Saber construir a vida

Eu sempre ouvi dizer que a gente, para construir uma vida feliz e gratificante, é preciso que se eleja ideais de valor, perenes, pelos quais valha a pena viver. E até morrer, se preciso for. Quantas pessoas se vê por aí, que viveram uma vida medíocre, correndo atrás de coisa pequenas, presas ao dinheiro, à posição social e ao status, e chegaram à velhice com aquele gosto amargo do fracasso na boca. Há suicidas da Terceira Idade que decidem pelo gesto extremo depois de se perguntar: “Qual foi o ideal da minha vida? Será que vivi todos esses anos, só por isso?”.

Para estabelecer ideais de vida que valham a pena, é preciso que saibamos construir, a nós mesmos e a forma como se quer ser feliz. É preciso ter a preocupação constante, a partir das coisas simples, de construir para a vida.

Há dias li num desses blogs de Internet que, quando colhemos uma flor para nós, um gesto banal, começamos a perdê-la, pois logo ela vai murchar em nossas mãos ou em nosso vaso, e não se fará sementes para outros nas primaveras.

O mesmo ocorre com o pássaro que aprisionamos em uma gaiola. Ele deixará de cantar para todos no bosque, nem criará filhotes em seu ninho. Quando a gente guarda dinheiro, automaticamente começa a perdê-lo. O dinheiro só tem valor pela alegria que ele pode nos proporcionar. No banco ou debaixo do colchão ele se torna neutro a sensações de bem-estar.

Conheci um homem idoso, há mais de trinta anos atrás, que juntava dinheiro em latas de leite em pó, debaixo da cama. Era um patrimônio que ele amealhou por mais de sessenta anos, desmatando florestas, cortando árvores e carregando as toras para a serraria. Um dia, quando tinha uns oitenta anos, pressionado pelos filhos e netos, ele resolveu chamar um gerente de banco, para contar aquela fortuna e depositá-la numa conta. Depois de abrir todas as latas ficou constatado que o dinheiro, por conta de várias trocas de moeda, havia perdido seu valor. E o que sobrou ficou tão mofado que foi incapaz de ser aproveitado. O homem trabalhou a vida toda, juntou muito dinheiro e não pode usufruir absolutamente nada.

No tocante à liberdade (e ela está intimamente ligada à felicidade humana), ocorre um fato análogo. Quando não arriscamos nossa liberdade começamos a enfraquecê-la, porque a liberdade que temos se realiza quando optamos e decidimos, mesmo sob risco.

Durante nossa vida, quando mantemos os filhos presos a nossos cuidados e caprichos também arriscamos perdê-los, porque pode ser que nunca os veremos voltar para nós, livres, maduros e vencedores.

A gente sempre ganha o que se deixa, e perde-se o que se retém.

Antônio Mesquita Galvão
Enviado por Antônio Mesquita Galvão em 17/05/2007
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