Atestado de óbito da sociedade

Causa mortis: impunidade

Temos protestado bastante contra o exagerado nível de violência que está envolvendo a sociedade nos últimos anos. As páginas policiais apresentam manchetes repetidas semanalmente do tipo:

1) Chacina de NN pessoas na localidade de YY. Só mudam NN e YY.

2) Banco AA assaltado em pleno dia. Levaram MM mil reais. Dos 5 assaltantes, quatro foram presos e um "escapou" levando o dinheiro do roubo (?). Só mudam AA e MM.

Eventualmente, as polícias despreparadas e desmotivadas, apoiadas no espírito cívico e heróico de grande parcela de seus integrantes, capturam alguns marginais que circulam entre nós com suas armas mortíferas. Estes facínoras são colocados em delegacias e presídios esburacados, por onde fogem quando lhes é oportuno, caso os advogados de confiança demorem em retirá-los pelos falhos mecanismos da Lei obsoleta que não resiste à arma mais letal: as canetas dos corruptos.

Certamente esta situação tem causado mensalmente pânico e tristeza entre centenas de famílias que perdem seus entes queridos e são obrigados a mudarem sua conduta de vida: não se arriscam a sair depois das 18 horas nem portar uma pulseira de R$ 50,00 adquirida no armarinho do bairro.

Se for feita uma estatística contabilizando estas mortes nos últimos 10 anos, chegaremos a números absurdos, maiores que os das épocas de guerras internacionais. Só que neste levantamento, não são colocadas as vítimas oriundas de crimes causados pela ganância em busca dos lucros fáceis e rápidos, que contaminam os aposentos e escritórios dos governantes que são dominados e subornados pelos nobres do poder. Eis algumas vítimas não registradas no arquivo da violência:

1) 150 mortos do Bateau Mouche.

2) 8 mortos do Palace na Barra.

3) 11 heróis da plataforma P36 da Petrobras.

4) Milhares que faleceram por falta de assistência hospitalar pois a CPMF é desviada para os cofres do FMI.

5) Milhares que morreram de fome, enquanto os silos alugados por valores 5 vezes acima da média guardam grãos estragados de milho, feijão, arroz e outros suprimentos.

6) Milhares que se suicidaram após perderem seus empregos em função da atrofia que nossa economia sofre por força de um modelo administrativo podre.

Os bandoleiros causadores destas chacinas estão soltos, bem alimentados e bronzeados, fazendo viagens, trazendo armas e drogas para serem espalhadas entre os menos afortunados e os desesperados que violentam nossa vida diária.

Vamos parar aqui para que você não morra de depressão em função deste quadro aterrorizante. Refresque sua cabeça e dentro de um minuto tente identificar os causadores de tantas tragédias. Não precisa ser detetive formado para descobri-los. São os abutres que estão nos postos de comando da nação, espalhados por Prefeituras e Estados corrompidos, acobertados por Câmaras Legislativas devidamente coniventes, seguidores do modelo podre que vem do planalto central. E assim agem pois contam com a benevolência da Lei, que não é alterada por conveniência, que é mantida emperrada para deixá-los livres, gerenciada por uma grande parcela de juízes "amigos", que jamais se atrevem a dar um parecer contra os poderosos e já foram incorporados ao "esquema". Um deles até comandou desfalque na construção de um prédio em São Paulo. E já está em liberdade, desfrutando das mordomias no lar, rindo do povo que considera imbecil. No entanto, a maior culpa é nossa, que não nos motivamos numa cruzada cívica em busca dos direitos que temos em função dos altos impostos pagos. Nossa agenda não nos dá espaço para uma reunião (mensal que fosse) com a comunidade, pois não podemos perder um capítulo da novela que enfraquece os valores morais e familiares nem a uma série do Big Bobo Brasil, onde um inocente que pronuncia uma frase com 5 palavras é rotulado de "gênio" pelo apresentador do programa.

O crescimento da impunidade é inversamente proporcional à cidadania da sociedade.

Haroldo P. Barboza – Recreação Educativa (idosos e infantil)

Autor do livro: BRINQUE E CRESÇA FELIZ!

Haroldo
Enviado por Haroldo em 25/05/2007
Código do texto: T501242