RELAÇÕES FAMILIARES NA DITADURA!
FATOS COTIDIANOS DA DITADURA QUE MUITOS SE ESQUECERAM...
Normalmente vejo as pessoas descreverem por um lado a excelência da Ditadura de 64, chamada nessa versão “otimista” de Revolução de 1964, fala-se das grandes obras como Itaipu, Transamazônica etc. fala-se, até da Copa de 70.
Por outro lado, falam-se da resistência ao golpe, da luta armada, dos estudantes rebeldes, dos presos, torturados, mortos e exilados... inclusive dos artistas e músicos banidos e até presos, bem como do assassinato de Wladimir Herzog etc...
Mesmo na chamada Comissão da Verdade e Comissão de Anistia, pouco se houve falar das relações familiares das pessoas que optaram por viver a realidade de uma identidade clandestina e o seu envolvimento com as lutas e partidos clandestinos, no tocante as suas relações familiares, com pai, irmãos, namorada, noiva e até esposa e filhos...
Muitos optaram em não envolver os seus entes nessas lutas e militância, pelos riscos e até porque muitos não entendiam de fato o que estava havendo no Brasil, afinal havia segmentos expressivos da sociedade apoiando a Ditadura e até mesmo a repressão no Brasil, não podemos ignorar este fato.
Fiz a opção de não levar os meus problemas pessoais e opções políticas e ideológicas para dentro de minha casa, afinal eu não aceitaria ver pessoas que pouco sabia sobre as minhas opções ideológicas, filosóficas e políticas sendo torturada, presas, punidas e até mortas, por algo que simplesmente desconheciam ou tinham uma visão muito superficial.
Recentemente, ao conversar com minha irmã, ela me disse: - “poxa, não sabíamos por que você foi desligado da Escola Militar e devolvido daquele jeito em casa, só tentamos ajudar e cuidar de você;” Mas ela esta certa, eles não sabiam por que eu havia saído bem e com saúde e fui “devolvido” com problema de saúde como disseram, eu estava totalmente sem memória e acabei sendo levado até para bondosas benzedeiras na cidade de Corumbá, Mas foi, por ironia do destino, um oficial médica da Marinha já falecido que cuidou de mim e me ajudou a retornar ao mundo dos vivos.
Assim, depois deste episódio acabei me afastando das pessoas queridas e fui morar sozinho, às vezes, fingindo estar zangado com essas pessoas, pois não podia falar as razões de minha decisão. Eu pensava assim: “se uma bomba explodir perto ou eu lavar um tiro, ou for preso não vou querer que pessoas queridas e que desconhecem os fatos sejam atingidas ou punidas”... Mais tarde, com a abertura e a legalização de alguns partidos, muitos me viram sair as ruas, apoiar lideranças que julgava que seriam a favor do povo e até disputei mandatos eletivos e assumir o mandato de Deputado Federal no ano de 2000, já na faixa dos 40 anos de idade, muitos na minha família estranharam e achavam que eu havia entrado na “política como dizem”, naquele momento, mas eu tinha militância desde os 15 anos de idade e já havia militado clandestinamente.