Notável comparação
Tema sempre presente nas questões do intercâmbio com os espíritos é o fato da identidade dos comunicantes. Há dois extremos: os que buscam extrair ensinamentos para a própria vida, sem se preocuparem com o nome com o qual se apresentam os espíritos e os que querem a todo custo saber quem são os espíritos comunicantes. Já aprendemos que a questão do nome não é importante. Vale o ensinamento trazido, que deve ser peneirado pelo bom senso, pela lógica e pelo bem que estimule.
Mas, como sempre há gente buscando confirmação de nomes, eis duas comparações notáveis apresentadas pelo Codificador Allan Kardec na REVISTA ESPÍRITA* (tomo I - julho de 1858 - edição IDE), cuja consulta por aqueles que estão envolvidos com o intercâmbio mediúnico, seria de muita validade em suas experiências:
Suponha que num quarto vizinho ao que você está, estejam vários indivíduos que você não conheça, não possa ver, mas que ouvis perfeitamente; não seria fácil reconhecer, pela sua conversação, se são ignorantes ou sábios, homens honestos ou malfeitores, homens sérios ou estouvados, pessoas de boa companhia ou grosseiras?
Suponha também que um homem se apresente a você usando um nome de distinto literato; diante desse nome, nossa postura será do devido respeito ao mérito da pessoa, mas se ele se exprime como um homem vulgar, será fácil reconhecer o engano e seremos levados a expulsar o impostor.
As duas comparações apresentadas pelo Codificador indicam o que também ocorre com os espíritos. São reconhecidos pela sua linguagem. Os espíritos superiores usam linguagem digna, em harmonia com a sublimidade dos pensamentos. Grosseria e baixeza de expressões pertencem aos espíritos inferiores. E esses mesmos espíritos inferiores, sem escrúpulos, ousam impor idéias, tomam nomes falsos para conquistarem confiança, induzem ao erro. São verdadeiramente impostores.
E talvez muitos perguntem: Mas como? Como Deus permite? Como é possível isto? Podemos ser enganados pelos espíritos?
Ora, basta uma consulta à ESCALA ESPÍRITA (em O LIVRO DOS ESPÍRITOS) e também ao O LIVRO DOS MÉDIUNS e mesmo aos diversos exemplos publicados pela REVISTA ESPÍRITA, para entender que os espíritos estão em diferentes estágios evolutivos e essas diferenças se apresentam de maneira marcante em seus intercâmbios com os homens. Por isso é preciso estudar, conhecer quem são, como agem os espíritos, para se evitar as fraudes, enganos e mesmo esses espíritos impostores. Vemos que muita gente se ilude, fica aceitando cegamente tudo o que dizem os espíritos, sem perceber o engodo, o abuso de espíritos que somente desejam explorar pelo prazer de enganar...
Sugerimos ao leitor consultar o texto apresentado pelo Codificador, com o título ESPÍRITOS IMPOSTORES (conforme indicação acima), onde (transcrevemos a introdução a um diálogo) "(...) Nesse diálogo, onde o ridículo disputa com o ignóbil, é impossível equivocar-se sobre a qualidade dos interlocutores, e é preciso convir que os espíritos que o fizeram, tomaram bem pouca precaução para se mascararem; porque, qual é o homem de bom senso que poderia, um só instante, supor que o padre Ambroise e Clément XIV pudessem se abaixar a tais trivialidades, que se parecem a um espetáculo teatral? Comediantes da mais baixa categoria, que parodiassem dois personagens, não se exprimiriam de outro modo.
Trata-se de importante diálogo. Uma consulta ao texto abre boas perspectivas à reflexão sobre o tema.
Grupos mediúnicos precisam estar atentos às investidas desses espíritos, ainda empolgados com a própria ilusão. Espanta-nos o raciocínio pensar que com tanto material a estudar e pesquisar, ainda se perca tempo para tudo buscar de espíritos nem sempre confiáveis, em grupos que se perdem em intercâmbios frívolos. Ora, o homem tem que formar sua própria consciência, lutar por si mesmo. É claro que contará com a ajuda dos Benfeitores, que nunca nos abandonam, mas o esforço pessoal de crescimento jamais poderá ser dispensado. Achar que os espíritos farão por nós o que temos que fazer é ilusão barata. Ou buscá-los a todo instante para perguntas pueris e trivialidades do cotidiano é no mínimo infantil. Os espíritos estão ocupados com afazeres mais importantes que dar atenção às nossas infantilidades.
Isso não invalida o valor extraordinário das reuniões mediúnicas, de socorro e aprendizado, vibrações e amparo, estudo e trabalho. Elas são imprescindíveis, mas não podem ser transformadas em consultórios de petitórios sem fim. Sua finalidade é outra. Uma reunião mediúnica espírita, séria, tem outros valores a cuidar. E isto está bem definido nas funções e atividades de um Centro Espírita.
O que nos preocupa, isto sim, é a multiplicação de grupos mediúnicos caseiros, nem sempre comprometidos com a Causa Espírita. O que se busca, é o mero contato com os espíritos, sem outras responsabilidades com a Causa do Evangelho, para os intercâmbios em causa própria, verdadeiros redutos para os espíritos impostores, que sempre encontram em nossos desequilíbrios as portas abertas para se aproveitarem e enganarem à vontade. Isso dizemos pois que nem sempre conseguimos manter nossas casas protegidas com o valor da prece, da vigilância, da harmonia. Se no Centro, o desafio já é enorme, imagine nos lares, onde todo tipo de onda mental está presente, especialmente com as trazidas pelas notícias e novelas, deprimentes e estimuladoras de ideais nem sempre nobres.
Por tudo isso, a prudência espírita vem de encontro, para prevenir, ensinar, explicar. Uma vez mais, o estudo da Doutrina Espírita transparece com toda clareza. Não nos iludamos. O intercâmbio com os espíritos é algo sério, exige responsabilidade e conhecimento. Em todos os casos, a palavra é discernimento, bom senso.