A face de um campeão
Fiquei estupefato com o texto do colega jornalista Augusto Mafuz publicado no site Paraná On line com o título de “Um campeão sem face” na segunda-feira, dia 7 de maio passado. Na tentativa de talvez criticar os times da capital que foram excluídos daquela final, o jornalista fez do legítimo campeão o alvo equivocado de suas críticas, infundadas, ilógicas e preconceituosas, antes não fossem também absurdas.
Nenhum campeonato, de qualquer esporte, pode ou deve terminar sem que indique seu legítimo campeão. Forte ou fraco, pequeno ou grande, vermelho ou tricolor, de cá ou de lá do fim da linha, um campeão legítimo não se limita a contrapontos assim tão simplistas. Um campeão é um campeão e pronto! Não se discute. Se couber discussão, que possa, então, ser levado a instâncias que, convenhamos, não é o caso. Não houve fraude. Não houve manipulação de resultados, não aconteceu qualquer incidente ou interferência extra-campo que possa tirar o brilho do campeonato conquistado pelo time do interior – o ACP - Atlético Clube Paranavaí. O time da cidade de Paranavaí, queiram ou não, é o Campeão Paranaense de Futebol de 2007. O novo campeão paranaense desta e de todas as bandas do nosso valoroso Estado.
Tem mais, o time da cidade de Paranavaí que é chamado carinhosamente de “Vermelhinho” ou simplesmente de ACP, tem uma sigla sonora com 61 anos de história, não esconde o seu nome e tem como identidade um passado de resistência e de luta. De dificuldades imensas e, agora, de uma inesquecível alegria e honra para sua torcida. Para a cidade de Paranavaí, para o Noroeste do Paraná, para a região do Arenito do Caiuá. Para todos os seus torcedores. Para o Paraná, nosso estado, como não?
Justificando o fato de não ter engolido a conquista do ACP, o jornalista diz que esta vitória do pequeno time do interior causa constrangimento. A colocação é absolutamente equivocada e descabida. Como pode um time campeão, que não perdeu para nenhum dos times grandes da capital durante o campeonato e em suas várias fases, constranger alguém pelo que alcançou? Diz o jornalista no seu amontoado de injustificadas palavras que o que ele asseverou é verdade e não pode provocar debate ou levantar questionamentos, discutindo-se as razões do fato em si, a conquista do título paranaense de futebol pelo ACP.
Todo campeonato de futebol segue as regras da FIFA e o regulamento da competição. Neste regulamento fica estabelecido que os pontos são conquistados com vitórias e empates. O time que mais pontos fizer é o time campeão. Isto sim é indiscutível. O ACP foi o melhor time do interior e, na fase final, foi o que conquistou o direito de disputar os dois jogos finais contra o melhor time da capital na competição – o Paraná Clube. A disputa final colocou frente a frente um time do interior e pequeno, contra um time grande e da capital. Poderia ter sido diferente, só times do interior, ou só times da capital. Nos dois jogos da final disputavam-se seis pontos. O ACP ganhou 3 pontos no primeiro jogo e mais um pelo empate no último jogo. Somou 4 pontos contra apenas um do seu adversário. Era o suficiente para levantar o título. Teria sido mais campeão se o ACP tivesse ganhado de goleada o último jogo dentro do campo do adversário? Lógico que não! E o time campeão não foi campeão por exclusão. Foi por mérito. Não foi campeão por ser o menos ruim, ou o melhor entre os piores. Foi campeão também por uma simples questão aritmética: 3 + 1 = 4 e 4 é maior que 1. Ou o colega que sabe escrever bem não é bom em fazer uma simples adição ou comparar números maiores com números menores?
Na parte final do texto em que tenta desqualificar a inédita conquista de um pequeno time com 61 anos de história, o jornalista Augusto Mafuz tira o foco da conquista e volta-se contra o fato do time campeão paranaense de 2007 ser chamado por sua sigla. ACP quer dizer Atlético Clube Paranavaí. Assim como CAP é Clube Atlético Paranaense, CRB é Clube de Regatas Brasil, um campeão lá de Maceió, Alagoas; ABC é o time campeão de Natal, no Rio Grande do Norte. Ter sigla ou apelido – tão comum entre nós, entre nossos times do coração – não deve desqualificar equipe nenhuma de uma conquista legítima, limpa e obtida dentro das regras e da ética esportiva. O Flamengo campeão carioca é o Mengo, o Mengão, o Urubu; o Santos, bi-campeão paulista é o Peixe; o Grêmio é o tricolor gaúcho. Aqui, o Coritiba é o Coxa, o Atlético é o Furacão. E o ACP é o campeão paranaense, queira ou não meu colega Augusto Mafuz. O campeão sem face que ele quis identificar na sua crítica é um campeão com face, com história e com tradição. Claro que vai desmontar seu time e é claro que vai vender seus melhores valores. Todo time vive de fazer jogadores e vende-los faz parte do mercado futebolístico brasileiro. O ACP é um time com torcedores, gente do interior que ficou muito feliz com a inédita conquista. Aliás, falando sobre desmonte, o goleiro Vanderlei, um dos heróis da conquista, já é do Coxa. Ou será que ele, agora, é só do Coritiba Foot Ball Club?