NEM O BRASIL MUDOU TANTO ASSIM
No aniversário de meio século do golpe militar, estamos assistindo na mídia reportagens tentando desmistificar o acontecimento. Fica a impressão que tudo de ruim no Brasil aconteceu no período da ditadura.
Eu não defendo ditaduras e nem ditadores. Apenas faço uma observação. Desde que a nossa acabou, ela tem sido contada apenas de uma perspectiva. Quando isso acontece não é nada saudável para a História.
Com um olhar mais aguçado, vamos perceber que o Brasil não mudou tanto assim com o fim da ditadura. Se um estado democrático e de direito pouco robusto está de volta, os nossos problemas continuam os mesmos. Enquanto alguns ainda se apoderam do poder, a sociedade vive seus dilemas e suas necessidades. Esquecida pelos governantes.
Saiu da boca de José Sarney uma frase emblemática. Ele disse que “os militares ficaram muito tempo no poder”. Poderíamos dizer que já estavam desdentados e sarnentos, e mesmo assim não estavam dispostos a largar o osso.
E o que dizer do próprio José Sarney? Ele é o exemplo cuspido e escarrado que o país não mudou muita coisa. Basta uma rápida olhada na sua biografia, e perceberemos que largar o osso nunca foi com ele. Um partido político chamado “Arena” lembra alguma coisa? Sarney foi senador por esse partido de 1970 a 1985. O auge da ditadura.
Em plena democracia, o jornal O Estado de São Paulo passou um longo tempo censurado pela família Sarney. Mais assustador ainda, é saber que os militares deixaram o poder a vinte anos, e José Sarney continua mandando no Brasil. Quase desdentado, e sem nenhuma vontade de largar o osso. Então alguma coisa continua muito errada.
Saindo da política, a pesquisa do IPEA desmitifica de vez, o tamanho da hipocrisia da sociedade brasileira. O quanto ela não consegue caminhar para frente. E se a dobradinha pouca roupa e estupro fez a mídia tremer, mostra a cegueira de todos quando o assunto é a situação da mulher brasileira. Será que acreditavam num conto de fadas?
Redescobriu-se que ainda vivemos na era no “machismo xiita”. Espantosamente apoiada por muitas mulheres. O instinto possessivo se ser o “dono” está enraizado na sociedade como uma erva daninha. Que não será extirpada com indignação.
Políticos que não largam o osso, juntamente com a visão de que a mulher é um objeto para ser usado, são males da mesma doença que acomete a sociedade brasileira.
E onde entra a hipocrisia na História? Bem, geralmente é a vizinha, ou a filha da vizinha que mostram as bundas nos vestidos curtos, e que merecem ser estupradas. Infelizmente como mostrou a pesquisa, os hipócritas são a maioria.