SOMOS SERES ESTRANHOS

No domingo que passou, tive o privilégio de assistir ao vivo o resgate da família soterrada no prédio que desabou em Aracaju. Digo privilégio, porque foram momentos de extrema emoção. Lembrou os mineiros do Chile.

Depois de trinta e cinco horas de trabalhos intensos e cuidadosos, os quatro membros da família foram retirados vivos. A menina, o pai, o bebê, e por fim a mãe. Eles eram os heróis, salvos pelas mãos de outros heróis. Todos anônimos. E tenho uma certeza. Ninguém estava ali para aparecer na televisão.

No mesmo domingo à noite, quando entrei na internet vi a notícia que o bebê infelizmente não resistiu. Ficou claro nas imagens do resgate, a insistência dos médicos em fazer massagem cardíaca na criança. E num momento de tanta alegria e energia positiva, ninguém queria ser o portador de uma notícia ruim.

As emoções não acabaram com o resgate. Os bombeiros que ali estavam, fizeram questão de cantar o Hino dos Bombeiros. Depois todos de mãos dadas, agradeceram aquele final feliz com orações.

Quando desliguei a televisão e fui tomar um pouco de sol, comecei a pensar no que acabara de acontecer. E de como nós, Seres Humanos somos estranhos. Só conseguimos demonstrar a intensidade das nossas emoções, e da nossa solidariedade nos momentos de tragédias.

Depois que esses momentos passam e são esquecidos, voltamos a destilar todo o veneno da nossa hipocrisia. Damos vazão a nossa cretinice. Voltamos a ser aquele tipo de pessoas que ninguém gostaria de ser. Estampamos a nossa arrogância na testa e saímos por aí, exibindo um nariz falso de superioridade. Até outra tragédia.

Um bom exemplo é a minha cidade. Em junho, Rio Negrinho sofreu novamente com as enchentes. Das três grandes, esta última teve um poder maior de destruição. Para onde se olhe a tragédia ainda está bem visível um mês depois.

E a solidariedade dos brasileiros, outra vez foi colocada à prova. E eles não decepcionaram. Chegou ajuda de todos os lugares. Com a impossibilidade de se controlar tudo o que veio e o que foi distribuído, o previsível aconteceu.

Alguns dos nossos vereadores, agora se acusam mutuamente de desviar as melhores doações em benefício próprio. Levaram para casa. Até a polícia foi chamada, para evitar que o bate-boca de transformasse em socos e pontapés.

Não somos um caso isolado. É difícil encontrar o rescaldo de alguma tragédia que não seja usada com fins próprios ou políticos. Alguns até rezam para elas acontecerem.