Carimbó, Dança Mestiça
Linguagem universal de origem em povos muito antigos, a dança é um importante meio de expressão.
Certamente, os índios brasileiros utilizavam essa forma de expressão. E, assim, algumas de nossas danças têm origem em nossos ancestrais.
A dança Carimbó é excelente ilustração, não só de dança de origem na cultura nativa, mas, também, de nosso processo de miscigenação.
Do mesmo modo que índios, escravos e colonizadores caldeavam-se racialmente, as culturas, paralelamente, sofriam processo semelhante. Iniciava-se o surgimento dos mestiços e duma cultura mestiça.
Do original Curimbó, termo tupi que significa pau oco, que produzia o som para o ritual indígena, até o Carimbó ocorreu esse processo de influência entre culturas.
O andamento monótono, da maioria dos rituais e danças indígenas, foi influenciado pelos característicos africanos dos escravos. O andamento indígena foi acelerado pelo batuque africano.
O vestuário, originalmente corpos masculinos pintados e adornados com enfeites feitos com elementos da floresta, acompanhou a inclusão da mulher e a realização da dança por casais e não mais em rituais exclusivamente.
As mulheres lembram o indígena ao enfeitarem-se com pulseiras, colares, brincos feitos de sementes da região e adornarem seus cabelos com flores. Apesar de conservarem a nudez nos pés, ombros e barriga, lembram os colonizadores com saias estampadas e rodadas e blusa lisas e em tons claros.
Os homens apresentam-se geralmente de calças brancas com as bainhas enroladas lembrando o escravo que assim fazia, para facilitar o trabalho. Já as blusas destacam-se por suas cores fortes com as pontas amarradas na altura do umbigo. Lembrando o colonizador cobrem suas cabeças com o tradicional chapéu de palha. Adornando o pescoço um lenço colorido enrolado. Dançam descalços como as mulheres.
A coreografia foi bastante alterada pela influência dos colonizadores, que tinham o costume de dançar aos pares.
Durante a dança do Carimbó se tivermos atentos para a mestiçagem de sua coreografia observaríamos: a presença do nativo quando os dançarinos arrastam os pés descalços e marcam o ritmo vibrante; observaremos a influência africana em algumas expressões corporais trazidas pelos escravos, como o dançar com o corpo curvado para frente; e no girar dos corpos, no bater palmas, estalar dedos, bem como no cavalheiresco gesto de apanhar o lenço deixado cair por donzela, como indicadores da presença dos quase brancos colonizadores no mestiço Carimbó.
Ressalvamos como quase brancos, porque também os iberos sofreram, em épocas anteriores a nossa colonização, processo de miscigenação provocado por seus invasores.
O monótono andamento marcado pelo curimbó acelerado pelo atabaque, os elementos de coreografia e do figurino introduzidos se disseminaram e o Carimbó tornou-se popular na região do pequeno litoral paraense, conhecida como “salgado”. e um de seus municípios, Marapanim, titula-se o berço do Carimbó.
E, assim, o Curimbó dos Tupinambás, com o tempo, foi transformado por essa mescla de culturas e gerou o Carimbó, que se tornou tradição do povo paraense e exemplo da mestiçagem brasileira.