MUDANÇAS

“Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter

aquela velha opinião formada sobre tudo...” (Raul Seixas)

Metamorfose significa conceitualmente mudança de ideias e atitudes, fazendo com que seu autor assuma nova percepção sobre ela própria e em relação a fatos e pessoas. No sentido figurado metamorfose é a mudança considerável que ocorre no caráter, no estado ou na aparência de uma pessoa. É a transmutação física ou moral.

Hum! Você viu?! Ela agora é outra pessoa.

No blog Eremita Moderna, Poliane Gonçalves nos dá uma amostra de uma das facetas da mudança:

“Mudei muito de uns dias pra cá. Tirei algumas coisas que já

estavam mofadas do lugar e dei espaço para coisas, pessoas e

sentimentos novos. Não deixei de ser quem era. Meu caráter não

mudou, meus objetivos também não. Mas meus planos agora

incluem pessoas diferentes, sentimentos diferentes. Dei espaço

dentro de mim, para quem realmente merece, deixei aqui dentro

somente o que era preciso. Coloquei em primeiro plano quem se

importa comigo, deixei pra lá aqueles meio-amigos. Ficou agora

somente o que é completo. Nada de pedaços, partes, “meios”.

Mudei pra dar espaço a uma pessoa nova. Uma pessoa que

derrama lágrimas apenas pelo que vale e ri do que não vale a

pena.”

Desde que nascemos nosso corpo e nossa formação afetiva e cognitiva sofrem mudanças, as mais diversas, influenciadas pelo meio familiar e pelo “mundo” que permeamos no envolvimento das relações pessoais.

As mudanças de ordem conscientes partem do pressuposto:

“Isso está me incomodando”.

Quase todos os momentos são sufocantes, pois não encontramos neles, a sintonia entre o meu “eu” e o “eu” do outro. Isso faz com que a “sobrevivência” diária comece a ficar entediante, ao ponto de interferir nas nossas atitudes, com reflexos, de forma ‘debilitada’ em nossa saúde física e mental.

Passamos a nos sentir vigiados, mesmo em plena liberdade. Cada gesto, cada palavra, se não for bem “medida” dentro do modelo habitual, parece extrair a leveza do entendimento.

Tomemos como exemplo, a mulher, que corriqueiramente desempenha o papel de dona de casa, de mãe, de esposa e profissional do trabalho ao mesmo tempo. Ela precisa de um “tempo e espaço” para dar vazão a sua essência humana. Invariavelmente, será cobrada pela eficácia em todos esses setores.

Os questionamentos virão à tona, principalmente quando entra a perniciosa comparação com outras que apenas conhecemos fora da rotina diária.

A prateleira dos questionamentos vai acumulando decepções, amarguras, tristezas, contenções, até que um dia forçada pelo peso da impaciência, desmorona.

Após ocupar a mente com divagações do tipo,“tô cheia”, “não aguento mais”, “ela é ela, não eu”, percebe que é possível abrir a porta da “gaiola”, e mesmo inicialmente, de forma penosa, alçar um voo que traga mais satisfação a sua vida – uma mudança.

A mudança real produz após o amanho profundo do entendimento, um fôlego novo, para com responsabilidade, experimentar o “diferente”. E esse “diferente” nada mais é que “ser ela mesma”, sem ser controlada pelo outro e sem ser comparada com “modelos” que não se sobrepõem.

A alma da mulher é mais dócil às mudanças que a vida lhe impõe. Já o homem, que acostumou sua vida a uma rotina, não gosta de mudar. Ele tende a se adaptar ao meio em que convive, mesmo que “resmungando” silenciosamente, para que a “mudança” não o escute.

Toda mudança requer atenção. Você precisa aprender a se ouvir, a se ver, a se sentir, sabendo guiar as suas escolhas naquilo que possa te fazer bem. Você precisa estar no comando da sua vida. Não dê chance ao erro de querer mudar sua personalidade para assumir o novo tempo de “liberdade”.

Uma jovem que está “experimentado” atualmente esse processo de mudanças, assim se expressou: “Essa fase libertadora mostra que posso agir sozinha, independente e autodeterminada a seguir regras de forma racional, dando-me amplo arbítrio de entender os direitos responsáveis no que tenho vontade de fazer diante da minha capacidade. Essa fase libertadora é concebida como um crescimento de conquista para a melhoria da minha pessoa. Vejo também a liberdade temporariamente como um momento individualista, mas que não é egoísmo, apenas se mistura com a forma de se conhecer e de ter o momento EU (sozinha)”.

E continua: “Sei de pessoas que querem mudar, mas têm medo, se prendem a restrições, ordens que afrontam sua vontade, não respiram, não vivem”.

Se reconstrua recomeçando de onde você está, aprendendo algo novo, se valorizando da maneira como você é, e com visão nítida sobre o que você quer mudar.

Adicione à sua bagagem emocional a plena satisfação de ter dado o passo certo. Se assim não for, que tal retroceder apenas para ajustar as velas e seguir os ventos da metamorfose?

Em resumo, é como diz o jornalista e escritor uruguaio, Eduardo Galeano: “Somos o que fazemos, mas somos, principalmente, o que fazemos para mudar o que somos”.

Vanusa, em sua música “Mudanças”, ressalta a coragem da entrega naquilo que quer mudar: “... Hoje eu vou mudar / Por na balança a coragem / Me entregar no que acredito / Pra ser o que sou sem medo...”

Seja grande quando mudar, mas respeite aqueles que desejam manter a sua “velha opinião formada sobre tudo”.

“Me disseram que eu estava diferente, menos rancorosa, mais

alegre, positiva, achando a vida mais linda”.

Devemos celebrar as mudanças.

Tudo dá certo no final. Se não, acredite, ainda não é o fim.