Prece a uma aldeia perdida

Prece a uma aldeia perdida nasceu depois de uma viagem que fiz ao sul de Minas Gerais. Eu subi a pé uma serra, linda, a Serra da Tormenta, e de lá de cima vi Carmo do Rio Claro, uma cidade que parece o símbolo do mundo, talvez por ser tão pequena. Estava chuvendo, e lá do alto havia uma capela, uma cruz – os mineiros são muito religiosos –, e quando cheguei lá em cima parou de chover, abriu-se uma fresta entre as nuvens e apareceu um raio de luz tão bonito... Um poeta nascido na cidade, o Roberto Gonçalves, me guiou. As pessoas que vivem nesses lugares têm um poder de síntese extraordenários. Vi uma fabricação de queijo, aquele queijo que leva 8 litros de leite, vi uma fábrica de doces de um artesanato quase inconcebível, ouvi conversas de gente da roça, vi as crianças andando sozinhas  nas ruas, que mundo era esse? Que tempo era esse?  Alguma coisa ali permaneceu. A montanha era de uma solidez... A aldeia...  E eu voltei para São Paulo, e pensei; o que passa? O que fica? Por quê?
 
Ana Miranda
(Escritora)

 
Ana Miranda
Enviado por RG em 14/11/2014
Reeditado em 14/11/2014
Código do texto: T5034598
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