Um novo aprendizado

Há décadas, educadores, sociólogos e outros profissionais da área, discutem as formas de ensino e aperfeiçoamento dos métodos para garantir que a escola possa transmitir o que os estudantes precisam para um futuro de sucesso.
Mais recentemente, a neurociência tem se envolvido nesta questão, até então, mais didática. As bases científicas vêm da neurobiologia, isto é, se todo o aprendizado se da através das ligações neurais, essas alterações cerebrais devem ser acompanhadas. A neurobiologia pode fornecer elementos para criar teorias didáticas modernas.
Partindo dessa idéia, há alguns anos surgiu a neurodidática, uma disciplina para aprofundar essa questão. Ela procura configurar o aprendizado da melhor maneira que o cérebro é capaz de aprender, sem deixar de considerar as questões pedagógicas, amplamente defendidas pelos pedagogos mais voltados às ciências humanas.
Ao nascer, o ser humano possui centenas de bilhões de neurônios que sofrem pequenas reduções ao longo da vida. De início, surgem as sinapses em profusão (pontos de contato que transmitem as informações entre as células), uniformemente distribuídas. Utilizando-se de técnicas adequadas, é possível facilitar o aprendizado. Depois, tem início a “poda”: perduram e fortalecem-se apenas as ligações utilizadas com freqüência, as demais, se atrofiam. Na puberdade, esse processo praticamente já se encerrou. Já no indivíduo adulto, está à disposição uma rede neuronal bem estabelecida, mas com menor capacidade de adaptação. Por isso, é essencial estimular as sinapses cedo e da forma mais variada, quando possível, nas crianças.
Por muito tempo, deu-se como certo, que a capacidade e o potencial de aprendizado era predeterminada pela genética. Experimentos demonstraram, porém, que a hereditariedade define somente o básico para a construção neuronal. O fluxo das informações provenientes dos sentidos e a interação dinâmica e constante com o meio, determinarão o que vamos aprender e que talentos desenvolveremos. A emoção e motivação são fundamentais, pois, estimulam os circuitos neuronais, aumentando a capacidade de armazenar informações. Com isso, o cérebro se desenvolve e demanda, interação constante com o mundo exterior.
Aprender, significa também trilhar caminhos próprios, pesquisar e experimentar coisas. Além disso, a criança ganha confiança nas próprias capacidades e consegue lidar melhor com suas deficiências. “Com a cabeça, o coração e as mãos” – assim deve ser o aprendizado ideal na concepção de Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827). Os resultados da pesquisa neurocientífica moderna, dão razão ao pedagogo suíço reformista.
Mas, isso só será possível, quando professores e educadores, compreenderem como transcorrem os processos de aprendizado do ponto de vista neurobiológico. Por essa razão, as neurociências e as ciências da educação, precisam trabalhar juntas, em colaboração mais estreita.
Curiosidade, interesse, alegria e motivação, são os pré-requisitos desejáveis ao aprendizado. São essas condições que os sistemas educacionais deveriam criar, estimular e consolidar bem antes do ensino fundamental.
Todo ser humano,desde o seu nascimento necessita aprender. Por essa razão, utilizar a neurodidática não significa apenas desenvolver métodos de aprendizado que levam em conta a neurobiologia do cérebro infantil: significa, também, acreditar na disposição de aprender como qualidade humana fundamental. Nesse sentido, a primeira iniciativa governamental, foi implantada pela Secretaria Estadual da Saúde, com o programa Primeira Infância Melhor.
A Sociedade atual, vem transferindo aos poucos o cuidado das crianças da família para a escola. Por isso, a grande preocupação dos pais com o espaço escolar, atribuindo aos professores, mais que a guarda dos filhos, mas a formação, a proteção e a salvação do aprendizado das ruas. Atribuem as escolas e seus profissionais o dever de dar conta de toda a complexidade presente na educação dos seus filhos. Quando pensamos no campo da formação ética e de cidadania, os ônus dos problemas da educação, não podem ser prioritariamente atribuídos aos professores. Há outros fatores como a mídia, por exemplo, que desenvolve o papel do corpo docente de uma maneira estupenda e eficaz. Essa área, tem um enorme impacto na formação de nossas crianças, pois só de programação televisiva, uma criança, ao chegar na idade escolar, já assistiu em média, mais de cinco mil horas, e justamente nos seus primeiros anos.
Basta ver a quantidade de estímulos que são submetidas desde os primeiros meses de vida para entender o porquê. “As crianças de hoje estão bem mais espertas”. Esses estímulos são decorrentes, especialmente dos avanços da tecnologia, ausentes nas gerações passadas. Há os que atribuem esse “precoce” desenvolvimento a chegada das chamadas crianças índigo. Não discuto que essas venham desempenhar seu papel de mudança, mas a variedade de opções, os avanços científicos e pedagógicos não podem ser negados neste processo.
Diante disso, professores e pedagogos já começaram a buscar nos neurocientistas, ajuda para desenvolver novas estratégias de ensino, uma vez que, isso não desobriga governantes, orientadores, inclusive os pais, a reverem metodologias de trabalho, de repensarem seu papel na educação.