A FÉ NÃO PRECISA DE TEMPLOS

São comuns na nossa mídia escrita, colunistas se esculachando em nome da ideologia. Alguns defendem a direita brasileira com unhas e dentes. Outros defendem a esquerda com a mesma ferocidade.

Vejo esses tipos como imbecis. Defender a esquerda ou a direita do Brasil é se atirar na mesma vala comum. Do que a política brasileira ainda está distante, é da ideologia. Do verdadeiro significado de direita e esquerda.

E se eles existem, é porque uma das coisas fáceis na política é promover lavagens cerebrais. Ainda mudamos de lado como trocamos de roupa quando nos convém. Quando visualizamos vantagens. Pior, é quando nos tornamos “xiitas” deste ou daquele lado. Vendemos a nossa ideologia baseados nas ideias de outros.

No domingo que passou a primeira parte da coluna de Elio Gaspari no jornal A Folha de São Paulo, me deixou ainda mais preocupado. Seria o início de uma guerra religiosa na mídia? Certamente respostas aparecerão. E estaremos diante de outra imbecilidade.

Ao fazer comparações, Gaspari usa a grandiosidade do recém-inaugurado “Templo de Salomão”, para nivelar a importância das outras religiões por baixo. E coloca a capacidade dos evangélicos um nível acima.

Erra terrivelmente quando afirma que o templo será o símbolo da fé dos brasileiros, e da cidade de São Paulo. As cidades não precisam de símbolos de grandiosidade. Elas precisam cuidar dos seus habitantes. Tratá-los com dignidade e respeito. Em seus lares.

Ter a certeza de sair de casa e voltar. De que não será assaltado e morto na esquina. Que terá um médico disponível quando uma doença chegar. Que seus filhos terão uma educação de qualidade. Que poderão passear com eles tranquilamente pelas ruas, mesmo quando já for noite. Isso não se faz com símbolos e nem com templos.

Gaspari acerta quando dá a entender que nenhum templo fecha milagrosamente suas portas diante de pedófilos e promíscuos. E comete a gafe de comparar a fé com produto. Ou, não seria uma gafe. Então, vou além. A fé não precisa de templos. As lavagens cerebrais que são vendidas sim.

Eu não preciso entender a fé alheia. Ninguém precisa. Já é complicado entender a minha própria. Também, não precisamos nos habilitar a um pacote turístico de três dias em Gaza. O convite que Gaspari faz àqueles que não entendem a fé alheia.

Basta uma excursão de algumas horas pelas favelas de qualquer cidade brasileira. Se o medo for demais, quem sabe passar pelo “ladeirão” do Morumbi em certos horários. Temos muitas Gazas silenciosas no Brasil. Ou, talvez, a fé deixe muitos surdos.