“As impossibilidades da Educação”
“As impossibilidades da Educação”
Falar sobre educação é iniciar longas e intermináveis discussões. É discorrer sobre teorias que fomentam as aulas nos cursos acadêmicos. Nosso sistema educacional tem sido motivo de constantes críticas. De comparações diversas ou adversas. Contudo, muito pouco tem sido idealizado para mudar a nossa realidade quanto às lacunas que o mesmo tem deixado. No momento não se pretende fazer uma abordagem teórica sobre qualquer que seja a concepção acerca do ato de educar, do mediar e possibilitar a construção de saberes sistemáticos.
Na verdade, há outras preocupações que nos envolvem. O certo é que a classe docente é constantemente responsabilizada pela má qualidade do ensino. Esta por sua vez faz duras críticas ao sistema e ao governo. Fala-se sobre a ausência da família na escola, da indisciplina dos educandos, da falta de inclusão digital. Notório é que os fatores são diversos e as responsabilidades são distribuídas, sem que alguém assuma a sua parcela de contribuição no déficit educacional que as estatísticas teimam em nos alertar.
Nossa tendência é nos eximir de nossa cumplicidade no processo, em relação aos muitos envolvidos, os outros deverão ser sempre os culpados. Assim, a nossa educação continuará nesse jogo de empurra-empurra, poucas atitudes ou medidas serão tomadas em conjunto para viabilizar mudanças satisfatórias na prática docente.
A questão do salário do professor surge vez por outra como fator definitivo para a melhoria da qualidade do ensino aprendizagem. Precisamos analisar se esta questão é tão simples. Como se apenas ter um salário que se aproxima do percentual que é digno, àquele que media os saberes para todos os demais profissionais, pudesse transformar a realidade de nossas salas de aulas. É sabido que justamente este déficit no salário gera outras atividades, as quais tiram do educador tempo e disponibilidade para a elaboração de sua aula, bem como de fazer pesquisas para aprimoramento de seu conhecimento.
Porém, outro fator surge como agravante no processo. Há professores que não continuam sendo capacitados para o exercício de suas atividades docentes. A formação continuada é tão necessária quanto ter um salário digno. O trabalho fragmentado em muitas escolas tem tornado difícil o desenvolvimento de projetos. Professores que não mantém relacionamentos em equipe, profissionais que atuam à deriva, sem nenhuma responsabilidade com aquilo que fazem em sala de aula, colocam em descaso a nossa educação, denotando falta de compromisso, bem como, a falta de preparo para estarem responsáveis por educandos em formação, que podem ter nestes péssimos exemplos motivos para desencorajarem da vida estudantil.
O momento atual é decisivo. O governo tem investido recursos na educação. Tendo em vista o que foi feito até hoje um detalhe, porém, é relevante, a falta de planejamento, a aplicação de projetos feitos por teóricos que distam de nossa realidade, a falta de acompanhamento, pouca objetividade e responsabilidade nesses recursos, tem gerado dados, estatísticas, mas infelizmente pouco têm mudado na perspectiva de melhorias educacionais. São dados que mascaram nossa realidade.
Ainda lidamos com uma educação deficitária. Sabemos do despreparo do nosso educando quando sai do Ensino Médio. Ele não sabe muitas vezes para que fora preparado. Os saberes construídos durante a sua vida estudantil parece limitados ante as exigências que o mundo pós-moderno lhe cobra. Saber mais de uma língua, domínio na área informática, nível de leitura e escrita que muitas das vezes ele não detém. Ao deparar-se com uma redação, são muitas as incertezas. Não sabe dissertar sobre algo. Não tem a capacidade de lidar com situações diversas. Por quê? Porque a nossa escola não prepara o cidadão para a vida. Nossos métodos ainda são obsoletos. Não acompanhamos as profundas transformações porque passa a nossa sociedade, as mudanças que aconteceram na maneira de lidar com as informações e de como os conhecimentos são elaborados e assimilados.
Poderíamos nos deter sobre vários fatores que contribuem de certa forma para o atual quadro de nosso sistema educacional, porém seria apenas mais uma denúncia, soaria como um diagnóstico redundante. São coisas que bem sabemos. São fatores que presenciamos diariamente. Melhor seria se pudéssemos começar a olhar para as possibilidades que ainda dispomos para fazer acontecer o processo de ensino aprendizagem em nossas salas. Motivação é algo que não nos vem como um passo de mágica. É preciso saber a que viemos. Porque resolvemos assumir uma sala de aula? Se estivermos ali apenas para garantir um salário mínimo, pode acreditar, nos tornamos menores em valor do que o que embolsamos todo final do mês. Somos seres pequenos demais para puder influenciar nossas crianças. Seremos algozes, destruidores de sonhos. Mataremos muitos profissionais, enterraremos muitos talentos. Sem falar que macularemos ainda mais a imagem do pedagogo, daquele que na Idade Média tinha toda a confiança das famílias, as quais entregavam seus filhos a estes tutores na esperança que eles transformassem estes em homens e mulheres responsáveis, trabalhadores, bons profissionais.
E nós? Que papel estamos desenvolvendo ante nossos alunos, que podem nos olhar como paradigmas? As possibilidades deveriam começar por nós. Mas estamos mais interessados em falar de todas as impossibilidades que há na educação. Detemo-nos nos obstáculos e assim cancelamos todas as possíveis conquistas. Porque lutar já não é mais preciso. Consideramos a nossa derrota antes mesmo de haver qualquer esboço de resistência. Você é uma possibilidade de mudança. Você professor, pedagogo, diretor, coordenador pedagógico...nós é que faremos a diferença, não espere que eles façam. Comece a fazer hoje mesmo, o que já deveria ter sido feito!!!
Luciano Costa ( 24/05/2007)
Pedagogo – Especializando em Gestão Educacional.