O TEMPO DA VIDA

O TEMPO DA VIDA

As Sagradas Escrituras, afirmam a certa altura que “há um tempo para cada coisa...” e seguem elencando circunstâncias e situações em que é preciso estar atento a eventos cíclicos como falar e calar, rir e chorar, jogar pedras e depois ajuntá-las, viver e morrer...

Mesmo sem filosofar, sempre cabem especulações sobre os mistérios do tempo. O escolástico medieval Tomás de Aquino fala em evo (aevum) como um decurso de tempo físico que compõe a realidade humana paralela à aeternitas (eternidade) do céu. A noção em senso comum de tempo é inerente ao ser humano, visto que todos somos, em princípio, capazes de reconhecer e ordenar a ocorrência dos eventos percebidos pelos nossos sentidos.

Cada segundo que passa é um milagre que jamais se repete. A vida humana ocorre pela soma de tempo que se vive (ou se deixa de viver). A noção humana de tempo encontra-se ligada de forma íntima às percepções fornecidas pelos sentidos. Nesse aspecto é imperioso que se considere o tempo como uma riqueza de nossa vida. Perder tempo é desperdiçar uma ponderável oportunidade de viver. Quantas vezes nos apercebemos dessa perda, pelo amor que não vivemos, pelo abraço que não demos, pelo perdão que não pedimos, pela viagem que não fizemos e pela atenção que deixamos de dispensar a um parente, um amigo, uma pessoa qualquer.

Quantos de nós não trazemos o peso de lamentar um tempo perdido, uma ocasião desperdiçada? Pois eu tenho muito a lamentar, e recentemente sofri o constrangimento da vida que passa inexoravelmente, mostrando-me quantos lapsos de tempo foram desaproveitados. Na semana passada me lembrei de um amigo e com quem não falava há um ano e pouco, decidi ligar para ele para colocarmos o assunto em dia. Telefonei para a casa dele e sua filha atendeu informando-me que o pai havia falecido há quatro anos, depois de lutar com uma enfermidade por dois anos. Eu que julgava estar há um ano e pouco longe do amigo, na verdade, por desperdício de tempos favoráveis, fazia mais de quatro anos que não me comunicava com ele. Por suas qualidades, amizade, alegria, comunicação. amor às festas e uma bela voz romântica, eu elaborei mais de uma crônica sobre ele nos periódicos onde tenho coluna.

Eu recordo que, quando escrevi o livro “Kairós, teologia do tempo de Deus”, usei uma expressão do Jorge Luis Borges “El tiempo es favorável a quien lo aprovecha y dañoso a quien lo desperdiça”. Nessa citação dei ênfase à necessidade de aproveitar o tempo, como riqueza, sem desperdiçá-lo. O pior é que o tempo perdido nos impôe o castigo da impossibilidade de uma retomada, por isso é necessária sabedoria para lidar com o tempo da vida. O tempo faz parte da vida. Perder tempo é perder vida.