O VILÃO DO ROMBO

Algumas edições do programa “Painel” comandado por William Waack, vem discutindo temas que se supõe, não entrarão no debate da campanha presidencial. Geralmente os entrevistados são pessoas de universidades, cientistas políticos ou economistas. Todos assumem e defendem as suas ideologias.

Assisti duas dessas edições. Quando o assunto era o rombo das contas públicas, a ideologia foi esquecida. Uma unanimidade apontava do dedo na direção do vilão. E para meu espanto, o vilão é a regra que reajusta o salário-mínimo.

Então, se você recebe salário-mínimo, seja aposentado ou funcionário público, você é o responsável direto por estar quebrando o país. Está ganhando aumento real demais. Falavam isso como verdade absoluta. Do alto de uma sabedoria idiotamente burra.

Não podia ser sério. De repente, eu estava assistindo um autêntico programa de humor. Desses de causar inveja em Chico Anísio no céu, ou Jô Soares. Os entrevistados não riram em nenhum momento. Em compensação, eu quase molhei a calça de tanto rir. Como assisti a reprise do domingo às onze horas, continuei a rir pelo resto da tarde.

É isso. O Brasil corre o risco de quebrar no futuro, por causa do “ganho real”, que por regra o governo vem incorporando anualmente ao salário-mínimo. Alguém precisa alertar essas pessoas que “ganho real” no Brasil não existe. Isto tem um nome menos simpático. Eu chamaria de “inflação camuflada”.

Proponho um teste para esses entrevistados. Um bom modo de medir a inflação real. Vamos colocar um salário-mínimo no bolso de uns sessenta deles. Para ficarem dentro do padrão nacional, alguns com doenças crônicas. Dessas que os remédios não são distribuídos gratuitamente. Outros que precisem comprar insulina.

E solte-os Brasil afora. Para bem longe das capitais. Tipo assim, para aquelas cidades que dependem de apenas um supermercado. Uma Farmácia. Um posto de gasolina. Ou, se algum deles quiser adquirir internet banda larga, pode vir a Rio Negrinho, onde não tem nem concorrência de telefonia.

Fico imaginando, depois de um mês, como seria a volta dessas pessoas para um debate na televisão. Se o tamanho da “inflação camuflada” assustaria, o tamanho das idiotices cuspidas para fora da boca assustaria muito mais. Talvez, elas são cuspidas assim facilmente, porque a gravata aperta demais.

Eu não preciso usar gravata para saber que o rombo das contas públicas não está no “ganho real” do salário-mínimo. Antes de apontar o dedo para ele, é preciso fechar muitas torneiras e gargalos. Por onde nossas riquezas desaparecem e ninguém vê. O motivo de um Brasil falido, não está na base da pirâmide. O motivo está no topo.