SÓ DEPOIS DO CARNAVAL

Estamos na semana em que o Brasil está hipnotizado pelo carnaval. Nada acontece no país além da folia. Das páginas de internet aos canais de televisão, não existem outros assuntos.

Na internet eu navego entre a Globo.com, e UOL. Na TV por assinatura, a Globonews é o canal que uso para ficar bem informado. Infelizmente, na semana do carnaval isso deixou de ser possível. Só os russos e os ucranianos tiveram a capacidade de abrir brechas entre as notícias carnavalescas.

Chegou-se ao cúmulo de se medir o tamanho do tapa-sexo que a foliã usava. Uau! Infelizmente eu não pude usar a minha régua, mas ele media três centímetros. Só o tamanho da hipocrisia carnavalesca é maior que o tapa-sexo, quando proíbe a nudez total nos desfiles. Com tapa-sexo ou sem ele, a nudez está lá. Abaixo o tapa-sexo!

O tapa-sexo me fez lembrar-se dos filmes censurados. Um dos mais famosos foi “Laranja Mecânica” e a famosa tarja (bolinha preta) que teimava em fugir do alvo. Um tapa-sexo de outros tempos. E pasmem, vi o filme semana passada, no meio da tarde sem as bolinhas pretas.

Por mais que ele resista, o carnaval sempre acaba. Sairemos do hipnotismo para a vida real. Este ano pelo menos até o início da Copa do Mundo. Quando entraremos novamente num estado hipnótico.

Teremos algum tempo para refletir se o julgamento do mensalão foi um ato político ou não. Se a pizza que saiu do forno tinha o formato de uma estrela. Por quanto tempo o status de super-herói de Joaquim Barbosa resistirá. Ou ele próprio.

Perguntaremos dos motivos da economia brasileira não deslanchar em um crescimento consistente. Dos legados da Copa do Mundo que ficarão no papel e nas promessas. Do balançar de Dilma Rousseff nas pesquisas. E por onde andam os outros candidatos.

Perguntaremos se os protestos de rua já nasceram mortos. O jornal A Folha de São Paulo, foi atrás de uma especialista do exterior, para saber o que deu de errado nos nossos protestos. A resposta foi simples e direta. Protestos não resistem sem líderes. E talvez, o último grande líder político brasileiro foi Getúlio Vargas. O resto não passou de caricaturas.

O Brasil só dará uma guinada de 360 graus, quando as mudanças acontecerem no topo da pirâmide. O fim melancólico do julgamento no STF deixou claro que essas mudanças jamais acontecerão por vontade política. Chegamos num estágio em que somos reféns dos nossos representantes. Nossa democracia sofre de uma doença crônica: Legislar em causa própria. Isso não se acaba com um simples voto.