Mãos limpas já!

Eu cheguei a colocar o título de "Magistrados e prostituras" neste artigo. Depois, cedendo aos pedidos de minha mulher, decidi titulá-lo do jeito que está.

Pois eu fico enojado ao ler jornais e assistir tevê e observar como a corrupção atingiu patamares insuportáveis e incontroláveis no Brasil. O antigo Barão de Itararé costumava dizer, em sua verve histriônica – e meu pai repetia – que “onde a gente menos espera, ali mesmo é que não sai nada”.

Pois na nossa pátria amada saem coisas escabrosas de onde jamais se poderia esperar deslizes. Corrupção, suborno, superfaturamentos e avanços nos direitos de muitos passou a ser a coisa mais natural do mundo, a ponto de muitos não se assustarem mais. O perigo é perdermos nossa capacidade de indignação.

Como disse Alexandre Garcia, um dia desses, errar é humano, mas não reagir a uma enxurrada de erros é uma criminosa omissão. O suborno destrói a confiança da sociedade. Trocar favores e benesses por dinheiro é a mesma práxis que movimenta a prostituição. A “mulher da vida” entrega o corpo para prover sua subsistência. E o Magistrado, como um desses supostamente envolvidos em suborno, negociatas e vendas de sentenças, que ganha um salário de 23 mil?

A prostituta se vende para sobreviver; o homem público, exageradamente remunerado, se vende porque é um ambicioso safado. Quem é o menos réprobo? A prostituta ou ele? Eu posso falar e criticar porque nao tenho rabo. Embora tenha sido gerente de banco por 30 anos, vivo apenas de minha aposentadoria, a renda de alguns livros, com um único imóvel e um carro popular. Se fosse safado estava rico.

Os que me lêem sabem que – por causa de minhas convicções cristãs – tenho aversão à pena de morte. Mas eu já ando mudando de opinião. Acho que cabe pena de morte, antes do bandido, do traficante e do seqüestrador, àqueles que com altos salários e invejáveis status, pervertem a justiça e estupram a cidadania e a dignidade da sociedade.

Quem rouba da merenda escolar (crianças passam fome), defrauda a Previdência (idosos morrem nas filas), superfatura aquisição de bens públicos (prédios, computadores, móveis, serviços), julga a favor dos ricos contra os pobres (venda de sentenças), cobra um plus sobre consultas e procedimentos do SUS, quem se vende, esses deviam enfrentar o “paredão”.

O suborno começa pela cervejinha ao guarda, para afrouxar a multa. Depois vem a propina para o gerente do banco agilizar o processo. Mais tarde, envolve uma quadrilha que frauda vestibulares. O que esperar de um futuro profissional que entrou na universidade sob fraude?

Quando achávamos que a corrupção era setorizada, vamos encontrá-la em um Ministro do mais alto Tribunal do país. Será que é só esse? Será que é só lá? O que esperar depois disso? A corrupção, qual um câncer, devora os recursos públicos. Os projetos se esboroam, muitas obras deixam de ser feitas, porque tudo já vem “mordido”.

Nosso país precisa, urgentemente, de uma “operação mãos limpas”. Quem se habilita? Vamos agir ou deixar assim?

O autor é Teólogo leigo, filósofo, 65 anos, Doutor em Teologia Moral

Antônio Mesquita Galvão
Enviado por Antônio Mesquita Galvão em 04/05/2007
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