A busca pelo herói
O ser humano tem como característica inata atribuir ao futuro a responsabilidade por sua felicidade, ou por “dias melhores”. E, quase sempre, esses “dias melhores” dependem de algo ou alguém para acontecer. Se está desempregado condiciona sua felicidade ao fato de encontrar um emprego; se está em más condições financeiras, alguma quantia monetária é suficiente para felicitá-lo. Quando pensamos em sentido macro podemos dizer que o ser humano deixa de eleger coisas e passa a eleger pessoas como responsáveis pelo êxito institucional. Se o time está mal, troque de técnico; se o país passa por uma crise, troque de presidente. Ou seja, nessas situações de aparente decadência os seres humanos tendem a recorrer ao “herói”.
É comum notarmos que as pessoas preferem “eleger” um “herói”, ou “salvador da pátria” a perceberem que as alterações nos panoramas político, econômico e social se dão num sentido lato e não no aspecto individual. Algumas personagens brasileiras ganharam o título de “herói” ou “mártir” devido ao seu fim trágico, como Tiradentes. As ações de Tiradentes, em nenhum momento, foram premeditadas com o intuito de torná-lo um “mártir”. Esse título só lhe foi conferido durante o movimento de proclamação da República, ou seja, mais de um século após sua morte. A figura de Tiradentes, como “mártir” da Inconfidência Mineira, retratada nos livros didáticos, com suas vestes e sua fisionomia que assemelhavam-se à imagem de Jesus Cristo, gera controvérsias entre historiadores.
Kenneth Maxwell – brasilianista inglês – afirma que o movimento de Inconfidência Mineira foi um movimento da elite mineira. Em nenhum momento esse movimento visava a libertação dos escravos, ou seja, tinha interesses puramente econômicos. Num país de maioria negra e mestiça não podemos considerar a figura de Tiradentes um ícone na luta pela independência. Maxwell afirma ainda que Tiradentes, por sua precária condição financeira – uma vez que ocupava um singelo posto no Exército (alferes) – não poderia de maneira alguma liderar o movimento. Este teria sido liderado por Tomáz Antônio Gonzaga – ex-ouvidor da Capitania e português de nascimento. Os altos impostos cobrados por Portugal pela extração do outro em Minas Gerais (derrama) prejudicavam economicamente as elites econômicas locais. Tiradentes teria sido escolhido para fazer parte do grupo por ter fácil acesso aos membros do Exército.
De qualquer forma a necessidade em inculcar a culpa pelo fracasso ou os louros pela vitória a outrem faz parte da psicologia humana e sempre fará.