INFLUÊNCIA INDÍGENA NO ARTESANATO BRASILEIRO

INTRODUÇÃO

O artesanato, técnica de trabalho manual artístico não industrializado, é utilizado pelo homem desde o início da sua história. O artesanato, apesar de ser comercializado, não é considerado uma mercadoria, pois carrega valores, crenças e culturas.

O instinto de sobrevivência induziu o homem a produzir bens para proteger-se dos excessos da natureza, para auxiliá-lo na busca de seus alimentos, para sua defesa e, até mesmo para expressar a beleza, elemento primário e intrínseco às criaturas. Assim, o homem expressou sua capacidade criativa e produtiva com o trabalho.

No Brasil, estima-se que o artesanato surgiu na mesma época dos primeiros artesãos, 6000 a.C , período neolítico. Os índios são os mais antigos artesãos e se utilizavam da arte da pintura, da arte com penas e plumas de aves, do trançado e da cerâmica.

É evidente que o artesanato brasileiro tem múltiplas influências, dentre as quais se destacam aquelas das culturas que mais influenciaram a formação da etnia mestiça ainda em formação, o brasileiro. Entretanto, vamos nos restringir a influência indígena no artesanato miscigenado.

Sem maiores observações podemos sentir a influência indígena em nosso artesanato: peças em trançados com fios e fibras; peças em cerâmica; e adornos em penas, sementes e escamas de peixes.

INFLUÊNCIA INDÍGENA

ARTESANATO EM PLUMAS E PENAS

Enquanto para os índios os adornos em plumas e penas são usados apenas em ocasiões especiais, como os ritos, para nós algumas dessas peças como brincos, pulseiras e outros pequenos adornos são utilizados no dia-a-dia e em eventos comemorativos.

Hoje temos, nos grandes centros, empresas decoradoras de ambientes para eventos festivos, que utilizam bastantes adornos em plumas e penas. Da mesma forma, na festa mais conhecida internacionalmente do Brasil, o Carnaval, muitas de suas fantasias e adereços desfilam a presença indígena.

A arte plumária indígena que influenciou nosso artesanato não foi a colagem das penas sobre o corpo, mas a confecção de artefatos com penas para serem utilizados como cocares, colares, brincos, braceletes, diademas, toucas, caudas e mantas.

Quem conhece Belém, capital do Pará, estado da região Norte do Brasil, encontra grande variedade desse artesanato: brincos, leques, ventarolas e outros adornos, em algumas lojas voltadas para o turismo.

ARTESANMATO EM MADEIRA

Nas tribos indígenas, com grande habilidade no trabalho com a madeira, como os índios do alto Xingu encontram-se as influências para os artesanatos de algumas regiões do Brasil.

As motivações para o artesanato do índio brasileiro eram ou o registro de figuras humanas, de mamíferos, aves e peixes, ou a necessidade de instrumentos para o seu viver, incluindo-se instrumentos de percussão e flautas.

Artesanato interessante e de grande elaboração eram as máscaras elaboradas pelos Ticuna. Utilizavam espécie de pano da entrecasca das árvores, que era surrada com vara até que ficasse flexível e macia.

Influenciado por esse saber indígena, presenciamos diversidade de artesanato em madeira em algumas regiões.

Na região Norte, podemos exemplificar com os brinquedos confeccionados a partir da polpa da palmeira conhecida por Miriti e, daí, a denominação brinquedos de miriti. A origem é o artesanato do município de Abaetetuba, vizinho à capital Belém. Sua maior comercialização ocorre durante o Círio de Nossa Senhora de Nazaré, maior festa religiosa dos paraenses.

Outra ilustração da influência indígena no artesanato brasileiro vem da região Norte, com a tradição de produzir cuias do município de Santarém no Pará. Essas cuias são tingidas em cor preta e são decoradas com ornamentos e desenhos.

A região nordeste também é cheia de exemplos: no Piauí, em Pedro II, os bancos ou vasilhames para mantimentos talhados a partir dos troncos de carnaubeiras; no Rio Grande do Norte em Luzia, Ana Dantas e Currais Novos são produzidas as esculturas em madeira e sem pinturas de santos e animais; e em Pernambuco, em Ibimirim, município do sertão localizado a 380 km de Recife, fazem as imagens religiosas em madeira, feitas de troncos de umburana.

ARTESANATO EM TRANÇADO

O artesanato em palha indígena variava conforme a região e as tribos artesãs. As formas, os tipos de palha, o estilo e cuidados na execução eram tão variáveis, que estudiosos podem identificar a região e, em alguns casos, até a tribo artesã.

Os índios utilizam os recipientes de palha como cestos e paneiros, para transporte de víveres e guarda de objetos. Já as esteiras têm as mais diversas utilidades: forrar o leito; como mesa de trabalhos culinários; cobrir alimentos e, até na confecção de máscaras.

A maior ilustração sobre a influência indígena no artesanato trançado brasileiro é o paraense.

A tradição de trançar fibras foi herdada dos índios e está impregnada em quase todos os municípios do Pará. Artesanato muito popular na região, as técnicas da feitura de cestos são passadas de gerações a gerações de artesãos, sobretudo os que vivem ou têm origens no interior do Estado.

De palmeiras como: Jupati, com seus troncos em touceiras; a imensa e solitária Tucumã ; a Guarumã; a Ubuçu (fibra Tururi); e a Miriti, bem como do Cipó de Titica, ou Junco, que se enrola nas árvores da densa floresta amazônica, extraem-se as fibras, matérias primas do trançado paraense.

A partir dessas matérias primas, os artesãos fazem surgir cestas, peneiras, balaios, paneiros, chapéus, jogos de mesa, coberturas para garrafas, leques, bolsas e outros adereços usados na decoração de ambientes, como utensílios de cozinhas e até mesmo como acessórios da moda.

Muito conhecido é o artesanato que utiliza o capim dourado, produto típico da região conhecida como Jalapão, do estado da região Norte, Tocantins. Para a confecção do artesanato é utilizado para a “costura” (nome que se dá à arte de transformar o capim in natura em artesanato) fio conhecido como seda, que é extraído da palmeira Buriti.

Outras ilustrações da influência indígena no artesanato brasileiro são: o trançado em bambu do município de Januária de Minas Gerais, região Sudeste brasileira e localizada na região conhecida como médio São Francisco; e na região Nordeste os trançados de palha, cestarias feitas com trançado de carnaúba, bambu e cipó.

ARTESANATO EM CERÃMICA

O trabalho em cerâmica não foi nem é comum a todos os índios. Mas, toda cerâmica indígena é feita sem a ajuda da roda de oleiro.

Pra ilustrar a influência indígena no artesanato brasileiro, nada melhor do que as duas mais conhecidas: a Marajoara; e a Tapajônica. Nos dois casos os índios artesãos dessas cerâmicas não foram encontrados nem conhecidos pelos colonizadores.

A cerâmica de Santarém, também conhecida como Tapajônica é uma das mais belas expressões da arte da pré-história brasileira e talvez, a mais antiga da Amazônia.

De acordo com os estudos da arqueóloga Anna Roosevelt, a cerâmica tapajônica é de fato o artesanato mais antigo do povo da região do Tapajós, pois vários testes realizados pela pesquisadora nos EUA comprovaram que as peças foram produzidas há mais de seis mil anos.

Desenvolvida entre os índios Tapajós que habitavam as margens do rio Tapajós e os herdeiros e, provavelmente, descendentes destes povos primeiros e hábeis artesãos, supostamente descendentes dos Maias ou dos Incas.

Estima-se que desde 1200 a.C , os habitantes do Tapajós já faziam peças como vasos, outros utensílios necessários e estatuetas.

A cerâmica Tapajônica lembra o estilo barroco e a antiga arte chinesa, devido os detalhes de suas peças cujas formas eram ou humanas ou de animais.

A cerâmica de Santarém continua encantadora e bela, seja nas peças antigas expostas no Centro Cultural João Fona, ou nas produzidas pelas mãos de talentosos artesãos contemporâneos.

A cerâmica Marajoara é outra bela expressão artística de povos mais antigos da Amazônia.

A fase mais estudada e conhecida da produção da cerâmica marajoara compreende os anos entre 600 e 1200. Estudos arqueológicos mostram que a região da Ilha de Marajó, no Pará, foi ocupada há cerca de dois mil anos por agricultores e ceramistas oriundos dos Andes.

Muito sofisticadas, as peças em cerâmica marajoara são altamente elaboradas, acabamento detalhado em baixo ou alto-relevo, e técnica de ornamentação variada. Os objetos utilitários ou decorativos possuíam formas semelhantes ao homem ou eram representações de animais.

Os índios da Ilha de Marajó utilizavam o barro para a confecção e, para aumentar a resistência das peças, misturavam o barro com outras substâncias minerais ou vegetais, como pó de pedras ou conchas, cinzas de cascas de árvores ou de ossos e o cauixi (esponja gelatinosa que recobre as raízes submersas de árvores).

No caso de dar cores às cerâmicas utilizavam o englobe (barro em estado líquido) com pigmentos extraídos de alguns vegetais.

A decoração das cerâmicas marajoara era composta por traços gráficos harmoniosos e simétricos, cortes, aplicações, dentre outras técnicas.

Depois de prontas, as peças eram queimadas em fogueiras ou buracos e eram finalizadas com breu do Jutaí, material que proporcionava um efeito brilhoso semelhante ao do verniz.

Atualmente, as peças de cerâmica marajoara podem ser encontradas em museus pelo Brasil e em Nova York e Genebra. O maior acervo encontra-se no Museu Emílio Goeldi, em Belém, no Pará.

Na cidade de Icoaraci, próxima a Belém, diversos artesãos descendentes de índios tentam preservar e manter a tradição marajoara, fabricando réplicas da cerâmica, ajudando, assim, a divulgar os trabalhos indígenas e a preservar uma das maiores riquezas da cultura do Norte brasileiro, um dos maiores patrimônios culturais do Brasil, mundialmente reconhecido.

COMENTÁRIO FINAL

Outra vez é importante lembrar que o mestiço brasileiro a caminho de etnia síntese, resulta do encontro de três culturas principais a do nativo indígena, do colonizador ibérico principalmente e a do negro africano trazido como escravo. Não podemos esquecer que algumas regiões do sudeste e do nordeste tiveram franceses e holandeses como colonizadores.

A famosa renda de bilro do Ceará, os bordados da região Centro-oeste, os bonecos de barro da região Nordeste e do nordeste de Minas Gerais tem maior presença da cultura do colonizador e da cultura africana respectivamente.

FONTES:

basilio.fundaj.gov.br

brasil.gov.br

catolicadigital.ucg.br

csartecapimdourado.com.br

hak.com.br

handcraftbrazil.com

programaartebrasil.com.br

J Coelho
Enviado por J Coelho em 29/04/2014
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