Os animais como objetos da ética
O filósofo australiano Peter Singer, especialista em bioética, afirma que nada justifica os maus-tratos impostos aos animais pelos produtores de alimentos, defendendo que a forma como o ser humano se alimenta hoje precisa ser reavaliada, pois tem enorme impacto não apenas no sofrimento dos animais, mas também na saúde da população.
Nesse particular, a ética é um exercício diário que precisa ser praticada no cotidiano. Só assim ela pode se afirmar em sua plenitude numa sociedade. Por isso se diz que é preciso pensar na comida de forma ética. As pessoas precisam parar de pensar na comida apenas como algo de que se gosta ou que faz bem à saúde. O ato de comer também deve ser uma decisão ética e moral. A forma como nos alimentamos hoje faz o animal sofrer, provoca uma epidemia de obesidade no mundo e é causa de uma série de doenças nos seres humanos.
Os animais são criados nas fazendas industriais sem a mínima dignidade. Os porcos, que instintivamente procuram abrigo para alimentar seus filhotes, não podem sequer se mexer, porque vivem num espaço mínimo. O gado não come capim, como todo mundo pensa, mas rações sintéticas para engorde rápido. Os frangos criados em granja vivem em galpões que abrigam até 20.000 aves que nunca vêem a luz do dia. São abarrotadas de antibióticos e hormônios para ganhar peso. A doença da vaca louca foi um exemplo do resultado dessa forma de criação estapafúrdia.
Se esse processo continuar, aumentarão os danos ao ambiente, a incidência nos humanos, de doenças cardíacas e aos casos de câncer do sistema digestivo. São bons motivos para uma avaliação moral da comida que ingerimos. O mercado só produz o que o consumidor quer.
Os produtores de alimentos não tem muita saída. No mês passado, o maior produtor de porcos dos Estados Unidos, a Smithfield Farms, anunciou uma reestruturação nos criadouros de seus animais, hoje confinados em pequenos espaços. A empresa tem 187 fazendas de porcos nos Estados Unidos e prevê que só em dez anos as mudanças serão implementadas em todas elas. Mas a simples divulgação da medida já desencadeou uma série de outras ações, inclusive de empresas menores, que conseguirão resultados mais rapidamente.
A humanidade sempre manteve laços afetivos com alguns animais. Oferece tanto amor aos bichos de estimação e às espécies em extinção enquanto negligencia as que nos alimentam As conseqüências estão aí! O ato de comer também envolve uma questão moral. A forma como nos alimentamos hoje faz o animal sofrer, causa doenças, provoca uma epidemia de obesidade no mundo e tem impacto profundo no meio-ambiente.
O autor é escritor, Filósofo e Doutor em Teologia Moral