Influência Indígena na Farmacopeia Brasileira
INTRODUÇÃO
Desde tempos remotos e tal como os animais, o homem guiado instintivamente distinguiu das plantas comestíveis as que podiam curar e tratar doenças.
Assim, essa prática, hoje conhecida como fitoterapia vem de épocas remotas e ocorreu nas mais diversas regiões do planeta.
O termo Fitoterapia deriva do grego phyton que significa “vegetal” e de therapeia, "tratamento". Consiste na cura da doença ou de seus sintomas, pelo uso interno ou externo de vegetais, sejam eles “in natura” ou sob a forma medicamentos.
Os primeiros registros de fitoterápicos datam da China do período de 3000 a.C., quando o imperador chinês catalogou 365 ervas medicinais e venenos, que eram utilizados na época. Assim, criaram o primeiro herbário de que se tem notícia.
Entretanto, essa prática com a utilização de vegetais tem diferenças regionais, devido às características diferentes da cultura, da flora, fauna, solo e clima da região.
No Brasil, por suas características continentais, bem como pela diversidade de povos indígenas, ocorreu uma variedade de práticas. Mas, ao longo do tempo, as mais bem sucedidas sofreram processo de seleção natural e foram incorporadas nacionalmente.
Essa sabedoria indígena influenciou a farmacopeia brasileira, quer com a introdução de muitas dessas práticas na fitoterapia, quer aguçando o interesse para pesquisas sobre os princípios ativos das plantas consideradas medicinais pelos indígenas. Em muitos casos, confirmado seus poderes de cura ou tratamento foram incorporadas em concentrações bem maiores como drogas na medicina alopática.
A PATOLOGIA INDÍGENA
Os indígenas acreditavam que as doenças eram causadas por vontade de algum ser sobrenatural, ação dos astros, agentes climáticos, força de uma praga ou castigo. Elas eram denominadas de acordo com o órgão ou a parte do corpo afetada.
Com a nomenclatura atual, a patologia indígena se resumia em: bouba; bócio endêmico; malária; parasitoses e dermatoses; disenterias; febres inespecíficas; acidentes; envenenamentos; mordedura de animais venenosos; ferimentos de guerra; e doenças, muitas delas introduzidas pelo convívio com o homem branco, como gripe, reumatismo e pneumonia.
A FITOTERAPÊUTICA INDÍGENA
A DESIGNAÇÃO DOS REMÉDIOS
Berta Ribeiro em “O Índio na Cultura Brasileira” e com base num estudo feito pelo botânico Paulo F. Cavalcante e o antropólogo Protásio Frikel, junto aos índios Tiriyó, trata de como eram designado os remédios por esses índios.
Em resumo a designação dos remédios procurava expressar:
a)- como eram aplicados: banhos de cuia; para beber; para massagear ou friccionar; para aplicar compressas; vapores; e cinzas de plantas;
b) - os efeitos produzidos: para aborto; para fazer crescer os seios de adolescentes;
c) - a doença: para queimaduras; para picada de cobra; envenenamento por flechadas; e contra o curare;
d) o órgão afetado pela doença: para dor de dentes; dor de ouvidos, olhos, cabeça etc.
O PROCESSO TERAPÊUTICO
A terapêutica indígena de modo geral era mística, pois contribuía para sua eficácia os poderes sobrenaturais do pajé, bem como as virtudes medicinais das plantas.
As plantas eram colhidas frescas e mastigadas previamente pelo curador (pajé), que mantinha em segredo o nome do espécime usado. Os jesuítas foram os únicos que conseguiram saber dos aborígines, os espécimes vegetais utilizados.
Alguns procedimentos terapêuticos frequentes com a utilização das plantas eram: massagens e fricções realizadas pelo pajé, molhando as mãos em caldos de ervas, ou chás; massagens e fricções com polpas de frutos, ou óleos ou, ainda, cinzas; ingestão de sucos; aplicação de emplastros; aspiração dos vapores do cozimento de ervas; e defumação.
O REGISTRO DA FITOTERAPIA INDÍGENA
O conhecimento dos indígenas sobre as propriedades medicinais da flora foi codificado em extensa relação de plantas e suas indicações terapêuticas, que foi sendo construída e registrada principalmente pelo trabalho dos jesuítas e de alguns outros missionários, bem como com a participação de outros colaboradores por meio de seus relatos, como: os bandeirantes; outros aventureiros; e barbeiros-cirurgiões. Entretanto, a tradição oral teve muito importância nesse processo.
Também, não podemos esquecer a colaboração dos autores que, com seus registros, possibilitaram a incorporação de muitos dos ensinamentos utilizados até nossos dias.
Com objetivo de ilustrar, vamos enumerar alguns autores e suas obras:
a) “História da Província de Santa Cruz a que Vulgarmente Chamamos Brasil”, de Pero de Magalhães Gândavo, em 1567;
b) “Tratado Descritivo do Brasil” de Gabriel Soares de Souza, 1587; e
c) “História do Brasil. 1500-1627” de Frei Vicente do Salvador.
ESPÉCIES UTILIZADAS E INDICAÇÕES FITOTERAPÊUTICAS
Com base no mesmo estudo, anteriormente citado, Berta Ribeiro ressalta:
a) que a tabulação do material vegetal utilizado indicou o aproveitamento na seguinte ordem decrescente da quantidade de espécie utilizadas: arbustos e arbustivos; árvores;cipós; ervas e herbáceas; gramíneas; e trepadeiras;
b) com base na tabulação dos dados levantados, as aplicações terapêuticas das plantas medicinais podem ser classificadas em: antitérmicos; analgésicos; sedativos; antiflogísticos; antissépticos; tônicos; energéticos; cicatrizantes; antiespamódicos; anti-inflamatórios; antianêmicos; antitóxicos; antídotos; diuréticos; tranquilizantes; anticatarral; expectorante; antiparasitário; enfim uma grande variedade de remédios.
Deixaremos de elencar os fitoterápicos e suas indicações terapêuticas encontrados em nossa pesquisa, pois como nosso objetivo é a influências indígenas na farmacopeia brasileira, então ilustraremos no subtítulo a seguir com alguns exemplos do receituário utilizado naquela época e incorporado aos dias de hoje.
PRESENÇA INDÍGENA EM NOSSA FARMÁCIA
Certamente, o grande benefício que herdamos da intensa relação dos índios com a floresta diz respeito às plantas e ervas medicinais.
O conhecimento da flora e das propriedades das plantas levou os índios a utilizá-las nos tratamento de doenças. Muitos vegetais usados pelos indígenas como medicamentos apresentam de fato resultados surpreendentes.
Existe grande quantidade de elementos da farmacopeia indígena incorporados em concentrações bem maiores na medicina alopática. Por outro lado a fitoterapia procura cada vez mais absorver e sistematizar a experiência da farmacopeia indígena.
Como ilustração da presença indígena em nossa farmácia, vamos elencar somente exemplos fitoterápicos, que sejam amplamente e há muito utilizados.
Água de Coco – diurético e auxiliar no tratamento de diarreias;
Ananás – expectorante e diurético;
Casca de Murapuama - tônico neuromuscular, afrodisíaco, utilizado contra fraquezas, gripes, impotência, reumatismo crônico,
Catuaba - tônico energético usado nos tratamentos de: cansaço físico e sexual; insônia; nervosismo; e falta de memória. Possui, ainda, propriedades antissifilíticas.
Erva-baleeira – reumatismo e anti-inflamatório;
Guaco – asma, gripe, bronquite e demais sintomas desencadeados pelos resfriados;
Guaraná, usado como tônico nas disfunções estomacais, estimulante, contra distúrbios gastrointestinais, diarreias. Ativa as funções cerebrais e combate a arteriosclerose, as nevralgias e as enxaquecas, detém as hemorragias atua como calmante para o coração.
Jaborandi – antitérmico e faringite
Jenipapo – febres e calafrios;
Jurubeba - tônico cardiovascular, estimulante do apetite, do fígado (colagogo) e do baço, contra problemas da digestão;
Maracujá - calmante
Óleo de Copaíba, utilizado no combate aos catarros vesicais e pulmonares, disenterias, bronquites e anti-inflamatório;
Óleo de Andiroba, potente cicatrizante, anti-inflamatório.
Urucu – ardor na pele provocado por exposição ao sol, e picadas de insetos, também utilizado como bronzeador;
Semente de Sucupira - energético, antissifilítico, contém alcaloides empregados no tratamento de febres, reumatismo, artrite, inflamações, dermatoses.
CONCLUSÃO
No Brasil, a utilização de ervas medicinal tem na prática indígena suas bases, que influenciada pela cultura africana e portuguesa, gerou uma vasta cultura popular.
Entretanto, com as pesquisas voltadas preferencialmente para a medicina alopática e a indústria farmacêutica existe crescente incorporação dos princípios ativos do nosso herbário como drogas.
Evidentemente, pelo efeito proporcionado por maiores concentrações ser muito mais rápido, até as gerações mais novas de índios, com contato mais intenso com a cultura moderna, abandonaram sua tradicional fitoterapêutica.
Em contrapartida, devido aos custos dos alopáticos, bem como sua enorme lista de perigosas contra indicações, existe muita gente educada dentro dessa cultura industrial moderna optando por terapias mais naturais provocando um crescimento na pesquisa e produção de fitoterápicos.
FONTES:
Livro – “O Índio na Cultura Brasileira” – Berta G. Ribeiro.
Sites:
ahistoria.com.br
boasaude.com.br
redeglobo.globo.com
ufjf.br; e
wikipedia.org.