O retorno ao passado
Na sexta-feira santa, 18 de abril, a imprensa televisiva brasileira apresentou diversos lances do tráfego caótico pelo qual passavam os motoristas que se arriscavam a utilizar as Rodovias Castelo Branco e Rodovia dos Imigrantes na saída de São Paulo, no feriado de páscoa, que neste ano foi complementado com o Dia de Tiradentes, 21 de abril.
Deu no jornal O Estado de São Paulo, que a volta do O retorno do paulistano do feriado prolongado foi marcado pelo excesso de veículos nas rodovias, tanto para aqueles que regressaram do interior quanto àqueles que vinham do litoral.
Em Minas Gerais, as estradas congestionadas, trânsito caótico, enfim.
Para quem não pôde acompanhar o noticiário daqueles dias, e teve a oportunidade, como eu tive, de ficar 3h30 para percorrer 30, 40, quando muito 50 km nas rodovias paranaenses, deve ter pensado que o que estava acontecendo era um replay da “jogada” anterior, algo que deixava de ser visto nas telas para fazer parte da vida real, de um cenário real, onde a única coisa irreal era a estúpida constatação de que o carro deixou de ser luxo, mas não tem para onde ir.
Impressionante: nas rodovias do nosso Estado, foram filas intermináveis que duravam todo o dia 21 de abril, e algumas deixaram um pouco para a madrugada da terça-feira, dia 22 de abril, dia do descobrimento do nosso país, de onde tudo se originou, inclusive nossas estradas e nossos carros. Foi uma demonstração clara, de que a infraestrutura terrestre está caótica, caducou, deixou de atender necessidades básicas e que os governos não enxergaram que a mesma tem que andar de mãos dadas com a indústria automobilística, numa espécie de demanda elástica, termo muito comum na economia.
Numa analogia, a demanda seriam as rodovias e os carros seriam a oferta. Assim, a sensibilidade deveria ser percebida de início, de forma que pouco adianta oferecer veículos com todas as facilidades, se eles não têm por onde escoar.
Já disseram que o crescimento da frota veicular brasileira é da ordem 3,50% ao ano. Assim, em 19 anos, o tráfego atual ou de um determinado período de contagem, haverá dobrado de tamanho. Imagino que isso deva acontecer em condições normais, sem qualquer indução por parte do governo ou de quem mande, pois por trás de tudo, existe o interesse dos governos em produzir, em vender, em mostrar dados de economias em alta.
O mesmo não pode ser dito dos nossos caminhos e as rodovias seguem em condições antigas, com geometrias defasadas, pistas simples, algumas verdadeiras colchas de retalhos, outras sem condições de trafegabilidade. Esse último, menos mal, não é nosso caso.
O que pretendo observar é que continuamos reféns do caos. Qualquer feriado, qualquer evento e volta o filme outra vez.
No caso do feriado de páscoa emendado com o feriado de Tiradentes, fiz uma pesquisa e descobri que evento semelhante voltará a ocorrer em 2015, daqui a exatos 11 anos. Até lá, guardadas as mesmas proporções, nosso tráfego terá crescido algo em torno de 51%. Um aumento significante e que faz refletir. Dessa forma, se ontem, percorri o trajeto em 3h30, posso dizer que daqui a onze anos, o mesmo trajeto será percorrido em no mínimo 5 horas, numa velocidade média de menos de 8 km/h?
O que podemos concluir? Que nossos veículos voltaram a andar como no passado, a velocidades baixas? Ou que nossas autoridades não estão enxergando que mais que favorecer a aquisição de automóveis, como bem de consumo, é preciso dar condições para que eles possam ir e vir de forma rápida? Alguém mais “afoito” poderia dizer (ainda), que uma pessoa caminhando a passos normais andaria quase na mesma velocidade dos nossos possantes veículos.
É ou não o retorno ao passado?