O amor venceu o ódio?
No ano de 2014, o povo brasileiro protagonizou uma das eleições mais disputadas na história do País. A conclusão dos cientistas políticos se deve, certamente, as reviravoltas do primeiro turno, onde a candidata Marina Silva era cotada para o segundo turno com a presidente Dilma Rousseff, mas terminou sendo ultrapassada pelo candidato Aécio Neves. No segundo turno, o tucano e a petista disputaram a presidência da republica voto a voto, sendo que o resultado final, garantiu a reeleição de Dilma Rousseff por uma diferença relativamente pequena, se comparada a eleições anteriores.
Nesse período eleitoral, especialmente no segundo turno, os brasileiros levantaram suas bandeiras e defenderam com garra e determinação o candidato da sua preferencia. Era evidente a disputa através das redes sociais, dos sites de noticias, dos blogs, das revistas e das Tvs. A disputa presidencial também dividiu opinião nas famílias, nas conversas de botequim, nas universidades, além dos grupos e movimentos religiosos. Todos foram afetados e envolvidos pela política Nacional. Parecia até a disputa eleitoral da minha cidade entre o “Rabo Fino” e o “Boca Preta” onde a pergunta chave é a seguinte: “você é de qual lado?”.
Umas das expressões que ouvi e vi replicadas em várias postagens nas redes sociais antes do segundo turno foi a seguinte: “o amor vence o ódio”. E depois do segundo turno, com a reeleição petista a frase ficou assim: “o amor venceu o ódio”. Passado o calor da emoção politica partidária resolvi buscar uma das definições de amor mais respeitadas na história da humanidade para confrontar com os acontecimentos desse período e os que podem acontecer no futuro.
Essa passagem encontra-se na Bíblia, em Primeiro Coríntios Capitulo 13 e Versículos de 04 a 07, onde o Apóstolo Paulo, assim o define: “O amor é paciente, o amor é prestativo; não é invejoso, não se ostenta, não se incha de orgulho. Nada faz de inconveniente, não procura seu próprio interesse, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”, (Cor 13, 4-7).
Considerando o contexto social em curso, o “amor que venceu o ódio” é o sistema politico vencedor, que traz como principal bandeira, “a bolsa família”. Trata-se de uma iniciativa importante no combate a miséria de uma parte significativa do povo brasileiro. São milhares de pessoas beneficiadas, especialmente na região nordeste, que tanto sofre com a escassez de água, alimento, e muitas vezes, a falta de oportunidade de um trabalho digno. Outras bandeiras, com uma capacidade inferior na produção de votos, são defendidas pelo sistema vencedor, entre elas: “O minha casa, minha vida; a luz para todos; o pronatec; o sistema de cotas; a supervalorização dos LGBTs; financiamentos de carros, casas e motos etc”.
Por outro lado, o grupo vencedor, promoveu o que até então, não tinha sido trabalhado com tanta clareza em nenhuma campanha política na historia do Brasil. Trata-se da clara definição entre ricos e pobres. Em qualquer lugar que a palavra politica fosse pronunciada, imediatamente, ouvia-se um militante petista encher a boca e dizer: “O PSDB é o partido dos ricos, temos que votar no PT que é o partido dos pobres”. Esse discurso foi inculcado na cabeça de milhares de brasileiros, possuidores de uma pureza de alma, que não imaginam a verdadeira intenção dos financiadores desse pensamento. O resultado da campanha petista veio depois da eleição com as provocações grosseiras de alguns grupos paulistas ao povo Nordestino que em sua maioria, de maneira ingênua entraram na onda vermelha.
O crescente abismo entre ricos e pobres, amplamente divulgado pelos militantes petistas durante a campanha, nos traz alguns questionamentos, entre eles: quem financia os programas sociais, entre eles, o Bolsa Família, são os ricos ou os pobres? Se a resposta é: são os ricos! Então, o que levou o Partido dos trabalhadores a se utilizar de tal expressão, ao ponto de gerar um conflito isolado entre o coração econômico do País e a Região Nordeste? Estaria em jogo, interesses coletivos, ou apenas, a defesa de mais um mandado presidencial? Tais perguntas não tiveram e nem terão respostas, pois a responsabilidade do ato citado, já foi atribuída aos seus adversários. E eu pergunto: Isso é amor? O amor “Nada faz de inconveniente e não procura seu próprio interesse”.
A desqualificação pessoal dos adversários durante a campanha foi outra estratégia adotada pelo PT. E, diga-se de passagem, exitosa. Conseguiram minar a imagem de Marina Silva e finalmente, emplacar algumas máximas contra Aécio Neves, como: “se os tucanos ganharem vão privatizar tudo; vão acabar com a Bolsa família; vão congelar os salários e etc”. É interessante observar que as máximas petistas estimulam sempre a revolta contra o adversário, ou seja, ele é apresentado sempre como uma figura demoníaca, um ser incapaz de fazer a coisa certa, um ser contrario a qualquer tipo de progresso. Essa é a imagem que o PT transmite dos seus adversários. E a democracia? Nessa altura, tá na lata do lixo. Isso é amor?
Essa confirmação se tornou ainda mais evidente com a publicação de uma Resolução da Comissão Executiva Nacional do Partido do Trabalhadores, datada do dia 03 de novembro de 2014, com as seguintes palavras: “A oposição, encabeçada por Aécio Neves, além de representar o retrocesso neoliberal, incorreu nas piores práticas políticas: o machismo, o racismo, o preconceito, o ódio, a intolerância, a nostalgia da ditadura militar”. O mesmo documento ainda faz a seguinte recomendação: “Os textos apresentados como contribuição ao balanço devem ser amplamente divulgados no site do partido, até a próxima reunião do Diretório Nacional”. E eu volto a perguntar: Isso é amor?
A manipulação petista junto aos seus militantes e os beneficiários do bolsa família é tão grande, que mesmo com os inúmeros escândalos de corrupção, por tudo que é lado, inclusive, com participação de integrantes da alta cúpula do partido, a maioria das pessoas se mostram indiferentes, incapazes de se indignarem com a situação. Muitos para tentar justificar recorrem a governos passados e apontam os escândalos da época. Agora pergunto: é lícito justificar um roubo com outro roubo? É certo justificar um escândalo com outro escândalo? É coerente da nossa parte, deixar que aproveitadores, deite e role, com o nosso dinheiro e ainda pose de herói?
Vejam, não questiono o fato de ser o PT que esteja no poder, mas questiono a maneira como os bens públicos, e os valores éticos e morais têm sido tratados no Brasil. Para não perder a capacidade de defender o que é essencial a nossa vida, vamos recorrer ao que São Paulo nos ensina: “O amor é paciente, o amor é prestativo; não é invejoso, não se ostenta, não se incha de orgulho. Nada faz de inconveniente, não procura seu próprio interesse, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”, (Cor 13, 4-7). Isso sim é amor!