Quem odeia Bolero de Ravel?
Comentário sobre o pps RAVEL. Vejam o pps neste link
Quando eu falo de alguém maçante, chato, repetitivo, costumo dizer que esta pessoa é como o Bolero de Ravel. Da mesma forma, uso este termo para me referir às coisas comuns, banais, super conhecidas, populares, entretanto muita gente nem sabe do que se trata O Boléro (título original em Francês).
No fundo, bem lá no fundo, eu admiro muito esta obra. Tanto é que passei uma tarde inteira estudando sobre ela, depois que usei a música para fazer uma apresentação em Power Point Slides.
Queria escrever sobre o tema “sexo”, mas tentava mostrar a importância da procura pelo prazer entre o casal, sem se preocupar com o orgasmo.
Precisava de uma música. Tentei várias, mas ficou parecendo música de motel... Não era essa minha intenção.
Daí, lembrei desta música, só que tocada pelo guitarrista Stanley Jordan, num ritmo de jazz maravilhoso.
Mudei o final da poesia e acabei fazendo uma homenagem a Ravel.
Na música original Joseph-Maurice Ravel (1835/1937) criou uma melodia cadenciada, repetitiva, onde os instrumentos musicais vão entrando aos poucos, numa combinação de clarinete, oboé, saxofone soprano, trombone e um tambor marcando o ritmo. Quando toda a orquestra chega, a música “explode” e termina de repente.
Ida Rubinstein (1875/1960), atriz e dançarina russa, pediu para o autor compor uma música para a sua companhia de balé, com harmonia em estilo espanhol. Este balé foi dançado pela primeira vez em 1928, com coreografia de Nijinsky.
Segundo especialistas, esta é a música francesa mais tocada no mundo até hoje. Ficou famosa e popular na cena de encerramento do filme Retratos da Vida (Les uns et les autres – produzido em1981), de Claude Lelouche, onde se pode admirar a dança do bailarino argentino Jorge Donn nos Jardins do Trocadero, bem próximo à Torre Eiffel. Desta vez, a coreografia foi de Maurice Béjart (1928/1991), que concebeu a obra num estilo diferente, uma vez que, a princípio, Bolero ilustra coreograficamente O Espírito da Primavera.
Dizia Béjart: “Música demasiadamente conhecida, mas sempre nova, dada a sua simplicidade. Uma melodia (de origem oriental e não espanhola) que se enrola em si própria, que aumenta de volume e de intensidade, devorando o espaço sonoro e envolvendo a melodia no final”.
Bem antes deste filme eu assisti este balé ao vivo e nunca o esqueci. Eu era menina ainda e minha mãe me levou para assistir uma apresentação no Ginásio do Maracanãzinho. Eu pensei que iria ver patinação no gelo e comecei a reclamar de estar vendo balé de um tal de Maurice “Beija lá não sei o quê”...
Minha mãe me enfiou um monte de pipoca na boca e me mandou ficar calada. As luzes se apagaram. Apenas um foco em cima do dançarino, que estava em pé num mini-palco, como se fosse um tambor. Ele não tirava os pés do chão e a coreografia toda se baseava nos movimentos de seu corpo.
A simbiose da sua interpretação com a música, aquela luz focada naquele homem, que mais parecia um anjo descalço, o silêncio do público naquele espaço enorme que é o Ginásio, isso tudo, me fez sentir arrepios e o coração bater forte. A pipoca ficou rolando de um lado pra outro na minha boca, pois eu não conseguia fechar a mesma de tão impressionada que fiquei. Babei... Confesso que babei...
Se todo mundo fala mal de Ravel, eu nem quero saber. Cada dia que passa eu vou aprendendo a gostar mais dele. Ainda vou procurar o “Concerto de piano para mão esquerda”, que este gênio fez para o músico Paul Wittgenstein, que perdeu o braço na guerra. Imaginem a destreza que um artista tem que ter...
Dizem que Bolero de Ravel tem uma entonação sensual, mas que, se sexo fosse assim, ad nauseaum, a coisa não rolaria lá muito bem...
Nijinsky e Bejárt deram sua versão para Bolero. Por que não eu? E o faço num pps.
Leila Marinho Lage
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