FRANCISCO DE ASSIS E A MANSIDÃO DO LOBO
Na homilia da missa do domingo, padre Júlio narrou a história (com “h” minúsculo, como fez questão de enfatizar) de Francisco e o Lobo.
Segundo contou, na cidade de Gúbio (Itália) havia um lobo feroz que devorava animais, criancinhas e até adultos. O povo já não conseguia mais sair de casa de tanto medo.
O jovem de Assis resolveu intervir em favor daquela gente e foi ao encontro do animal. Ele acreditava na possibilidade de mudar a situação, chamando o lobo para um acordo. Por mais que as pessoas falassem o quão mal era a fera, o rapaz intuía que era preciso dar-lhe ao menos uma chance. Encontrou o irmão lobo (era assim que o chamava) e em tom suave pediu-lhe que não mais atacasse àquelas pessoas, oferecendo-lhe em troca o alimento que necessitasse para sobreviver. E o lobo reagiu mansamente, inclinando-se aos pés de Francisco.
“É uma lenda”, disse o padre, ao concluir a narrativa. Ele nem precisava dizer. É óbvio que isso nunca existiu, nem nunca vai existir. Mas reconheço a sua boa intenção em repassar essa história, cujo propósito é apresentar o comportamento do santo como um modelo a ser seguido.
Uma das reflexões que a narrativa traz é que devemos ir desarmados ao encontro do outro. Sem julgamentos, sem o que pensamos saber sobre ele, sem dar atenção aos falatórios. Francisco foi até o lobo, sequer esperou que este fosse até ele. Fez sua parte, foi sem o olhar de ódio, mas com uma proposta de convivência.
O pároco seguiu com a reflexão da nossa atitude diante do comportamento do outro. Foi quando citou como exemplo as brigas no trânsito, em que um motorista insulta o outro, e o outro, que nem tinha intenção de brigar, acaba aceitando a provocação e reage, e um sai do carro, o outro também, e daí está feita a confusão, podendo terminar de forma trágica.
E continuou, dizendo que é possível que haja lobos dentro da nossa casa, na nossa comunidade, no nosso ambiente de trabalho, etc. Há, sim, lobos por toda parte, devoradores e maléficos. Que às vezes nem matam, preferem ferir, pra que a morte seja lenta e dolorosa. Há também aqueles que maltratam com patadas, pisoteando.
Seria perfeito se conseguíssemos conviver em paz, sem a existência do mal. Mas domesticar lobos é uma tarefa difícil. Eu não sei fazer isso. Às vezes me afasto, pra me defender.
É, eu confesso: às vezes também me afasto para não atacar (de vez em quando dá vontade e é difícil segurar). Normal, já que não sou santa.
Mas eu vou me empenhar em seguir o exemplo de São Francisco, que em oração diz "é dando que se recebe". Assim, quanto mais amor eu der, mais amor eu terei.