ENCHENTES... OUTRA VEZ

Quando falamos nas tragédias das enchentes em cidades como Rio Negrinho, uma pergunta quase humorística precisa ser feita. O rio está dentro da cidade, ou é a cidade que está dentro do rio?

Brincadeiras a parte, é perfeitamente lógico que os primeiros desbravadores fundassem as cidades perto dos rios. Na era da água saindo pelas torneiras. Dos chuveiros quentes para o banho. Das máquinas modernas lavando nossas roupas, culpá-los seria fácil.

Dizem os historiadores que temos, e nenhum deles 100% confiáveis, que a primeira grande enchente na cidade de Rio Negrinho foi em 1914. Portanto, há exatos 100 anos.

Então chegou o ano de 1983. Depois de cinco dias seguidos de chuvas fortes, todos se olhavam assustados. Ninguém sabia o que estava para acontecer. Após uma sexta-feira de “ufa!” com sol e céu azul, seguiu-se um fim de semana chuvoso, e a primeira tragédia das enchentes estava diante dos nossos olhos. Essa bem documentada.

Foi à primeira vez, que os brasileiros se engajaram numa onda de ajuda e solidariedade sem precedentes. O primeiro grito de alerta partiu da Rádio Bandeirantes AM, e contagiou o Brasil. Dos lugares altos como a rua onde moro, as pessoas se reuniam para olhar a cidade coberta pelas águas. Um cenário de tristeza.

E lembro como se fosse hoje. Uma senhora que estava próxima disse exatamente essas palavras na ocasião. “Igual a essa, nunca mais”. Infelizmente aquela senhora errou na profecia. Em 1992 aconteceu tudo do novo. Com um detalhe importante. Foram menos dias de chuvas.

Agora em 2014, esse detalhe foi ainda mais assustador. Foram apenas dois dias de chuvas. E a enchente tomou as mesmas proporções das duas anteriores. Três tragédias em três décadas é muito para qualquer cidade. Imaginem então para uma cidade do tamanho de Rio Negrinho. Nessa, a História ganhou a ajuda das redes sociais.

É fato, que a ação do homem está encolhendo o leito do rio. O que não podemos, é acreditar que estamos fazendo um bem ao meio ambiente, deixando o mato e as árvores se apoderaram do rio. Ele precisa ser limpo. Sem ambientalistas burros.

Respondendo a pergunta: É a cidade está dentro do rio. Mas, quando percebemos que quem não foi atingido como eu, está ilhado, escancara que décadas se passaram e nem prevenção de mobilidade aconteceu. Em 1992, vi um enterro passar de canoa. Hoje, se alguém morrer, não será diferente.

Muito vai se falar. No fim, e como sempre, essa nossa nova tragédia, por longos anos servirá de desculpas para que os nossos políticos continuem não fazendo nada.