UM SONHO DE PRIMAVERA

Eu gosto de olhar pela janela quando a primavera vem se anunciando. O visual se renova. Parece que a natureza nos imita diante de um espelho. Embelezando-se toda para ir a uma festa. Uma festa de cores, perfumes e cantorias.

No começo das manhãs e no fim das tardes, já ouço alguns sabiás ainda desafinados ensaiando a sinfonia. Sei que nos dias atuais, com as cidades cercadas pelas selvas de pedras, ouvir uma sinfonia de sabiás é um privilégio. Eu sou um desses privilegiados.

Outro privilégio é ter um pé de ipê plantado no quintal. Cedo ou tarde ouviremos uma pergunta triste: O que é um quintal? Pena que a beleza do espetáculo dos ipês floridos dure tão pouco tempo. Mesmo assim, vale a pela esperar um ano inteiro por ele.

Setembro também é lembrado na História pelos ideais Farrapos. Aqueles heróis e anônimos que lutaram contra o regime imperial. Por uma década, o sonho de uma república esteve no coração e na ponta da espada de cada um deles.

Quando somos beliscados pela realidade atual, sentimos um vazio de civismo. Tristeza pela maneira como nossos políticos tratam a república brasileira. Certamente os espíritos Farrapos gostariam de menos homenagens e mais atitudes.

O que temos hoje espalhados pelo país são fiapos sem ideais nem ideologias. Um bando de pobres de ideias. Sem ideias, o palco da mídia foi transformado numa arena de gladiadores sem cérebro. Numa caçada por votos, esses brucutus trocam socos e pontapés através de acusações mútuas. É uma pena que as caras não deformem.

Em plena campanha presidencial, quando o país deveria ser embalado por perspectivas e convicções possíveis, e não enganado pelos balaios das promessas, o dono das manchetes é um delator. O status da corrupção ficou maior do que os presidenciáveis. E a delação nem precisou fazer pontaria para acertar em todos os partidos

Certamente não fazia parte do ideal Farrapo um bando de políticos de ”A a Z”, com o rabo preso entre as pernas. Alguns poderão dizer, e eu concordo que não existe confiabilidade na boca de um delator acusado.

Todos se lembram. Roberto Jefferson também não era confiável. Seria o mesmo filme se repetindo com o mesmo script? O sonho Farrapo não pode conviver com delatores governo após governo. Estamos carentes de novas cores e perfumes. Novas cantorias.

Eu tenho um sonho. Ainda quero estar vivo para ver uma nova primavera se anunciar no Brasil. Que jardineiros extirpem as ervas daninhas da corrupção, e da mesmice. Extirpem os sem cérebros. Que semeiem jardins coloridos de ideais e mudanças país afora. O meu temor é que isso só seja possível, outra vez, com a ponta de uma espada.