Meus velhos tempos de "Arco e Flecha".
Uma nova comunidade de índios isolados foi descoberta recentemente lá no “Vale do Javari”, no “meu” grande e mui querido estado do Amazonas. Estima-se que uns duzentos índios vivam por lá. Isto me fez lembrar aqueles meus velhos tempos pilotando os destemidos C-47’s, vulgos “Dakotas”, sobrevoando aquela tão querida, imensa e verdejante selva. Foram milhares de horas voadas. Uma vez, pousando numa daquelas pequeninas pistas, tão curtas, quanto estreitas, exigindo pousos mais do que perfeitos, senão as pontas das asas do meu velho Douglas tocariam nas enormes castanheiras que margeavam aquelas pistas, pistas que mais pareciam pistas de aeromodelos.
Cortados os motores, liberados os passageiros, havia sempre aquela choradeira: o choro é o jeito que os índios têm para demonstrar alegria pela volta dos seus entes queridos, que trazíamos nas missões do CAN-AM (Correio Aéreo Nacional da Amazônia), após tratamentos médicos indispensáveis em Manaus. Mas neste caso específico a choradeira era também porque, durante o pouso curtíssimo, o cachorro magro e de estimação do grande “pajé” havia corrido na direção do avião, acabando por ser “atropelado” e morrendo, mesmo após todas as “mandingas” feitas pelo “pajé”, que não gostou nada do acontecido, pois me olhava muito mal humorado, segurando o seu ameaçador tacape. Foi quando eu percebi que as rodas do avião estavam quase pegando fogo, devido à intensidade dos freios aplicados, para não “varar a pista”. Mandei que o meu “copila” corresse e desse partida nos motores, para que o vento das hélices apagasse a iminência de fogo, o que provocaria o estouro dos pneus. Foi quando, inesperadamente, uma indiazinha que ia viajar conosco, pensando que o avião já ia partir, correu para embarcar, vindo com tudo na direção das hélices em movimento. Foi quando eu corri e me joguei agarrado com a menina ao chão, evitando mais um “probleminha”. Probleminha que se transformaria num problemão, pois o “pajé” não iria mais me “perdoar”; e certamente eu não estaria aqui a lhes contar estas simples historinhas...
São tantas as histórias, as coisas, as lendas, os casos, os lindos pernoites que guardo na memória, ocorridos durante aqueles meus velhos e inesquecíveis tempos sobrevoando o imenso, lindo e perigoso “inferno verde”.
Coronel Maciel.