Querer nem sempre é poder

Tem gente que não gosta de nada; está sempre reclamando, botando defeito nas coisas, sem encontrar nada que tenha gosto, que o agrade, que satisfaça. Essas pessoas estão sempre em desacordo com a vida. Se está frio sentem ca-lor; se está quente dizem-se com frio. Se chove gostam do sol; se é verão têm saudades do inverso. Nas refeições, a comida nunca está a seu gosto: ora quente, ora sem sal, ora mal-passada. Por conta dessa permanente descon-formidade e fastio com o momento atual, suas vidas perdem o sentido, conver-tendo-se naquela “náusea” de permanente insatisfação referida pelo filósofo existencialista.

A esse respeito, lembrei-me de uma historieta interessante que costumava contar a meus alunos, quando dava aulas na Universidade. É um texto reve-lador e de alta pedagogia, que vale a pena ler e refletir.

Uma filha se queixou a seu pai sobre sua vida e de como as coisas estavam tão difíceis para ela. Ela já não sabia mais o que fazer e queria desistir. Estava cansada de lutar e combater. Parecia que assim que um problema estava re-solvido um outro surgia. Seu pai, um chef, levou-a até a cozinha dele. Encheu três panelas com água e colocou cada uma delas em fogo alto.Em uma, ele colocou cenouras, em outra, ovos e, na última, pó de café. Deixou que tudo fervesse, sem dizer uma palavra. A filha deu um suspiro e esperou impacien-temente, imaginando o que ele estaria fazendo. Cerca de 20 minutos mais tar-de, ele apagou as bocas de gás. Pescou as cenouras e as colocou em uma tige-la. Retirou os ovos e os colocou em uma tigela. Então, pegou o café com uma concha e o colocou em uma tigela. Virando-se para ela, perguntou:

- Querida, o que você está vendo?

- Cenouras, ovos e café, ela respondeu, meio de mau-humor.

Ele a trouxe para mais perto e pediu para experimentar as cenouras. A garota obedeceu e notou que as cenouras estavam macias. Ele, então, pediu que pe-gasse um ovo e o quebrasse. Ela obedeceu e depois de retirar a casca verificou que o ovo endurecera com a água quente. Finalmente, ele lhe pediu que tomasse um gole do café. Ela sorriu ao provar seu aroma delicioso.

- O que isto significa, pai?

O homem explicou que cada um deles havia enfrentado a mesma adversidade, a água fervendo, mas que cada um reagira de maneira diferente. A cenoura entrara forte, firme e inflexível, mas depois de ter sido submetida à água fer-vendo, ela amolecera e se tornara frágil.

Os ovos eram frágeis, sua casca fina havia protegido o líquido interior, mas depois de terem sido fervidos na água, seu interior se tornara mais rijo.

O pó de café, contudo, mostrou uma característica notável; depois que fora colocado na água fervente, ele havia mudado a água. O pai então perguntou à filha:

- Qual deles é você, minha querida?

Quando a adversidade bate à sua porta, como você responde? Você é como a cenoura que parece forte, mas com a dor e a adversidade você murcha, torna-se frágil e perde sua força? Ou será você como o ovo, que começa com um co-ração maleável, mas que depois de alguma perda ou decepção se torna mais duro, apesar de a casca parecer à mesma?

Você pode ser como o pó de café, capaz de transformar a adversidade em algo melhor ainda do que ele próprio? Nós somos os responsáveis pelas próprias decisões. Cabe a nós, somente a nós, decidir se a crise irá ou não afetar nosso rendimento profissional, nossos relacionamentos pessoais, nossa vida. Ao ou-vir outras pessoas reclamando da situação, ofereça uma palavra positiva. Mas você precisa acreditar nisso.

Nós também somos, algumas vezes na vida, cheios de vontades e desejos, ora querendo isto ora aquilo. O que somos, afinal? Cenoura? Ovo? Ou café?

É preciso que cada um confie em si, fortalecendo capacidades suficientes para superar os desafios. Quando alguém o convidar para tomar um café, que você possa repassar essa história. Uma vida não tem importância se não for capaz de influenciar positivamente a outras vidas.

Antônio Mesquita Galvão
Enviado por Antônio Mesquita Galvão em 24/05/2007
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