CHIFRUDOS: OUSADIA E REDENÇÃO

Ninguém está livre desse ficcional aparato e por certo não vamos ser os primeiros nem os últimos, ainda mais neste tempo de levantamento das cancelas morais, da aberta vontade de transar quando se temo desejo batendo à porta...Transar? Copular? Esta ação expressada popularmente pelo verbo “foder”, que traduz ação geminada tão importante – humana e linda – parece feia como palavra, mas diz tanto... E é algo que resgata o animal emotivo, trazendo uma carga sensória que faz tanto bem ao corpo. Não é que vocábulos como “chifrudo” ou “corno” sejam de todo feios, e sim, porque a carga pejorativa (e hipócrita) enrubesce o rosto de quem aceita o pejo vilipendiado na alcunha. Há tantos homens e mulheres que vivem chafurdados no íntimo, e cabisbaixos pelo peso da culpa pretendida (no outro) como se o adultério ainda existisse como fato punível... Não é a hora de se reinventar o ato e o gozo à revelia dos chifres? No fundo, bem no fundo, somos todos destinados à reaprendizagem. Sossega! Será possível pensar em que alguém tenha visto de permanência, enfim o sinete do amar calcado no corpo do outro?

– Do livro POESIA DE ALCOVA, 2014.

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