por analogia ao caso de uma pessoa que já nasceu desprotegida da família e do Estado, enquanto poder público. Isso por si só se configura um estado de miserabilidade de um individuo pedinte, escolar na expressão da palavara, ao qual a população com pena lhe dá esmolas para puder sobreviver. Uns dão e outros zombam, negam. O ato de dá esmola não é eficaz ao ponto de promover o individuo na inclusão social, haja vista que ele continua na condição de esmoler, pedinte e incapaz de sonhar com algo novo, de futuro para si e para sua prole. Somente a educação formal (na academia) e informal (motivação e socialização através dos meios de comunicação, igreja, Estado, associação, partidos políticos, etc) o transformará como pessoa contextualizada no mundo do trabalho. A vitória individual e coletiva é isso. É o trabalho a mola propulsora capaz de incluí-lo na sociedade como cidadão pensante e digno para resolver seus próprios problemas sem depender da piedade pública e ou da vontade alheia. Os programas sociais dos governos (federal, estadual e municipal), são bons e necessários em termos de inclusão social, e até porque são financiados e pagos com os impostos diretos e indiretos pagos pelos cidadãos ativamente trabalhando, porém, servem em muitos casos como incentivos a evolução da mendicância institucionalizada, onde a sociedade fica como refém e responsável direta e indiretamente pela manutenção desses tipos de projetos meramente eleitoreiros, porque fica essa parcela da população nacional sempre dependente de tais programas, via os “salvadores” da pátria que vão se apresentando em cada campanha política. Fazem presentes com a força do trabalho alheio. Falta planejamento pelo Poder Público em termos instrucionais e educacionais para fazer essa mesma população sonhar e puder sair da linha da miserabilidade e ou da pobreza extrema, que ainda atinge mais de 30 (trinta) milhões de brasileiros. Falta qualificar essa gente para o trabalho ativo e não o trabalho de estender a mão para receber esmolas da piedade pública estatal e ou da coletividade. É essa a inclusão social necessária para pais, filhos, netos e bisnetos, atualmente oferecida pelo poder do estado. Essa gente precisa qualificar-se e ir prestar serviços a coletividade envolvendo todos os setores da vida nacional e por isso pagar impostos diretos e indiretos, além de aprender enfrentar sua dificuldades de frente. Não ficar de braços encruzados, esperando o final do mês para receber bolsa escola, etc. E isso não significa certeza de Brasil grande nas próximas décadas, pelo contrário isso símbolo de acomodação e atraso a dignidade humana. Pensamos assim que os “poetas e tantos são feitos com palavras”, no dizer de Manoel de Barros¹, enquanto a pobreza deve viver a margem da miséria, tendo em vista que é tratada como gente sem futuro. Os programas inclusão social tem que qualificar e promover essa gente para o trabalho, somente assim erradicará esse estado de calamidade e piedade pública. Pensar assim é dar um grito de vitória em favor da cidadania. Fazer trinta milhões e ou mais de pessoas sonhar apenas com programas de inclusão social, é oficializar a alienação generalizada dessa gente. Isso é o que se chama morto vivo. Isso é esmola pública oficial e isso não liberta nem dignifica ninguém, diante de sua evolução e continuidade durante décadas, falta à promoção integral do ser humano, via educação, emprego e renda. Os governos deveriam incluir nos programas de inclusão social todas as pessoas necessitadas, porém, efetuar-lhe o pagamento mínimo de um salário mínimo nacional, em regime especial, enquanto o estado de pobreza persistir, porém, essa gente deveria trabalhar limpando estradas ferroviárias, estradas federais, estaduais e municipais, pinturas de prédios e meio fio público, etc. Isso sim é incluir o cidadão em um programa de inclusão social capaz de dignificar o homem e sua prole. Isso não é fabricar esmoler. É essa gente que tem força de construir o seu futuro e não apenas receber as esmolas dos governos. Nas religiões o termo piedade é usado como meio para engrandecer e louvar a Deus, enquanto em política isso significa que alguém está com fome, sem casa, sem educação, sem trabalho, sem segurança, sem família, sem saúde, sem garantia de qualquer tipo de futuro, etc. Isso é deplorável, pois, “choramos ao nascer porque chegamos a este imenso cenário de dementes”, no dizer de William Shakespeare².

Já é tempo dos governos remover a máscara sínica de fazer inclusão social dando esmola e fabricando esmoleres e pedintes, esse comportamento de pedir voto e de pedir pesar a viúva e filhos, diante do falecimento do chefe da família (pai e esposo), que viveu o tempo todo sendo mantido apenas por programas de inclusão social, diante de sua desqualificação para o trabalho, e além do mais ficou ocioso, dedicou-se a jogatina de azar, as drogas, ao submundo dos crimes, enquanto o Estado fazia ouvido de marcador. Isso sim que é digno de se ter piedade. É muito prático pedir voto de pesar, ter pena, ter piedade, isso em nada compromete com o compromisso de vida e educação transformadora dessa gente por poder da administração pública direta e indireta. Ainda tem gente que diz que é pobre e vive na miséria porque essa é a vontade de Deus. Ledo engano. Enquanto a classe política dominante e ou não, assim pensar, porque dá voto em tempo de eleições, nada vai mudar no universo dos miseráveis, pois, os programas sociais de inclusão, por analogia são “semelhantes” a ter piedade, ter dó, ter pena, apresentar voto de pesar, não constitui qualquer compromisso de compartilhamento fraterno da mágoa e dos problemas antigos, atuais e futuros que a viúva e seus filhos terão que enfrentar diante do falecimento do chefe de família nessas condições. Ele morreu e os problemas de sua prole continuam insolúveis. Isso significa que “viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe”, na visão de Oscar Wilde³. Vamos educar e qualificar essa gente para o trabalho e para a vida, a inclusão social é precisa, porém, perpetuar os programas de inclusão social sem promover o homem, significa um mero sentimento de passividade e constrangimento prolongado, “ad perpetuam” em continuar expondo essa gente a miséria pública local, nacional e internacional. O tempo por si só não resolverá essa chaga humana chamada piedade pública, precisamos de ação removedora que vise a promoção da dignidade humana.

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¹ Cf. Pensamento do poeta Manoel de Barros, falecido em 13/11/2014.: < http://g1.globo.com/mato-grosso-do-sul/noticia/2014/11/morre-aos-97-anos-o-poeta-manoel-de-barros-em-campo-grande.html > Página acessada em: 13/11/2014.

² Cf.:< http://pensador.uol.com.br/autor/william_shakespeare/biografia/ > . Página acessada em: 13/11/2014.

³ Cf.< http://pt.wikipedia.org/wiki/Oscar_Wilde> . Página acessada.: 13/11/2014.

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR
Enviado por FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR em 14/11/2014
Reeditado em 14/11/2014
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