A ILUSÃO CIENTIFICISTA
"A ciência nunca pode explicar
nenhum princípio moral"- Steven Weinberg
(Folha de S. Paulo - Mais!, de 24/06/2001)
Ninguém de bom senso deixa de reconhecer o valor da ciência, nem nega que ela seja um instrumento precioso para a civilização. A ciência e as suas conseqüências técnicas, inegavelmente, permitem a libertação progressiva do homem. A incurável fraqueza da ciência é que ela não dirige a sua própria aplicação. A história recente nos mostrou a ciência sendo usada para a escravidão e até para o extermínio.
Escolher é para o homem um imperativo, pois, mesmo não escolher já é uma escolha. Não é a ciência que determina nossa ação ou inação: ela só dita normas condicionais.
Foi a ilusão cientificista e não a ciência que confiou num progresso ilimitado que daria ao homem um conhecimento sem mistérios e o conduziria, necessariamente, à felicidade.
O verdadeiro cientista sabe que a realidade é maior do que a imagem científica que dela podemos ter. A realidade, como fato de experiência, encerra amor, beleza, êxtase místico, intimações de divino. Parafraseando Hamlet: “Há mais coisas no céu e na terra do que um cientificista pode sonhar”.
Por vezes, até cientistas consagrados têm um surto de cientificismo. Foi o que aconteceu com os signatários do Apelo de Heidelberg, tornado público na mesma ocasião em que se realizava no Rio de Janeiro a Eco-92. Tal “Apelo” denunciava a ecologia, que é uma ciência firmemente ancorada nas leis da termodinâmica, “como a emergência de uma ideologia irracional que se opõe ao progresso industrial e científico”.
Diz a primeira lei da termodinâmica que a quantidade de energia no universo é constante e a segunda diz que a energia útil diminui. *
Desconhecer essa realidade acarreta inúmeros problemas de degradação ambiental e é ingênuo querer solucioná-los pelo progresso tecnológico, quando é a atual aceleração deste que contribui para agravá-los.
* Um exemplo fácil: o gás que se queima no fogão não desaparece do universo, mas não volta para dentro do bujão para ser queimado novamente.