VOCAÇÕES TARDIAS
VOCAÇÕES TARDIAS
Vocação é uma palavra que evidencia um apelo, como que um chamado para alguma coisa ou alguma função lícita ou ilícita. O verbo vocare, no latim, tem o sentido de chamar alguém para um determinado fim. No campo místico, se fala muito em vocações religiosas, seja para o sacerdócio ou para outras atividades conventuais. Há tempos, um amigo, promotor de justiça aposentado, viúvo, deixou-se conduzir por aquilo que se chama de vocação tardia, tornando-se aos 62 anos de idade, monge beneditino. Nunca é tarde para atender a um chamado.
No entanto, nem sempre as vocações levam aos umbrais do céu ou ao colo do Absoluto. Tem gente que, escutando o “espírito de porco” atende outro tipo de vocação, nem sempre ortodoxa, lícita ou ética. Como a vida é um variegado calidoscópio, vale a pena observar fatos e circunstâncias que ocorrem a nosso redor.
Quando criança, recordo que minha mãe comentava muito o fato de uma vizinha haver abandonado família para seguir o domador de elefantes de um grande circo que passou por Porto Alegre. Não sei que tipo de vocação é essa, mas o fato é que, seduzida pela aventura, e quem sabe cansada da mesmice doméstica, a mulher, que segundo minha mãe era jovem e bonita, se deixou levar e foi viver sua secreta vocação circense. Geralmente essas guinadas aventurescas não tem mais volta.
O outro caso eu já presenciei. Numa cidade em que morei havia um profissional liberal de destaque. Ele tinha uma respeitável clientela, mercê de suas capacidades funcionais. Vivia, ele e a família, numa belíssima casa, cercados de todo conforto. A esposa era professora, uma mulher bonita, alta, loura, corpo escultural, de seus trinta anos, mais ou menos.
De repente, a notícia estourou como bomba na cidade: “A fulana foi embora para o Rio! Vai ser “chacrete”. De fato, por alguns anos, se pôde vê-la na tevê, rebolando seu respeitável traseiro entre Rita Cadilac, Índia Poti e outras dançarinas. Ela esteve lá até a morte do “Velho Guerreiro”, fiel à sua vocação, que embora tardia, se mostrou arrebatadora.
O último caso também foi curioso. Encontrei no shopping duas moças que foram minhas alunas. Beijos de um lado, blá-blás-blás de outro e vem a bomba: “A Juju pintou o cabelo de loiro, fez musculação, largou o marido e a filhinha de oito meses! Ela foi para a Bahia disputar o final do concurso para ver se seria aproveitada como ‘Loira do Tcham’”. Sem dúvidas, não dá para duvidar da força de algumas vocações, tardias ou tempestivas, que assaltam as pessoas.