A ALMA E A FELICIDADE EM ARISTÓTELES *

RESUMO: Neste trabalho serão apresentadas algumas considerações sobre a importância desse estudo para o Estagirita, e nesse contexto surgem inevita-velmente algumas questões: Quem move o corpo é a alma? Como seria o movimento da alma? A alma é corpórea ou incorpórea? Ela pode incorporar em qualquer corpo? Só seres humanos têm alma? Qual é a melhor forma de vida? Como alcançar a felicidade? Discutir alguns conceitos sobre a alma e a felicidade em Aristóteles, bem como algumas críticas a seus predecessores, procurando definir esses conceitos, destacar alguns pontos e observações feitas pelo filósofo Ernest Tugendhat, em seu livro: “Lições sobre ética”.

Palavras-Chave: Aristóteles – Tugendhat – alma – felicidade.

INTRODUÇÃO

Neste trabalho serão apresentadas algumas considerações sobre a importância deste estudo para o Estagirita, e nesse contexto surgem inevitavelmente algumas questões: Quem move o corpo é a alma? Como seria o movimento da alma? A alma é corpórea ou incorpórea? Ela pode incorporar em qualquer corpo? Só seres humanos tem alma? Qual é a melhor forma de vida? Como alcançar a felicidade?

Inicialmente serão apresentadas algumas considerações preliminares sobre o estudo da alma e sua importância para Aristóteles. Em seguida, far-se-á considerações acerca de algumas características das doutrinas anteriores, procurando definir alguns conceitos e destacar pontos como: o movimento, a percepção sensível e a natureza incorpórea. Posteriormente, abordar-se-ão questões a respeito das críticas ao conceito de alma de seus antecessores. Após a enumeração dessas doutrinas, segundo aquelas três noções gerais atribuídas à alma, o Estagirita dá início ao seu exame e começa a assinalar a sua própria compreensão da alma. Depois faremos uma definição geral da alma em Aristóteles, na qual não se analisará cada caso particular, e sim, a intelectiva e suas implicações. Finalmente, discutir-se-á a “felicidade (eudaimonia) em Aristóteles” e algumas observações feitas por Ernest Tugendhat.

CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES SOBRE A ALMA

Antes de iniciar-se o estudo, será utilizado o conceito de alma da Enciclopédia Logos, para termos um melhor entendimento quanto à importância de seu estudo:

<<Alma>> vem do vocábulo latino anima; o masculino <<ânimo>> é o anímus, latinização do termo grego &#61537;&#61550;&#61541;&#61549;&#61551;&#61562;, (vento, sopro). A ideia mais primitiva de A. prende-se, portanto, com a vida e com o seu princípio: animado ou animal é aquele corpo que se move, respira, tem alento, tem sangue... Enquanto a anima significa em geral o princípio da vida, o animus designa sobretudo o princípio pensamento, o espírito, o dinamismo do ente animado, a coragem. Os Gregos usam para o primeiro significado o termo &#61561;&#61557;&#61539;&#61544; e para o segundo o termo &#61553;&#61550;&#61549;&#61683;&#61555;. Sinais indiscutíveis de vida são, de fato, a respiração e o sangue. Simplificando muito, podemos reduzir a dois os sentidos globais de A.: 1) princípio da vida, do pensamento ou de ambos; 2) princípio de inspiração moral.

Nas primeiras linhas do livro De anima de Aristóteles ele considera que uma investigação sobre a alma:

[...] estaria bem entre os primeiros. Há inclusive a opinião de que o conhecimento da alma contribui bastante para a verdade em geral e, sobretudo, no que concerne à natureza; pois a alma é como um princípio dos animais. Buscamos considerar e conhecer sua natureza e substância, bem como todos os seus atributos, dentre os quais uns parecem ser afecções próprias da alma, enquanto outros parecem subsistir nos animais graças a ela. (DA 402a1. p. 45)

Devido a essa importância Aristóteles expõe a opinião dos filósofos sobre esse tema, descrevendo-as de forma imparcial e fazendo algumas observações. No entanto, não pretendemos aqui pesquisar sobre cada uma das doutrinas mencionadas por ele o que escapa ao escopo imediato de nossa investigação, mas apenas destacar alguns pontos.

ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DAS DOUTRINAS ANTERIORES

O Estagirita considera que três características atribuídas à alma por seus antecessores determinam suas definições, a saber: “[...] o movimento, a percepção sensível e a natureza incorpórea” (DA 405b10. p. 54).

É a partir desta qualificação da alma que o Estagirita classifica as doutrinas daqueles que o antecederam. Assim, segundo Aristóteles, eles distinguem o animado do inanimado, por ser o primeiro dotado de movimento e percepção (DA 407b7. p. 51). No que diz respeito à incorporiedade da alma, as opiniões são mais divergentes, dividindo-se entre aqueles que fazem dela um princípio corporal, outros um princípio incorporal, e ainda aqueles que a definem segundo estes dois princípios tomados conjuntamente (DA 404b30. p. 52).

Porém, de todo e qualquer modo, todos designam a alma como algo muito sutil, dado que ela se encontra em constante movimento, segundo as teorias precedentes. Aristóteles, portanto, classifica o primeiro grupo de doutrinas segundo aqueles que definem a alma como um princípio de movimento automotriz, pois, conforme explica, presumiram que o que não estivesse em movimento não poderia mover outra coisa (DA 403b24. p. 49). Tais são as doutrinas da alma de Demócrito e de alguns Pitagóricos (os que consideraram ser a alma os resíduos que o ar contém), como Platão, Anaxágoras e outros.

O segundo grupo é formado por aqueles que consideram a alma como automotriz e princípio de percepção e professam que o semelhante é conhecido pelo semelhante (DA 404b7-405b17). Dentre estes, encontram-se Empédocles, Platão, Anaxágoras. Mas se a classificação for segundo os que definem a alma como corpórea, ou incorpórea, para o primeiro caso designa as doutrinas de Demócrito e certos Pitagóricos, Tales, Diógenes, Heráclito, parece que à exceção de Demócrito, Aristóteles dedica pouca atenção a este grupo). Para o segundo caso, inclui as doutrinas dos Pitagóricos, de Platão e de Xenócrates. Quanto aos que consideram os princípios que constituem a alma como sendo às vezes corporais, às vezes incorporais, enumeram as doutrinas de Empédocles e de Anaxágoras, embora não pretendamos aqui examinar cada uma dessas doutrinas, nem afirmar que a doxografia do De anima é fiel às teorias enunciadas. Segundo Aristóteles, Anaxágoras encontra-se entre aqueles que caracterizam a alma como automotriz, mas acrescenta que este não deixa claro se há uma identidade, ou não (DA 404a25-b7. p. 50- 51).

CRÍTICAS AOS CONCEITOS DE ALMA DE SEUS ANTECESSORES

Depois de enumerar essas doutrinas, segundo aquelas três noções gerais atribuídas à alma, “o movimento, a percepção sensível e a natureza incorpórea” (DA 405b10. p. 54), Aristóteles dá início ao seu exame crítico. Ao classificar as doutrinas da alma de seus predecessores, a partir das características acima enumeradas, observa-se que Aristóteles pretende assinalar a sua própria compreensão da alma enquanto princípio de movimento, de percepção, sendo ela própria incorporal, antes do que se restringir a um mero relato das teorias que o precederam. Aristóteles, então, dirige-se ao pensamento daqueles que o antecederam e os classifica segundo estas noções gerais que ele mesmo assume, embora não da mesma forma que seus predecessores.

Percebe-se que o estagirita busca os elementos que se adequem, com suas próprias formulações, legitimando-as, ou permitindo-lhes refutar essas doutrinas a partir de sua própria teoria da alma. Assim, começam suas críticas, e a primeira delas é endereçada às teorias da alma automotriz. Aristóteles, desde as primeiras linhas do capítulo, afirma ser impossível que o movimento pertença à alma, pois não é necessário que o motor seja movido por si mesmo. Uma vez que, “[...] os que dizem que ela é o que faz mover-se a si mesma ou que pode mover, como talvez seja algo impossível subsistir movimento na alma” (DA 405b31. p. 55). Assim sendo, não há qualquer possibilidade que a alma se mova por si mesma, e ao afirmar esta impossibilidade parece estar considerando, por conseguinte, algo sobre a natureza da alma, a saber, que esta é essencialmente imóvel. Entretanto, a alma pode se mover sem ser ela mesma móvel. Parece que Aristóteles pretende antes demonstrar que o primeiro motor é imóvel, do que discutir sobre a alma como um princípio motor imóvel, e é necessário distinguir que se o primeiro motor, de toda a e qualquer forma é imóvel, para justificar sua formulação, observa-se que as coisas podem se mover “[...] de dois modos pois ou é movido por outro ou por si mesmo” (DA 406a3. p. 55), sendo que se move por outra coisa, tudo o que é movido pelo fato de estar contido em uma coisa móvel, conforme a analogia dos navegantes que estão dentro de um barco, sendo que esse navegante ocupa um lugar (espaço), porém a alma não ocupa espaço. Desse modo, embora os navegantes se movam quando o barco se move, eles não se movem propriamente, mas se movem porque move aquilo em que eles se encontram, ou seja o barco, portanto, movem-se por acidente (DA 406a13. p. 55).

Logo, esta é a posição de Aristóteles acerca do movimento da alma, ela se move segundo o lugar porque é em um corpo movível (por acidente), mas ela mesma é imóvel, ainda que ela seja o princípio do movimento nos seres vivos. Por conseguinte, é um motor imóvel (DA 408a29-34. p. 61). Porém, a analogia entre o movimento da alma em um corpo e o movimento dos navegantes em um barco possui seu limite. Afinal, a comparação é exata para compreendermos o movimento da alma segundo o lugar, não é a alma mesma que se faz mover, mas o corpo no qual ela se encontra.

No entanto, o movimento não se produz por uma causa física, o que se leva a pensar que por meio do exemplo do movimento por acidente dos navegantes em um barco, mas por certa escolha e pensamento (DA 406b25. p. 57), pois não depende de corpo algum.Já a alma é também essencialmente imóvel, mas é em um corpo, logo, ao menos por acidente ela se move.

Aristóteles em seu argumento para refutar às doutrinas da alma automotriz, diz respeito à impossibilidade de oferecer uma explicação física para o caso da ação motriz (que causa movimento) da alma sobre o corpo, pois a alma não é uma grandeza, não sendo pelo contato que ela produz o movimento, afinal, ela é antes, forma inseparável da matéria. Em “Timeu explica em termos físicos que a alma move o corpo, pois é por mover-se e por estar entrelaçada ao corpo que ela também o move” (DA 406b25. p. 57), sendo que todos os paradoxos ocorrem do fato de não se compreender a relação da alma com o corpo desta maneira.

*Trecho do livro: REFLEXÕES FILOSÓFICAS, do escritor Rogério Corrêa

Para continuar lendo acesse um dos links abaixo:

http://www.livrariacultura.com.br/scripts/resenha/resenha.asp?nitem=82695381&ranking=1&p=reflex%C3%B5es%20filos%C3%B3&typeclick=3&ac_pos=header&origem=ac

http://www.amazon.com.br/REFLEX%C3%95ES-FILOS%C3%93FICAS-1-ROG%C3%89RIO-CORR%C3%8AA-ebook/dp/B00KB1PFLM/ref=sr_1_1?ie=UTF8&qid=1401066734&sr=8-1&keywords=reflex%C3%B5es+filos%C3%B3ficas

http://store.kobobooks.com/pt-br/books/reflexoes-filosoficas/SXFqGLbo9EeULZgKp3hqAw?MixID=SXFqGLbo9EeULZgKp3hqAw&PageNumber=1

http://www.livrariasaraiva.com.br/produto/7506498?PAC_ID=18659

Boa leitura,

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ROGÉRIO CORRÊA
Enviado por ROGÉRIO CORRÊA em 09/09/2014
Reeditado em 09/09/2014
Código do texto: T4955415
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